sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Outras versões

6ª feira - XXI semana comum

Outras versões da parábola das 10 Virgens

1) Versão tradicional
Criada pelo lendário autor grego Esopo (620-560 a.c.), a fábula da Cigarra e da Formiga, tal como a conhecemos hoje deve-se ao poeta e fabulista francês Jean de La Fontaine (1621-1695), traduzido por um grande poeta português Bocage (1765-1805).

A Cigarra e a Formiga

Tendo a cigarra, em cantigas,
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema,
Na tormentosa estação.

Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.

– Amiga – diz a cigarra
– Prometo, à fé de animal,
Pagar-vos, antes de Agosto,
Os juros e o principal.

A formiga nunca empresta,
Nunca dá; por isso, junta.
– No verão, em que lidavas?
– À pedinte, ela pergunta.

Responde a outra: – Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.
– Oh! Bravo! – torna a formiga
– Cantavas? Pois dança agora!

As donzelas formigas
As donzelas cigarras

As donzelas formigas eram prudentes
As donzelas cigarras eram insensatas

As donzelas formigas levaram recursos consigo
As donzelas cigarras não levaram recursos consigo

As donzelas formigas ao chegar a noite entraram
As donzelas cigarras ao chegar a noite desandaram

As donzelas formigas ficaram no banquete
As donzelas cigarras ficaram à porta

2) Versão ou agora ou nunca
R. Hanina disse: Isto pode comparar-se a um viajante que saiu a caçar. Quando começou a cair a tarde, chegou a um posto de soldados. O capitão da guarda disse-lhe:
- Vem abrigar-te das feras selvagens e dos bandidos na noite.
Mas o viajante respondeu:
- Não tenho o costume de pernoitar juntamente com os soldados.
Como continuou o caminho, viu-se envolvido na noite escura e nas trevas mais espessas. Regressou então ao posto dos soldados e com grandes gritos suplicou que lhe abrissem a porta. Mas o Capitão responde:
- Não costumo abrir o posto de soldados durante a noite, nem tenho ninguém acordado para abrir a porta. Quando te propus, não aceitaste. Agora não posso abrir-te a porta.
Do mesmo modo o Santo diz: Procurai o Senhor enquanto Ele se deixa encontrar. (cf  Filipe F. Ramos, El Reino en Parábolas, Salamanca 1996)


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Retratos de um escritor


DEHON ESCRITOR

O melhor retrato de cada um é feito por aquilo que escreveu.
O corpo retrata-se com o pincel sobre a tela, a alma com a pena sobre as páginas dos livros.
O exterior retrata-se no álbum fotográfico, o interior só pode ser retratado naquilo que se escreve.
E no meio de tantas imagens esculpidas, pintadas, estampadas e escritas, nenhuma é mais genuína, mais natural e fidedigno do que o retrato vivo das cartas escritas. Aqui não há favor, nem lisonja nem artificialismo. Mostra-me as cartas que escreveste e dir-te-ei o homem que foste.
Ao partilhar uma reflexão sobre o Pe. Dehon como escritor, a nossa intenção é apenas tentar descobrir o retrato da sua personalidade, sobretudo do seu interior, da sua alma. Analisando o que escreveu, chegaremos à conclusão de quem foi sinceramente o Pe. Dehon.
São vários os retratos do Pe. Dehon consoante o estilo pessoal e a diversidade dos seus escritos. Escolhemos um livro de cada área como ilustrativo da sua personalidade.























O seu estilo próprio:
Temos mais de 4.000 escritos do Pe. Dehon, incluindo livros, manuscritos, cartas e postais. Raramente encontramos correções ou erros. Isto demonstra atenção e cuidado extraordinário naquilo que escrevia. Ele concentrava-se bastante ao escrever. Os seus escritos não são de nível extraordinário nem quanto à criação nem quanto ao estilo elevado. É muito preciso e correto naquilo que escreve de modo que nem há erros ortográficos e bem poucas distrações.

Escritos sobre Educação:
Os discursos de entrega de prémios no Colégio de São João, constituem a primeira obra editada. A nível retórico tais discursos são palestras brilhantes, proferidas num ambiente formativo, para um auditório académico, mas novato e simples. Nota-se uma planificação e desenvolvimento progressivo no seu conjunto. Foram muito bem estudados e preparados e ainda hoje podem interessar a um público mais geral.

Escritos espirituais:
O livro que melhor expressa a espiritualidade do Pe. Dehon é as “Coroas de amor”. Nestas três séries de meditação o Pe. Dehon escreve com muita paixão e revela os fundamentos da sua fé.

