segunda-feira, 31 de julho de 2017

Retrato de um santo















O verdadeiro retrato de santo Inácio de Loiola

Enfermo Inácio e já nos últimos dias da vida, veio visitá-lo seu grande devoto o eminentíssimo Cardeal Pacheco; e trouxe consigo um pintor insigne, o qual de parte donde visse o santo, e não fosse visto dele, a furto de sua humildade o retratasse.
Põe-se encoberto o pintor, olha para Santo Inácio, forma ideia, aplica os pincéis ao quadro, e começa a delinear-lhe as feições do rosto. Torna a olhar (cousa maravilhosa) o que agora viu já não era o mesmo homem, já não era o mesmo rosto, já não era a mesma figura, senão outra muito diferente da primeira. Admirado o pintor, deixa o desenho que tinha começado, lança segundas linhas, começa segundo retrato e segundo rosto. Olha terceira vez (nova maravilha) o segundo original já tinha desaparecido, e Inácio estava outra vez transformado com novo aspeto, com novas feições, com nova cor, com nova proporção, com nova figura. Já o pintor se pudera desenganar e cansar, mas sendo o objeto o mesmo, nunca pode tornar a ver o mesmo que tinha visto, porque quantas vezes aplicava e divertia os olhos tantos eram os rostos diversos e tantas a figuras novas em que o santo se lhe apresentava. Pasmou o pintor, e desistiu do retrato, pasmaram todos, vendo a variedade dos desenhos que tinha começado…
Santo Inácio nunca teve dois rostos, quanto mais tantos. Foi cortesão, foi soldado, foi religioso, e nunca mudou de cores, nem de semblante. Serviu em palácio a el Dei D. Fernando, o Católico, e a sua gala maior era trajar sempre da mesma cor, e trazer o coração no rosto. Os amigos viam-lhe no rosto o amor; os inimigos a desafeição. O príncipe a verdade, e ninguém lisonja. Quando soldado nunca entre as balas mudou as cores. Na comédia e na batalha estava com o mesmo desenfado.
Ninguém pode retratar a Santo Inácio. Mas só Santo Inácio se retratou a si mesmo. E qual é o verdadeiro retrato? Qual é a vera-efígie de Santo Inácio? A vera-efígie de santo Inácio é aquele livro de seu Instituto que tem nas mãos. O melhor retrato de cada um é aquilo que escreve. O corpo retrata-se com o pincel, a alma com a pena.
A primeira imagem de Deus é o seu Verbo gerado; a segunda o Verbo escrito. O Verbo gerado é retrato de Deus ad intra. O Verbo escrito é retrato de Deus ad extra.
Santo Inácio nasceu fidalgo, foi cortesão, foi soldado, foi mendigo, foi peregrino, foi perseguido, foi preso, foi estudante, foi graduado, foi escrito, foi religioso, foi pregador, foi súbito, e até pecador foi em sua mocidade, depois arrependido, penitente e santo. Para quê? Para que todos achem tudo em santo Inácio, O fidalgo achará em Santo Inácio um ideia de verdadeira nobreza, o cortesão os primores da verdadeira polícia; o soldado os timbres do verdadeiro valor, o pobre achará em Santo Inácio que o não desejar é a maior riqueza; o peregrino que todo o mundo é pátria; o perseguido que a perseguição é o carácter dos escolhidos; o preso que a verdadeira liberdade é a inocência; o estudante achará em Santo Inácio o cuidado sem negligência, o letrado a ciência sem ambição, o pregador a verdade sem respeito, o escritor, a utilidade sem afeite. O religioso achará em Santo Inácio a perfeição mais alta, o súbito a obediência mais cega, o prelado a prudência mais advertida, o legislador as leis mais justas. O mestre de espírito achará em Santo Inácio muito que aprender, muito que exercitar, muito que ensinar, e muito para onde crescer. Finalmente o pecador (por mais metido que se veja no mundo e nos enganos de suas vaidades) achará em Santo Inácio o verdadeiro norte de sua salvação, achará o exemplo mais raro da conversão de vida, achará o espelho ais vivo da resoluta e constante penitência: e achará o motivo mais eficaz da confiança em Deus, e na sua misericórdia para pretender, para conseguir, para perseverar, e para subir e chegar ao mais alto cume da santidade e graça com a qual se mede a Glória.
(Pe. António Vieira, Sermão de Santo Inácio, Col de Sto Antão, Lx 1669)


