Ano B - XXXIII Domingo comum
"Aprendei da figueira"
Havemos
de aprender mais nos bosques, que nos livros, lembrava São Bernardo.
Que
árvore há num busque, ou mais alta, ou mais humilde, que não cresça sempre
para o céu?
E
se tanto anelam ao céu as que tem raízes na terra; que devem fazer as que não tem
raízes?
As
do povoado, e cultivadas, dependem da indústria dos homens; as do deserto, e
sem cultura, dependem só do Céu e de Deus, e nem por isso crescem ou duram
menos,
As
que desde o inverno, ensinam a esperar pelo verão;
e as que veste e enriquece o verão, a não fiar da presente fortuna,
porque lhe há de suceder o inverno.
As
que se dobram ao vento ensinam a conservação própria;
e as que antes querem quebrar que torcer, a retidão, e a constância.
Enfim, cada árvore é um
livro, cada folha uma lição, cada flor um desengano, e cada fruto, três frutos:
os verdes ainda não o são, os maduros duram pouco, e os passados já foram. (Pe.
António Vieira. 4º domingo quaresma 1655)
Se
quereis saber para onde há de cair a árvore, quando for cortada, olhai para
ela, e vede para onde inclina, com o peso dos ramos.
Se inclina para a parte direita, para a parte direita há de cair; e pelo
contrário, se o peso a tem dobrado para a parte esquerda, da mesma maneira há
de cair para a parte esquerda, e uma e outra cousa é sem dúvida.
Olhe
agora cada um, e olhe bem para a sua alma, para a sua vida, e para as suas
obras, que estas são os ramos da árvore. Se vir que são de fé, de piedade, de
temor de Deus, de obediência a seus preceitos, de religião, de oração, de mortificação
das próprias paixões, de verdade, de justiça, de caridade, enfim, de pureza de
consciência, de frequência dos sacramentos e das outras virtudes e obrigações
de cristão, entenda que perseverando, há de cair sem dúvida para a mão direita.
Mas
se as obras, pelo contrário, são de liberdade e soltura de vida, de ambição, de
cobiça, de soberba, de inveja, de ódio, de vingança. De sensualidade, de
esquecimento de Deus e da salvação, sem uma muita resoluta e verdadeira emenda,
e perseverança nela, entenda da mesma maneira, que a árvore há de cair para a
mão esquerda, e que tem certa a condenação. (Pe.
António Vieira, 1º dominga advento 1652)