Escritos sociais:
O Manual Social Cristão é a obra social que mais expressa o pensamento e a intervenção do Pe. Dehon nesta área. É a mais calorosa em que o Pe. Dehon faz a análise rigorosa da realidade de então, resume os problemas de maneira clara e sucinta, faz proposta de solução adequada, traçando etas e objetivos.

As cartas:
Para além da correspondência oficial temos uma floresta de cartas particulares, muito genuínas, espontâneas e cordiais. Tem um estilo próprio bem humorado com jogos de palavras e muita empatia.

Escritos da congregação:
O Diretório Espiritual é sem duvido uma das obras centrais para conhecer o carisma do Pe. Dehon, como fundador. Centra-se sobretudo na vida de uma comunidade religiosa, por isso é o retrato não só pessoal do Pe. Dehon como também da comunidade que ele sonhou.

Conclusão:
Tudo o que viveu, tudo o que fez e tudo o que escreveu teve o mesmo objetivo: o amor de Deus.
O que ele foi é o resultado do que viveu, fez, escreveu.
Ele foi um apóstolo do Coração de Jesus, um semeador do Amor de Deus:
 “Julho, 1919 - Trabalho. Publicações. Estou a publicar o meu Ano com o Sagrado Coração e dois pequenos volumes sobre A Vida Interior. Quero ainda semear antes de morrer um pouco de amor para o nosso Senhor. Alguma boa semente produzirá frutos. O Bispo de Puy escreve-me que fez o seu mês de junho com o meu livro sobre o Coração Sacerdotal de Jesus e ficou encantado. Nós preparamos a vida do Padre André. Este é o nosso santo. Um piedoso religioso disse-nos: "Uma congregação que tem um santo desse calibre nos seus fundamentos está segura do seu futuro” (C 43 1919).























I - PUBLICAÇÕES DO Pe. DEHON

A. Escritos espirituais

1. La dévotion au Sacré Cœur de Jésus, don de notre temps et grâce spéciale de la France (discorso pronunciato il 12.06.1885), Reteaux-Bray, Paris, 1887, pp. 43

2. La retraite du Sacré Cœur, Casterman, Tournai, 1896, pp. 415 Tradução em italiano

3. Mois de Marie, sur les litanies de la Sainte Vierge, Haton, Paris, 1900, pp. 265

4. Mois du Sacré Cœur, sur les litanies du Sacré Cœur, Haton, Paris, 1900, pp. 276 Tradução parcial em italiano

5. De la vie d’amour envers le Sacré Cœur, Casterman, Tournai, 1901, pp. 343 Trdução em italiano e inglês

6. Couronnes d’amour au Sacré Cœur, 3 voll., Casterman, Tournai, 1905, pp. 633 Tradução em italiano e português

7. Le Cœur sacerdotal de Jésus, Casterman, Tournai, 1907, pp. 213 Tradu ção em italiano, inglês, espanhol e português

8. Une victime d’amour au Sacré Cœur. Sœur Marie de Jésus, née Madeleine Uhlrich, de l’Institut des Servantes du Cœur de Jésus de Saint-Quentin, 1856-1879. D’après ses notes et ses lettres, Desclée de Brouwer, Lille-Paris-Bruges, 1914, pp. 212 

9. L’Année avec le Sacré Cœur, 2 voll., Casterman, Tournai, 1919, pp. 698 + 591 Tradução em italiano

10. La vie intérieure : vol. I, Ses principes, ses voies diverses et ses pratiques, Téqui, Paris, 1919, pp. 273 ;  vol. II, Facilitée par des exercices spirituels, Desclée de Brouwer, Bruges, 1919, pp. 210

11. Un prêtre du Sacré Cœur. Vie édifiante du R. P. Alphonse-Marie Rasset, Assistant général des Prêtres du Sacré Cœur. D’après  ses lettres et notes, 1843-1905, Desclée de Brouwer, LilleParis-Bruges-Bruxelles, 1920, pp. 380

12. Études sur le Sacré Cœur de Jésus ou contribution à la préparation d’une somme doctrinale du Sacré Cœur,
         vol. I, Desclée de Brouwer, Bruges, 1922, pp. 254 ;
         vol. II, Desclée de Brouwer, Bruges, 1923, pp. 242 


B. Escritos sociais

1. Thèse pour la licence, Martinet, Paris, 1862, pp. 68

2. Thèse pour le doctorat, Thunot, Paris, 1864, pp. 128

3. Manuel social chrétien (in collaborazione), Bonne Presse, Paris, 1894, pp. 306. Ebbe 5 edizioni Traduzione in italiano (2 edizioni: 1898 e 1902), tradução em árabe, português, húngaro e espanhol

4. L’usure au temps présent. Étude sur l’usure au double point de vue de la morale et de l’économie sociale, Bonne Presse, Paris, 1895, pp. 64 Tradução em português