quarta-feira, 26 de julho de 2017

Avós do Pe. Dehon


No dia dos avós e de São Joaquim e Santa Ana, fazemos memória dos avós do Pe. Dehon.
Dos seus avós maternos apenas sabemos os nomes e o ano de nascimento: Pedro José Vandelet, nascido em 1771, cervejeiro em Nouvion, casado com Maria Teresa Sofia Fournier, nascida em 1792.
Dos avós paternos sublinhamos a boa relação e a admiração do Pe. Dehon para com eles e o apoio da avó à sua vocação sacerdotal. Carinhosamente o Pe. Dehon chamava-lhes Papá Dehon e Mamã Dehon.













Casa da Família Dehon em La Capelle

O Avô Dehon ou Papá Dehon
Hipólito Luis Dehon nasceu em 1781. Casou com Henriqueta Ester Gricourt e para além de Júlio Dehon teve mais 5 filhos.
Foi chefe dos correios e prefeito ou regedor de La Capelle e como tal foi ele quem fez o registo de nascimento do seu neto Leão Dehon. Faleceu em 1862.
O seminarista Leão Dehon recorda-o numa carta, repetindo, 4 anos depois do seu falecimento, uma expressão que lhe era muito querida e que demonstra o seu otimismo e boa disposição: Tudo vai bem.
“Rome 19 juin 1866 Chers parents, J'aime beaucoup commencer mes lettres par ces mots qu'affectionnait papa Dehon: tout va bien. Tout va bien à Rome depuis quinze jours…” (19.06.1866 Destinataire: À ses parents Inventaire: 218.21 AD: B18/9.2.21 Ms autogr. 4 p. (21 x 13) LD 49)

A Avó ou Mamã Dehon
Henriqueta Ester Gricourt, casada com Hipólito Luís Dehon. Apesar de nas suas cartas o seminarista Leão Dehon nunca se esquecer de lhe enviar saudações, apenas sabemos do seu apoio à sua vocação sacerdotal. Faleceu em 1874. É provável que tenha sido, não a mãe, mas sobretudo esta avó paterna a conservar as cartas do Pe. Dehon à família. De facto, depois da morte desta, no fim de abril ou princípio de maio de 1874, são mais raras as cartas existentes do Pe. Dehon à família.
O Pe. Dehon agradece-lhe ter sempre apoiado a sua vocação, apesar da oposição dos seus pais:
“Rome 6 décembre 1865 Chers parents, Je voudrais aller avec ma lettre passer quelques instants avec vous pour dissiper les inquiétudes qui percent dans vos lettres et pour vous rassurer entièrement. Dites à maman Dehon qu'elle avait bien raison quand elle disait: Il sera heureux si c'est sa vocation (06.12.1865 Destinataire: À ses parents Inventaire: 218.07 AD: B18/9.2.7 Ms. autogr. 4 p. (21 x 13) LD 36)






















Brasão da Família Dehon








terça-feira, 25 de julho de 2017

Caminho de Santiago















Na Festa de Santiago de Compostela, quero copiar o apóstolo que foi o primeiro a avançar para o martírio e aquele que melhor nos ensina a caminhar, não como turistas, mas como peregrinos... seguindo a Jesus Cristo.

Turista ou peregrino

Turista
Vai com o relógio na mão, não quer perder nada. Uma via-sacra aqui, uma procissão ali, Prova muitas coisas, mas não experimenta nada.
Peregrino
Esquece as pressas do relógio e a agenda. Vive o momento presente como se fosse o único e último. Saboreia cada segundo ao lado de Jesus deixando pegadas no seu coração.