5. Nos congrès, Bonne Presse, Paris, 1897, pp. 30

6. Les directions pontificales politiques et sociales, Bloud et Barral, Paris, 1897, pp. 236

7. Catéchisme social, Bloud et Barral, Paris, 1898, pp. 312 Recensione di G. Toniolo in «Rivista internazionale di Scienze Sociali e Discipline Ausiliari», fasc. LXXV, marzo 1899, pp. 481-484
Tradução em italiano: Catechismo sociale, Libreria editrice fiorentina, Firenze, 1903, con prefazione di G. Toniolo (ora in G. Toniolo, Iniziative culturali e di Azione cattolica, Edizione del Comitato Opera Omnia di G. Toniolo, Città del Vaticano, 1951, pp. 408-411)

8. Richesse, médiocrité ou pauvreté, M. Blute, Ligugé (Vienne), 1899, pp. 13

9. La rénovation sociale chrétienne. Conférences données à Rome 1897-1900, Bloud et Barral, Paris, 1900, pp. 300 Tradução em italiano, croata

10. Le plan de la Franc-maçonnerie, ou la clef de l’histoire depuis 40 ans, Lethielleux, Paris, 1908, pp. 103 Tradução em húngaro

C. Viagens

1. La Sicile, l’Afrique du Nord et les Calabres, Casterman, Tournai, 1897, pp. 296

2. Au-delà des Pyrénées, Casterman, Tournai, 1900, pp. 296

3. Mille lieues dans l’Amérique du Sud : Brésil, Uruguay, Argentine, Casterman, Tournai, 1908, pp. 208 Tradução em italiano

D. Relatórios, prefácio, artigos

1. Œuvre de Saint-Joseph. Comptes rendus (1873 – 1875 – 1877), Imprimerie Moureau, SaintQuentin

2. Discours et interventions (Plusieurs congrès et réunions d’études sociales)

3. Lettres-préfaces à : Vie édifiante de Sœur Marie-Céline (1898) Vie édifiante de Sœur Marie-Angélique (1900) Vie de la Révérende Mère Véronique (1901) Une mystique de nos jours (1911) Mère Marie-Joseph de l’intérieur de Jésus (1922)

4. Le Règne du Cœur de Jésus dans les âmes et dans les sociétés  (1889-1903) [Rivista fondata e diretta da P. Dehon : numerosi articoli]

5. Articoli in altre riviste, alle quali collaborò P. Dehon: L’Association Catholique  (Paris) Démocratie chrétienne  (Lille) Sociologie chrétienne   (Montpellier) Chronique des Comités du Sud-est (Lyon) Le XX siècle    (Marseille) La Corporation  (Paris) La France libre  (Lyon)

E. Escritos sobre educação 

1. L’éducation et l’enseignement selon l’idéal chrétien. Discours de distributions de prix (18771886), Reteaux-Bray, Paris, 1887, pp. 219

2. Sur l’histoire locale de Saint-Quentin, Bray et Ce, Saint-Quentin, 1887, pp. 47

3. Discours sur l’éducation du caractère, Société anonyme du Journal de Saint-Quentin, SaintQuentin, 1891, pp. 59

4. Discours sur le département de l’Aisne, Fischlin, Saint-Quentin, 1893, pp. 114

F. Escritos para a Congregação

1. Thesaurus Sacerdotum societatis Cordis Jesu, Piquet-Barré, Saint-Quentin. 1886, pp. 170

2. Thesaurus Sacerdotum Oblatorum Cordis Jesu, Imprimerie A. Terrilon, Saint-Quentin, 1891, pp. 165 

3. Thesaurus precum Sacerdotum a S.C.J., testo latino-francese, 1902, pp. 181

4. Thesaurus precum Sacerdotum a S.C.J., 1909

5. Constitutions, 1881

6. Constitutions, 1885

7. Constitutiones Congregationis Presbyterorum a S.C.J. , Roma, 1902, pp. 78

8. Constitutiones Congregationis Presbyterorum a S.C.J. , Louvain, 1906, pp. 83

9. Constitutiones Congregationis Presbyterorum a S.C.J. , Louvain, 1924, pp. 109

10. Directoire spirituel à l’usage des Prêtres du Sacré Cœur, 1905.1908.1919

11. Souvenirs 1843-1877-1912¸ Desclée, Roma, 1912

12. Avis et conseils, Domois, 1914, pp. 22

13. Petit Directoire pour les recteurs, dans les maisons des Prêtres du Sacré Cœur, Casterman, Tournai, 1919, pp. 28

14. Lettres circulaires  [+ Testament spirituel + Souvenirs + Notices sur la Congrégation] (testo francese e italiano), Bologna, 1954, pp. 439

II - MANUSCRITOS EDITADOS

1. Diario do Concilio Vaticano I, a cura di Vincenzo Carbone, Tipografia Poliglotta Vaticana, 1962, pp. XXVII-217

2. Notes sur l’Histoire de ma Vie [1843-1888] – 15 quaderni – Edizione a cura del Centro Generale Studi SCJ, Roma, con introduzioni, note e indici, in 8 volumi:
         Vol. 1, 1975, pp. XXXIX-200
         Vol. 2, 1976, pp. XX-218
         Vol. 3, 1977, pp. VII-262
         Vol. 4, 1980, pp. XIV-220
         Vol. 5, 1978, pp. IV- 227
         Vol. 6, 1978, pp. V-265
         Vol. 7, 1979, pp. VI-240
         Vol. 8, 1983, pp. VII- 287

3. Notes Quotidiennes [Diario] – 45 quaderni – Edizione a cura del Centro Generale Studi SCJ, Roma, con introduzioni e note, in 5 volumi:
         Vol. I (1867-1894), Edizioni Dehoniane, Roma, 1988, pp. LII-570
         Vol. II (1894-1901), Edizioni Dehoniane, Roma, 1990, pp. 683
         Vol. III (1901-1910), Edizioni Dehoniane, Roma, 1994, pp. XXVI-527
         Vol. IV (1910-1911), Edizioni Dehoniane, Roma, 1997, pp. XXX-544
         Vol. V (1911-1925), Edizioni Dehoniane, Roma, 1998, pp. XXII-662 

4. Cahiers Falleur [Conférences et sermons aux novices, 9 novembre 1879 – 11 septembre 1886] – «Studia Dehoniana» nº 10 – Edizione a cura del Centro Generale Studi SCJ, Roma, 1979, pp. XXI-273 

5. Correspondance 1864-1871 [Lettere di Dehon e a Dehon], Introduction et notes d’A. Bourgeois, Edizioni Dehoniane, Roma, 1992, pp. XXII-521

6. Lettere di P. Dehon a confratelli italiani, a cura  di P. Andrea Tessarolo, Centro Studi SCJ, Roma, 1998, pp. 173


III - MANUSCRITOS INÉDITOS

1. Manuscritos vários (Sermões, conferências, meditações, retiros, pensamentos, notas diversas, apontamentos variados…)

2. Correspondência:
         A) Do Pe. Dehon
         B) Para o Dehon 



terça-feira, 23 de agosto de 2016

Temer o fim do mundo

3ª feira – XXI semana comum

Da 1ª leitura:
“Não vos deixeis abalar facilmente, nem alarmar… pelo fim do mundo. Permanecei firmes…”

Estas palavras de Paulo é uma exortação não para temer o fim do mundo, mas para alentar à ação, continuar a cumprir com os deveres, obrigações e compromissos cristãos.

“O Coronel Davenport durante uma jornada de trabalho da Associação de Representantes de Connecticut, em 1789, foi interrompido por uma terrível tempestade que causou grande pânico entre os assistentes. Os relâmpagos, os trovões, e a força dos ventos que atingiam o edifício fizeram pensar a todos que o juízo final estava prestes a chegar.
Os presentes pediram a Davenport que suspendesse a sessão, pois as trevas e o medo impediam-nos de continuar a trabalhar.
O coronel pôs-se de pé e com voz forte e segura disse-lhes:
- Senhores delegados. O dia do juízo final pode estar para breve como também pode tardar muitos anos. Ninguém o sabe. Se não está perto, então não temos com que nos preocupar; a tempestade passará e continuaremos tranquilos… Mas se o juízo final está muito perto, eu prefiro que me encontre cumprido com o meu dever e bem ocupado. Por favor, tragam algumas velas para iluminar minimamente a sala e continuemos a sessão sem problemas.

De facto, se isto não é o fim do mundo, trabalhemos que mais cedo ou mais tarde o temporal passa, e se é o fim do mundo, trabalhemos, pois convém que Deus nos encontre activos e fieis aos nossos deveres.


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Salvé Rainha


Coroa de 12 estrelas…
“O vocábulo estrelas vem de estar, porque estão fixas sempre no céu e andam com o céu em movimento perpétuo…
Maria foi coroada com DOZE ESTRELAS.
Também na nossa cabeça, no nosso pensamento deve existir uma coroa de doze estrelas, que são as virtudes:
- três na fronte: a fé, a esperança e a caridade;
- três à direita: a temperança, a prudência e a fortaleza;
- três na parte posterior: a lembrança da morte, o dia amargo do juízo e a pena eterna do inferno,
- três à esquerda: a paciência, a obediência e a perseverança final” (cf Santo António, Sermão do2º domingo depois da Páscoa).