Turista
Tem tudo controlado: seguros em caso de acidente, o livro de reclamações. Tudo controlado antes de começar a caminhar. As costas bem protegidas. Confia muito mais nuns papéis do que no Senhor.
Peregrino
Não sabe o que vai deparar no caminho. Vai de surpresa em surpresa, pois sabe que tem o seguro mais fiável que é Jesus Cristo. A seu lado nada de mal pode temer.

Turista
Coleciona momentos, factos, lembranças, como todos os anos, irão passar a um álbum esquecido depois de uma semana.
Peregrino
Vive experiências que deixam uma profunda pegada, sabendo que mudará a sua vida. Guarda todas estas coisas no seu coração.

Turista
Paga e por isso exige. Se levar a cruz pedirá recompensa. Se assistir a uma celebração, esperará interesse.
Peregrino
Dá gratuitidade, descobre que o amor e o serviço são valores que quanto mais gasta mais tem e mais interesse recebe em forma de felicidade.

Turista
Leva guarda-chuva para não se molhar, leva armadura para que não o toque o coração, leva bilhete de volta, como se tratasse de umas simples férias iguais às outras.
Peregrino
Empapa-se até aos ossos e coração. Ama, sofre, sonha com o outro. Está em atitude aberta, disposto a que Jesus o toque no coração, sentindo na sua vida a autêntica felicidade.

Turista
Ao chegar à meta acaba o caminho, fecha o livro, apaga o GPS e volta à vida de antes como se nada tivesse sucedido, como se a ninguém tivesse encontrado no caminho da vida.
Peregrino
A meta encontra-se em cada passo do caminho, em cada experiência, em cada encontro. Faz do caminho, vida e encontro com Jesus e com os irmãos, sacramentos de amor.


















Texto de autor desconhecido e fotos de
Blogs.periodistadigital.com
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quarta-feira, 19 de julho de 2017

Sermão visual

4ª feira - XV semana comum

Eu Te bendigo. Ó Pai. Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos.





















Deus revela-se a Moisés
Ele é JAVÉ - aquele que é

Deus não é ausente, mudo, cego, surdo, passivo, isolado ou desconfiado.

- Deus mostrou-se no meio da sarça ardente … Deus está presente
- Deus chamou por Moisés e disse-lhe… Deus fala
- O clamor dos filhos de Israel chegou até mim… Deus ouve
- Vi também a violência que os oprime… Deus vê
- Vou enviar-te para que tires… Deus compromete-se
- Eu estarei contigo… Deus colabora
- Quando tirares o povo do Egipto, adorareis a Deus aqui… Deus confia