Olhar para baixo…
“Cada mãe, quando pega a jovem vida que dela nasceu, ergue os olhos para o Céu a fim de agradecer a Deus pelo dom que fez o mundo rejuvenescer. Mas existe uma Mãe que não ergueu os olhos. Ela baixou os olhos para o Céu, pois era o Céu que estava e seus braços” (cf. Fulton Sheen).

Generosidade de uma rainha…
“Maria é Mãe de Deus para tudo conseguir
e Mãe dos homens para tudo conceder” (cf. Bossuet).



domingo, 21 de agosto de 2016

Orador, conferencista, pregador


Dehon orador

O nosso Fundador era um bom comunicador, mas não dominava muito bem a literatura. Era acima de tudo um comunicador e não escritor nem orador.
Sentia-se limitado quanto à literatura: Eu não gostava da literatura pura, o romance, o que se chama arte pela arte (NHV V).
Limitado quanto à oratória, foi aprendendo a falar em público e aprendendo com os outros: “Quando eu encontrava o Sr. De Mun e quando ele tomava a palavra nos congressos e assembleias eu recebia uma lição de eloquência, e isso serviu-me um pouco daí em diante. Há essas metáforas e esses exemplos bem escolhidos com os quais, para exercitar uma paixão, se mostra essa paixão em ato nalgum facto histórico (NHV, VI, 1876)
“Comecei a falar em público na Obra da Doutrina da fé em S. Suplício. Tinha mais boa vontade que talento (NHV I).”
Sentia vontade em estudar mais, mas as circunstâncias da vida levaram-no a dedicar-se mais à ação do que ao estudo: “Feliz é tu, Palustre, que podes entregar-te assim ao estudo. Quanto a mim, deixando-me guiar pela Providência, tornei-me homem de ação, apesar do meu gosto pelo trabalho de escrivaninha. (NHV, V)






















O que dizia de si mesmo
- “Eu não era orador (NHV, III, 1869) e ainda não o sou embora tenha hoje mais facilidade, mas as circunstâncias falavam por si mesmas. Os estudos escolásticos dão uma doutrina segura a uma lógica cerrada. Colocam-nos aos antípodas da retórica. Esta, pressupõe leituras, treinos, que não se tem tempo de fazer no seminário, e habilidades que lá não se aprendem. Eu terminara cedo demais as minhas humanidades, aos 16 anos! O direito, a filosofia escolástica, a teologia tinham dado ao meu espírito hábitos de exatidão, de ordem e de clareza, que eram preciosos. Mas faltava-me a leitura. Repugnava-me todos os escritos modernos, aos quais geralmente falta lógica, fundo, e doutrina, e que são unicamente frases, arte pela arte, diletantismo, címbalo que retine de São Paulo. Só foi muito tarde que eu retomei um pouco o gosto pela literatura, compreendendo, mas tarde demais, que com pouco mais de arranjo, muitas vezes eu teria dado mais eficácia à minha palavra. Escrevi, neste primeiro ano, uns trinta sermões, sem contar com as breves conferências no Patronato… Faltava-me evidentemente formação. Não se faziam sermões em Roma. Tinha o sentido literário nada desenvolvido. Coração não me faltava, mas tinha a imaginação demasiado pobre. O meu melhor instrumento de retórica teria sido o sentimento, mas não o usei bastante.” (NHV, V, 1871)
- “Os pequenos do Liceu de São Quintino fazem a primeira comunhão razoavelmente. Contei-lhes muitas histórias, e eles escutaram-me.” (NHV, Volume III, 1877)
- “Estes sermõezinhos durante as férias em La Capelle não eram nenhumas maravilhas; o estilo é muito simples; faltava-me retórica. Mas eu tinha-os meditado; pronunciava-os com sinceridade, e eles certamente faziam grande impressão.” (NHV, Volume V, 1870)
- “Em São Quintino, para o catecismo paroquial eu tinha os miúdos das escolas laicais, e podia tirar um proveito, porque o catecismo ainda era ensinado nas escolas. Ia à Terça numa e à Sexta noutra escola, às 11 horas, fazer uma conferência de meia hora. Punha nisso todo o meu zelo. Era um catecismo de perseverança; com exemplos e histórias. Escutavam-me… No Patronato dávamos prémios literários aos mais assíduos. Os meus breves contos interessavam porque eu narrava coisas vistas e passadas por mim.” (NHV, Volume V, 1871)
- “Cada Domingo, eu relatava no Patronato alguma das minhas recordações de viagens, fotografias, pedras, objetos do país etc… As crianças precisam tanto de coisas concretas para ficar com atenção.” (NHV, Volume V)