terça-feira, 18 de julho de 2017

Lenda das 5 Badaladas

Memória do Beato Frei Bartolomeu dos Mártires

A lenda que vou contar tem como cenário a bela cidade de Viana de Castelo, e está ligada à história maravilhosa de D. Frei Bartolomeu dos Mártires. Na sua velhice, Frei Bartolomeu resolvera recolher-se ao mosteiro de S. Domingos, em Viana, mosteiro que ele fundara à custa de um esforço sem limites e de uma vontade de antes quebrar que torcer. Sentindo-se cansado, já perto da morte, Frei Bartolomeu dos Mártires preferiu aos tumultos do mundo o sossego e a simplicidade da sua cela. E é nesse sossego que nasce a lenda que vou contar. 
Na sua cela, Frei Bartolomeu não se cansava de implorar ao Senhor: 
— Ó meu Deus! Se não valeis depressa a este mundo desvairado, os homens perdem-se, os homens enlouquecem! A guerra, para eles, acabou por se tornar um hábito. Acabai com esse flagelo, Deus meu! Chamai-os à razão! Mostrai-lhes mais uma vez o caminho da Verdade! Eles hão-de acabar por compreender. 
Mas os homens afastavam-se cada vez mais desse caminho. As lutas entre irmãos do mesmo sangue, erguidas pela ambição do poderio, tornavam-se mais frequentes e mais sinistras. 
Ora aconteceu que nas imediações do convento, a caminho do rio, um pescador vindo de longe veio estabelecer ali a sua companha. Esse pescador era viúvo e tinha apenas uma filha.
Numa das suas visitas habituais ao bairro dos pescadores — levando-lhes o conforto espiritual e todo o auxilio que podia arrancar às suas modestas posses — Frei Bartolomeu dos Mártires entrou, também, na casa desse velho pescador. Com o sorriso nos lábios, saudou-o: 
— Deus vos abençoe, bom homem! Posso entrar? 
O pescador olhou o frade com dureza. 
— Para que pede licença, se entra antes de ouvir a resposta? Na minha terra bate-se primeiro à porta!  
Frei Bartolomeu não se amofinou. Sorriu com doçura e humildade. 
— Desculpai... mas aqui os costumes são outros... E ninguém faz cerimónia com um pobre frade como eu. 
Parou no meio da casa e perguntou: 
— Dais licença que me sente? Estou velho e as minhas pernas estão gastas... Já não aguento muito tempo de pé... 
O pescador não respondeu logo. Olhou o frade com atenção. Depois gritou para um outro aposento: 
— Eh, rapariga! Traz uma cadeira para este frade. Ele quer sentar-se. 
Uma rapariga bastante jovem e de aspecto decidido apareceu. A sua voz era agreste. 
— Está aqui um banco. É o que se pode arranjar. Isto não é casa de ricos. 
Sem se perturbar, Frei Bartolomeu respondeu com o mesmo sorriso complacente: 
— Eu sei... eu sei... Por isso vim até aqui... 
Ela franziu as sobrancelhas: 
— E porquê, aqui? 
— Porque os ricos não precisam das minhas visitas. 
Rude, o homem replicou: 
— Nem nós, apesar de sermos pobres. Basta-nos o nosso trabalho. 
A jovem apoiou a opinião do pescador: 
— Tem razão, meu pai! Não é com palavras que a gente se governa. E com isto me vou.
Tenho a roupa à minha espera. E tem que ficar ainda hoje enxuta. 
Uma sombra de tristeza anuviou a expressão de Frei Bartolomeu, que se apressou a dizer. 
— Esperai, não vos ides embora. Gostava tanto de conversar com os dois! 
Sempre ríspida, a rapariga retorquiu: 
— Mas nós é que não temos tempo para conversas. E para mais, conversas que não nos interessam... 
— Que sabeis disso? 
— Ora! Sei que o trabalho não pode esperar! 
Frei Bartolomeu voltou a sorrir. 
— Se Deus quiser... ficai sabendo que o vosso trabalho se despachará a tempo e horas. 
Ela soltou uma gargalhada que soou falsa. 
— Era o que faltava agora! Deus vir ajudar-me a lavar e a enxugar a roupa! 
E num trejeito de desafio: 
— Eu já não vou nessas patranhas, senhor padre!... 
O pescador achou por bem intervir para pôr cobro à conversa. 
— Olhe, se vem cá com a mania de nos levar à igreja, engana-se redondamente. Isso acabou para nós há muito tempo! 
Assombrou-se o rosto do pescador. Ficou mais fechada a expressão da rapariga. O frade ficou alerta. E quis saber: 
— Disseste... que isso já acabou? 
A jovem, menos ríspida, esclareceu: 
— Sim, há muito tempo... quando a minha mãe morreu. 
Houve um pequeno silêncio que o santo frade respeitou. Depois, numa voz cariciosa, retomou a palavra: 
— Compreendo a vossa dor. Não há nada na Terra que possa substituir o amor de um ente querido, principalmente o amor de mãe! Mas... dizei-me: como foi que ela morreu? 
O pescador voltou a mostrar-se desabrido. 
— Como foi? Pergunte ao seu Deus! Ele é que lhe pode responder. Ele é que a matou! 
Frei Bartolomeu abriu os olhos. Ia responder à afronta. Mas já a rapariga, chorando, exclamava: 
— E tanto que ela acreditava n’Ele, tanto! Não se deitava nem se levantava sem lhe rezar as suas orações. E afinal... afinal… para quê? 
O frade lembrou, na sua voz serena: 
— Deus sabe o que faz, meus filhos. Se a chamou para seu lado, foi porque ela o merecia. 
Num eco, o pescador começou desfiando o seu rosário de recordações.
— Nunca mais esquecerei essa noite! Fizemos tudo o que era possível para a salvar.
Rezámos... rezámos... sei lá quantas vezes... Pedimos a Deus... pedimos a todos os santos... Fiz promessas... Mas nada! Ela morreu! 
E numa súbita revolta: 
— Ouviu bem, seu coruja? Ela morreu, apesar disso tudo! Desde aí nunca mais quis ouvir falar em Deus! Só conto com os meus braços, o meu trabalho e a minha filha! 
A rapariga pareceu afligir-se. 
— Pai! Não esteja a falar com tanta exaltação! Isso faz-lhe mal! 
E voltando-se para Frei Bartolomeu: 
— O senhor quer mais alguma coisa de nós? Se não quer... vá-se embora! Já ouviu o bastante. Nesta casa não há lugar para Deus! 
O bom do frade empalideceu, mas continuou aparentemente calmo. Levantou-se e disse, sereno: 
— Vou-me embora, sim. Não os quero afligir mais com a minha presença. Mas pedirei a
Deus que vos ajude... que vos encaminhe... 
E sem esperar resposta, Frei Bartolomeu saiu da casa do pescador. 
Algum tempo passou. Frei Bartolomeu não esquecia o pobre marítimo e a sua filha, tão atormentados pela perda de um ente querido. Orava por eles dia e noite. Fizera mesmo várias tentativas para voltar a visitá-los mas dessas vezes nem consentiram na sua entrada. Recusaram mesmo receber qualquer esmola, num assomo de orgulho desmedido. E bateram-lhe com a porta na cara! 
Desde esse momento, Frei Bartolomeu dos Mártires não mais procurou a casa do pescador revoltado. Mas continuava pedindo a Deus por ele e pela filha, nas suas orações diárias. 
Certo dia de Inverno rigoroso, o pescador fez-se ao rio com mais quatro companheiros. Sem quase darem por isso, o barco, levado por medonho temporal, começou a afastar-se e a entrar no oceano. O mar estava tenebroso e em terra todos temiam pela sorte dos cinco homens.
Quando a filha do pescador se deu conta do perigo, correu de porta em porta a suplicar que fossem acudir ao pai. Mas ninguém se atrevia, com um temporal assim, a afrontar o oceano. Então, como último recurso, ela subiu as escadas do convento de S. Domingos. Bateu à porta. Quando a entrada do convento lhe foi franqueada, ela pediu, com voz repassada de amargura e de cansaço: 
— Preciso falar com aquele frade velhinho… aquele frade que costuma visitar os pescadores... 
Levaram-na a presença de Frei Bartolomeu dos Mártires. Quando o avistou correu para ele, olhos rasos de lágrimas, voz suplicante e humilde. 
— Senhor padre! Por tudo vos peço! Ajudai-me a salvar meu pai que a tempestade levou para o oceano! Perdoai o que nós dissemos e fizemos! Mas salvai-o agora! 
Torcia as mãos, num desespero. Frei Bartolomeu perguntou: 
— Está sozinho? 
— Não! Leva quatro companheiros no barco! 
— Está longe? 
— Não está longe… mas o barco não aguenta mais as vagas! Salvai-o! Da janela podeis ver o seu barquinho sacudido pela tempestade! Pedi a Deus que o salve, senhor padre!
Frei Bartolomeu olhou um crucifixo que trazia ao peito. Murmurou baixinho uma oração. Depois voltou-se carinhosamente para a rapariga, que continuava chorando. 
— Dizeis que posso vê-los da janela? Sim, lá estão eles… Que temporal horrível! Pois esperai aqui por mim. Vou pedir a Deus que os salve. São cinco homens, dizeis? Tende fé, e Deus os salvará! 
A jovem caiu de joelhos e assim ficou chorando, enquanto o frade saía de mansinho. 
Daí a instantes, no sino grande do convento soaram cinco fortes badaladas, como se fossem um sinal divino. E logo o mar se acalmou como por encanto, e os cinco homens puderam chegar a terra sãos e salvos! Frei Bartolomeu dos Mártires, por intermédio do Coração Divino de Jesus, conseguira salvá-los. Por cada badalada que ele tocava, cada um dos homens sentia forças redobradas para remar e enfrentar o temporal. 
Na casa do velho pescador já houve lugar para Deus. As ovelhas transviadas voltaram ao seu Bom Pastor. E tudo porque um frade do convento de S. Domingos lembrara que acima das ansiedades terrenas existe o amor de Deus. Cinco badaladas soaram na torre do convento. Cinco homens foram salvos da fúria do mar. Cinco almas ficaram tementes a Deus e a louvá-lo para todo o sempre!