O que diziam dele
- “Aos 10 de Janeiro de 1897, o jornal romano “La Voce della Veritá”, que acompanha de perto os acontecimentos da Igreja, anuncia nestes termos as cinco Conferências do Pe. Dehon para Janeiro-Março: “Pe. Dehon é um excelente conhecedor dos estudos sociais, e a sua palavra forte e eficaz é sempre bem recebida onde quer que fale. A sua competência sobre a questão faz dele um orador procurado para os Congressos católicos da França. Testemunho desta sua capacidade incontestável é o seu magnífico “Manuel Social Chrétien”, que recebeu a aprovação de numerosos Bispos e que em pouco tempo conheceu quatro edições; foram publicados mais de 13.00 exemplares.” Cada quinze dias, o mesmo jornal informa sobre o tema especial que Pe. Dehon vai tratar, como um ilustre orador que fala magistralmente diante de um auditório bem seleto e numeroso”. (A renovação cristã social, conferências romanas).
- Ao comentar eventos contemporâneos dignos de atenção, em Fevereiro de 1897, a famosa revista dos Padres Jesuítas La Civilità Cattolica (Série XVI, vol IX, pag 616) escreve: “Em Roma, actualmente, duas personagens ilustres dão Conferências sobre Rerum Novarum e a questão social: o professor Toniolo… e o Pe. Dehon, francês, Geral dos Sacerdotes do Coração de Jesus… O Pe. Dehon fala numa sala dos Padres Agostinianos da Assunção, na praça de Aracoeli. Os discursos são em francês, e o Pe. Dehon se revela ótimo conhecedor da matéria. Fala de pé, com grande desenvoltura, o tom de voz é ao mesmo tempo de quem ensina e de quem conversa familiarmente. Tem diante de si apenas poucas folhas de papel e que olha só rapidamente, às vezes as toma nas mãos para ler uma estatística, uma citação, uma data. De vez em quando, sobrevém-se um raio de eloquência, mas logo, gradualmente, volta a ser a luz normal e tranquila da conversação familiar…”
- Um dos ouvintes do Pe. Dehon, Mons. Prunel (Sob o pseudónimo de J. Dorval), descreve a cena nestes termos: “Entrando na sala, se notava a importância dada a esta Conferência pelo clero e os membros da melhor sociedade de Roma… O orador entra sob os aplausos da sala. Alto, magro, nervoso, ele tinha algo de militar no porte e no passo. A fronte descoberta, o olhar inquisidor, o nariz aquilino e algo, que eu não sei dizer exatamente, que indicava pleno domínio de si e convicção ardente… Mais e mais o orador conquistava o seu auditório. As eminências pareciam participar do entusiasmo geral… Num gesto inspirado, os olhos fixos no alto, como se tivesse esquecido o auditório e seguido com a vista uma visão iluminante o orador apresentava, como uma magnífica epopeia, as ações da Igreja, durante os séculos”
-  “A força das ideias, a emoção do orador pela grande causa que defendia, empolgam a assistência que aclama o Rev. Pe. Dehon”. ( Atas do 4º Congresso da Ordem Terceira Franciscana, Nimes, 23-27 de Agosto de 1897, in IV Volume Obras Sociais, pag. 646)

O Pe. Dehon podia não ter grande jeito para escrever histórias, mas sabia muito bem contá-las e aplicá-las.
Podia não ter a preparação nem a experiência de um grande orador, mas sabia muito bem comunicar.




sábado, 20 de agosto de 2016

Em português 2


O Pe. Dehon traduzido ou divulgado em português

Sabemos pelo próprio Pe. Dehon que algumas das suas obras foram traduzidas em português (como também em italiano, húngaro e árabe), mas não sabemos do paradeiro dessas edições. Temos apenas a edição portuguesa da Usura no tempo presente. Parece ser a única obra editada em português em vida do Pe. Dehon.
Também sabemos, pelo próprio que foram enviadas cartas em português a solicitar apoio à construção da Basílica do Coração de Jesus em Roma, mas também não temos nenhuma cópia.
Por outro lado encontramos em estudos portugueses algumas citações de originais franceses do Pe. Dehon, o que indicia divulgação das suas obras em Portugal.