Fonte BiblioMARQUES, Gentil Lendas de Portugal Lisboa, Círculo de Leitores, 1997 [1962] , p.Volume IV, pp. 59-63



Pai Nosso do Beato Frei Bartolomeu dos Mártires

O Pai Nosso de cada dia (127)


Pai.
Por natureza e graça, nos comunicastes o ser, os sentidos e os movimentos naturais, bem como a essência da graça, isto é, o seu movimento, que nos faz viver.

Nosso.
Porque, com a concessão liberal da vossa bondade, gerais em cada dia muitos filhos segundo o ser espiritual da graça e do amor.

Que estais nos céus.
Quer dizer, que habitais admiravelmente naqueles que são chamados a viver no Céu, isto é, que estão firmes no vosso amor, sempre movidos pela assiduidade dos desejos sublimes, como se estivessem ornados de estrelas, o mesmo é dizer, de virtudes.

Santificado seja o vosso nome.
Realize-se em mim, sem nada de terreno, o vosso nome, com a purificação de todos os afetos mundanos.

Venha a nós o vosso reino.
Reina inteiramente e sempre em mim, não só para que não haja nenhum movimento ou ato contra os vossos preceitos, mas para que todas as minhas ações sejam feitas com a aprovação da vossa providência. São Bernardo, no comentário septuagésimo terceiro ao Cântico dos Cânticos, expõe esta matéria do segundo advento, dizendo: «Oh se acabasse já este mundo e se manifestasse o vosso reino! Isto é o que ardentemente deseja a esposa, ou seja, a Igreja».

Seja feita a vossa vontade.
Nos homens da terra como nos habitantes do Céu, isto é, nos firmes, nos que sempre estão em crescimento, ornados de estrelas, como acima dissemos.

O pão nosso de cada dia.
Ó Pai, se não mandardes, lá do alto, o pão do fervor e da consolação espiritual, todos os dias e a todas as horas, depressa desfaleceremos e iremos procurar pão vilíssimo de consolações exteriores. Enviai-nos, Pai benigníssimo, as migalhas daquela mesa opulentíssima, pois se com elas (quer dizer, com os atos de amor unitivo) não for alimentado todos os dias, perderei por certo, o vigor da fortaleza.

Perdoai-nos as nossas dívidas.
Perdoai o castigo devido até pelos mais leves pecados. Detesto-os, odeio-os, porque fazem obscurecer o raio da vossa luz e tornam tíbio o fervor do meu amor.

Não nos deixeis cair em tentação.
Quanto mais Vos amo, benigníssimo Senhor, mais temo separar-me de Vós, considerando a fragilidade da minha carne e a astúcia das investidas do inimigo.

Não permitais, que alguma vez eu ceda às suas carícias ou ciladas, mas livrai-me das muitas inclinações para o mal, bem como das penas do Purgatório, na medida em que podem adiar a vossa dulcíssima visão.