Eu publico estas conferências sociais em muitos volumes: Catecismo Social – Renovação Cristã – Diretivas Pontifícias. Muitos destes volumes estão traduzidos em italiano, em árabe, em húngaro, em português. Eles tornam-se clássicos em muitos seminários de França e de Itália.” (NQ XXXIX/112, 1916)




















13/04/1920
“Roma. Querido filho, pode mandar imprimir (de acordo com o Pe. Legay) as novas demissórias. Os bispos aceitam ainda as antigas… Eu creio que Beckaert será um excelente missionário… Preparamos os pedidos ao episcopado em 7 línguas: alemão, francês, italiano, inglês, espanhol, português, latim…” (Carta ao Pe. Philippe, inv 466.13 AD: B22/12)

30/04/1920
“Roma. Meu caro Carlos, não penses que te esqueço… O Cardeal Vigário benzerá a 1ª pedra da nossa nova igreja do S. Coração… Escrevemos a todos os bispos do mundo. Temos circulares em 7 línguas: italiano, francês, inglês, alemão, espanhol, português, latim… Mil cartas para dobrar, selar etc… Teu dedicado L. Dehon.” (carta a Charles Goffin. Inventário: 489.04 AD: B24/2)

13/08/1923
Tem cartas de inquéritos em português. Envie-me algumas.” (Carta a Bosio. Manuscrito. Inventário: 1133.25 AD: B97)






















“A Usura no tempo presente” do Pe. Dehon está, desde 1905, traduzido e publicado em Português.
A coleção “Ciência e Religião”, no nº 8, tendo como diretor Gomes dos Santos, publicada pela Livraria Povoense – Editora, de José Pereira de Castro, da Póvoa de Varzim no início dos anos 1900, apresenta “A usura no tempo presente, por E. Dehon.
No resumo de divulgação da coleção pode ler-se a propósito deste livro do Pe. Dehon:
“É um verdadeiro tratado sobre a usura, este volume precioso. Nele se estudam todas as modernas formas da usura, considerada em relação à questão social. Foi muito apreciado em França, onde as edições se sucederam.”
O livro tem 101 páginas e cerca de 19 cm.

A Revista Católica Mensal “ESTUDOS SOCIAIS”, fundada e publicada em Coimbra a partir de 1905 fez várias referências ao Pe. L. Dehon e a L. Harmel.
- No nº 4, Março de 1905, na página 130, é apresentado um artigo intitulado, ‘Natureza da Questão Social”, do Padre Biederlack e traduzido por Diógenes (pseudónimo de Artur Bivar). Logo no segundo parágrafo o autor refere: “Que a moderna sociedade atravessa uma crise, ninguém ousa negá-lo.” O Tradutor acrescenta uma nota de rodapé: “Muito tempo antes, já a Igreja, mais clarividente e animosa, tinha reconhecido o mal. Desde 1848 que o ilustre Kletteler, bispo de Moguncia, denunciava a injustiça social de que sofria a Europa e propunha os remédios. - DEHON, Manual Social, Introdução, Paris (Bonne Presse).”
- No nº 1, Janeiro de 1906, é apresentado um artigo de Júlio Monzó, intitulado “A missão dos círculos catholicos de operários em Portugal”. Na Página 26 pode ler-se: “Espíritos esclarecidos como Cathrein e Winterer na Alemanha, Harmel, Delaporte e Dehon na França e, sobretudo, Antoine na Bélgica com a monumental Cours d’Economie Sociale, muito contribuíram com os seus eruditos trabalhos e vastos conhecimentos para propagar a doutrina, que homens de acção como de Mun e Raffeison se encarregavam de pôr em prática, de tal modo que, em pouco tempo, o movimento democrático-christão foi uma realidade, formando os seus afiliados enthusiastas uma legião à qual os peores inimigos não poderam deixar de reconhecer a beligerância.”
- No nº 3, Março de 1907, a Revista transcreve na página 99 e seguintes, um relatório intitulado “Fins, organização e unificação do Movimento Catholico Popular Português”, escrito por Júlio Monzó. O autor, na página 104, ao falar do socialismo, põe em nota de rodapé: “De publicistas católicos podem-se ver as obras de Winterer: Le Socialisme contemporain, DEHON: Manuel Social Chretien





sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Em português 1


O Pe. Dehon aprendeu a falar português

Foi sobretudo durante a sua estadia no Brasil que o Pe. Dehon contactou mais com a língua portuguesa, tendo até aprendido a falar alguma coisa. De facto, durante a primeira visita a Portugal (1900) o tempo foi reduzido (8 dias), o objetivo foi sobretudo turístico e ficou hospedado sobretudo em hotéis ou ambientes franceses. No Brasil passou muito mais tempo (cerca de 4 meses) e com alguma ação pastoral, intervenção local e contactos com gente simples que apenas falava esse idioma. Daí que fosse natural que tivesse de responder em português aos que lhe dirigiam a palavra. Se ele quisesse aprender mais o idioma português não teria dificuldade pois, como língua neolatina não está longe do francês.





















“No dia 19 (de setembro de 1906) visitei Capela de Caxanga… Um alegre cortejo vem receber-me na estação. Há uma profusão de foguetes e flores, canto de hinos, oferta de ramalhetes. Celebro a missa e distribuo 50 comunhões. Tento responder com algumas frases em português às boas-vindas que me são lidas.” (NQ XX/9)

Apresentam-me cumprimentos e eu respondo com alguma frase em português. Oferecem-me cestos de flores. As crianças cantam e declamam em português e em francês… “(NQ XX/105 - setembro 1906)

“Um professor acompanhou-me até ao Alto da Serra (Rio de Janeiro). Os padres têm lá uma igreja nova de estilo italiano., bem assente sobre um morro. Converso como posso em português com o meu cicerone.” (NQ XXII/65)

A língua portuguesa distanciou-se visivelmente dos outros dialetos romanos da Ibérica por volta da metade do século XIII. Esta deriva do latim, mas grande número das suas palavras distancia-se desta raiz mediante a perca de uma consoante, sobretudo L e N; por exemplo Dor é a contração de Dolor, seguida da queda da letra L; lembrar é o abrandamento de Rememorar…” (Para Além dos Pirenéus)

“Os índios do Brasil têm também a sua língua geral, o tupí, usada nos contactos das tribos entre si e com os portugueses. É aos missionários que o tupí deve a sua vasta difusão. Escolheram o tupí, transformado em sabir do Brasil, na esperança de que o império perca todas as suas formas de dialeto perante o neo-latim do grande Camões, como é falado no Rio de Janeiro, com mais riqueza ainda que em Portugal, graças às tomadas das línguas indígenas e ao calão dos negros introduzidos anteriormente pelos caciques sobreviventes… A língua geral recebeu certamente elementos portugueses e o guarani meridional recebeu elementos espanhóis, mas nem o português no norte nem o castelhano no sul transformaram muito o velho idioma Índio.” (Mil léguas na América do Sul)

“O Nome Mandarim é desconhecido dos chineses, tal como as palavras China e chinês. Os chineses chamam-se Filhos de Han no Norte e Filhos de Tang no Sul. A palavra mandarim vem da palavra portuguesa mandar. Os oficiais civis e militares são designados pela palavra Kouang-fou.” (NQ  XXXI/60)

 “O Prior dos Franciscanos usa expressões portuguesas: Toda a casa é vossa.” (NQ XXII/65)

 “Trouxemos de Lisboa uma boa recordação. Ela tem como as cidades de Espanha a sua divisa um pouco enfática:
Quem não tem visto Lisboa,
não tem visto coisa boa.” (Para Além dos Pirenéus)




Dehon em Portugal (10)


Quem não viu Lisboa, não viu coisa boa











Ao longo dos escritos do Pe. Dehon a palavra LISBONNE (Lisboa) aparece cerca de 74:
38 em Para além dos Pirenéus
26 em Mil léguas na América do Sul
7 nas Notas Quotidianas
3 noutros escritos.
















Nas poucas páginas que o Pe. Dehon escreveu sobre a sua tríplice passagem por Lisboa (1900, 1906, 1907) aparecem tantos elogios sobre esta cidade, que não encontramos paralelo em nenhuma outra capital ou cidade do mundo por onde incansavelmente viajou.
Não só admirou Lisboa, como também a mostrou, como cicerone conhecedor, aos seus quatro companheiros: Pe. Ângelo Déal, Paulo Cotard, Alfredo Roblot e Plácido Boesten (3/9/1906)















Façamos a ladainha desses elogios:
- Lisboa é de facto uma grande cidade.
- Está maravilhosamente sitiada na margem direito do Tejo.
- Ela é de verdade uma das mais belas cidades da Europa.
- É a Rainha da Península Ibérica.
- Foi comparada a Constantinopla.
- A sua baía é uma das mais belas do mundo inteiro.
- O Marquês de Pombal refez uma cidade soberba.
- Ulisses teve algum papel na fundação de Lisboa…
- O nome Lisboa (Olissipo) deriva, não de Ulisses, mas da língua fenícia, Alis Ubbi, baia deliciosa.
- Os Romanos chamavam-lhe Felicitas Júlia, em honra de Júlio César.
- Trouxemos de Lisboa uma boa recordação.
- Ela tem a sua divisa um pouco enfática: Quem não viu Lisboa, não viu coisa boa.
- Lisboa com os seus arredores tem verdadeiramente um grande encanto. (cf. Para além dos Pirenéus)











- Revejo com agrado Lisboa, a Bizâncio ocidental.
- Que belo panorama.
- Vista do porto, Lisboa assemelha-se a Génova.
- Lisboa é rica em obras sociais.
- Lisboa atribui a Constantino a fundação da sua basílica patriarcal.
- Desde o século IV é sede de um bispado.
- Saúdo o maravilhoso mosteiro de Belém, uma renda de pedra que só por si bastaria para justificar uma viagem a Portugal. (cf. Mil léguas na América do Sul)