Cf. Secretariado Nacional de Liturgia



Dia do Pe. António Vieira

















Paiaçu ou Grande Pai, Grande Padre

Hoje quero recordar a figura ímpar de um padre jesuíta, missionário, escritor e precursor da abolição da escravatura, Padre António Vieira, falecido faz hoje 320 anos e por quem tenho grande admiração… conforme tenho mostrado em muitas páginas deste QUINTAL DO VIEIRA.
António Vieira, nascido em Lisboa em 1608, chegou com a sua família ao Brasil quando tinha 6 anos, onde se formou como jesuíta, filósofo, exímio escritor e excelente orador.
Defendeu os povos indígenas, combatendo a sua exploração e escravização, sendo chamado carinhosamente PAIAÇU (grande Padre/Pai, em língua Tupi).
A sua vasta obra, com mais de 30 volumes, inclui sermões, cartas, escritos políticos, estudos históricos e proféticos, poesia e teatro. É reconhecido sobretudo como orador ou pregador e conhecido como o Imperador da língua portuguesa.
Morreu na Baía aos 89 anos, a 18 de julho de 1697.

Embora não conste no cânone dos santos nem tenha pertencido à Igreja Episcopal do Brasil, é tido como tal por essa mesma igreja, pela sua coragem como testemunha profética de Cristo sendo celebrada a sua memória neste dia 18 de julho.






segunda-feira, 17 de julho de 2017

Da nossa raça


Memória dos mártires Inácio de Azevedo e Companheiros

Da raça dos santos
A igreja em Portugal propõe-nos hoje a memória dos missionários Inácio de Azevedo e seus companheiros martirizados a 15 de julho de 1750 ao largo das Canárias. Destes 40 missionários 32 eram portugueses e os restantes espanhóis.
É bom saber que eles pertencem à nossa raça, para nos lembrar que nós pertencemos à raça dos santos.

Andaram por aqui
Sabendo que os santos percorreram estes nossos caminhos, queremos comprometer-nos a percorrer o seu caminho de santidade.
Inácio de Azevedo e os seus companheiros de martírio ao largo das Canárias, a caminho do Brasil, estiveram na Quinta do Pico do Cardo, Ilha da Madeira, onde ergueram uma cruz.
O jesuíta P. Lopes, em carta escrita ao seu companheiro José Leite a partir da Cidade do Funchal e com a data de 20 de Março de 1752, mencionou uma lâmina em mármore datada de 1743 contendo a seguinte inscrição:

«EM MEMÓRIA. DOS GLORIOSOS.MARTIRES, DA COMP.A DE.JESU. O. IGNACIO.DE AZEVEDO. E SEUS. 39 COMPANHEIROS. QUE. NAVEGANDO. P.A O BRASIL NO. ANNO. DE 1570. AOS. 15. DE. JULHO. A. VISTA. DA. ILHA. DA. PALMA. MERECERÃO.A. DO. MARTIRIO. PELLA. FÉ. DE. CHRISTO, LANÇADOS AO. MAR. PELLOS. HEREJES. E. TENDO. ESTADO. NESTA QUINTA. DE. PICO. DE CARDO. VINHÃO. A. ESTE. LUGAR. COM. A. SUA. CRUS. E NELLE. FAZIÃO. AS. SUAS DEVOÇÕES. SE EREGIO. ESTA. P.A MAIOR GLORIA. DE DEOS. NA. DE. 1745»

(Biblioteca Pública Municipal do Porto [8BPMP], Manuscr. 162: Sylvio Mondano, Chronica dos PP. Jezuitas de Portugal, finais séc. XVII/ séc. XVIII, ff. 833-835)




sexta-feira, 14 de julho de 2017

Serpentes prudentes

6ª feira - XIV semana comum

Sede prudentes como as serpentes

- Porque é que Jesus diz que as serpentes são prudentes?
- São prudentes porque nunca dão um passo em falso.
- Mas elas não têm patas, só rastejam…
- Por isso mesmo… nunca dão um passo em falso.

As serpentes são prudentes porque não podem ser outra coisa, pois não podem dar nenhum passo em falso…
Nós somos prudentes porque queremos, pois podemos dar um passo em falso e não o fazemos…