segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Aprendendo com os anjos

Festa dos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael

1º - Não devemos ter pena de não ser como os anjos
“Mas porque é que Deus não me criou um anjo? Se Jesus não te criou um anjo do céu, foi porque quer que sejas um anjo na terra, sim Jesus quer ter a sua corte celeste cá em baixo como lá no céu. Ele quer anjos-mártires, quer anjos-apóstolos, e criou uma florzinha ignorada que se chama Celina com esta intenção.” (Santa Teresinha do Menino Jesus)

2º - Os anjos é que devem ter pena de não ser como nós
“Os anjos não podem sofrer, não são tão felizes como eu. Como eles focariam admirados se sofressem e sentissem o que eu sinto.” (Santa Teresinha do Menino Jesus)

3º O que pedimos aos anjos, ou o que eles nos podem ensinar
Força de São Miguel (Quem como Deus)
Alegria de São Gabriel (fortaleza de Deus)
Caridade de São Rafael (Medicina de Deus)




















(Cf, figura in ChaveLaCatolica)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Padre Pio


Hoje celebra-se a memória do Padre Pio.
Rezemos a oração que ele costumava fazer depois da Comunhão:

O meu passado, Senhor, confio à Tua misericórdia.
O meu presente, ao Teu amor.
O meu futuro, à Tua Providência. 

Ámen!


domingo, 21 de setembro de 2014

Deus está próximo


Ano A - XXV domingo comum

O Senhor está perto de quantos o invocam...

De facto Deus está perto de nós 
para que não vivamos longe dele.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Modelo feminino


6ª feira – XXIV semana comum

Acompanhavam Jesus … algumas mulheres … que O serviam com os seus bens.

Eis a vocação e a missão das mulheres e dos discípulos de Jesus:

- A vocação de dar Deus ao mundo
O exemplo e o modelo desta vocação é Maria de Nazaré: presença discreta, ícone da disponibilidade e do dom, gera e dá um filho ao mundo.
O Filho, no calvário, dá por sua vez a sua Mãe ao mundo.
Ela tem, como qualquer mulher, uma dupla vocação:
Dar Deus ao mundo e dar o mundo a Deus, sendo mãe do mundo.

- A missão de servir
Jesus é o modelo desta missão.
Ele está no meio de nós como alguém que serve.
As mulheres serviam Jesus e os seus discípulos…
É esta a missão de cada mulher, de cada discípulo, a exemplo de Jesus que veio para servir.

As mulheres são modelos da vocação e da missão de cada cristão.



quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ir à confissão


5ª feira – XXIV semana comum


Acompanhamos hoje no Evangelho a ida de uma pecadora ao confessionário para ser absolvida dos seus pecados. Foi durante uma festa, numa casa familiar.
Ainda hoje acontece o mesmo fenómeno: Confissão de pecados, ajoelhar-se, em ambiente familiar, festivo e o regresso em paz.

Tem a palavra, Santa Teresinha do Menino Jesus, Doutora da Igreja:
“ Ao sair do confessionário (quando me preparava para a primeira comunhão) eu estava tão contente e tão leve que nunca tinha sentido tanta alegria na minha alma. Desde então voltei a confessar-me sempre nas grandes festas e era para mim uma verdadeira festa cada vez que lá ía.”
Conclusão: Comecemos a confessar-nos nas grandes festas e então será sempre uma grande festa o dia da nossa confissão.

Escreveu numa carta a mesma santa:
“O nosso esposo é um esposo de Lágrimas e não de sorrisos. Demos-lhe as nossas lágrimas para o consolar e um dia essas lágrimas transformar-se-ão em sorrisos de uma doçura inefável.”
Conclusão: O nosso Deus é dum Deus de lágrimas e não de risos. Saibamos dar-lhe não os nossos sorrisos que depressa podem transformar-se em lágrimas. Saibamos dar-lhe as nossas lágrimas para que as transforme em alegria plena.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Educação cristã e virtudes da infância (IV)


               Resta-nos falar da pureza. Vimos a educação cristã ensinar à criança a fé, o amor, o respeito, a coragem. Para completar a educação e concluir esta obra-prima, falta ainda a única coisa que salvaguarda e embeleza estas quatro coisas, aquilo que dá ao homem o complemento da sua beleza: a auréola de uma angélica pureza.
               Há na pureza da infância e da juventude uma beleza superior às demais, que deve sofrer a prova dos assaltos da carne e da volúpia, e que a filosofia sozinha é impotente a preservar. É preciso acrescentar que a educação cristã é verdadeiramente a sua única defesa.
               Razão tinha De Maistre quando dizia vendo certos colégios: “O olhar do sábio detém-se dolorosamente sobre esta massa de jovens em que as virtudes são isoladas e os vícios postos em comum.” Sim, é com estranho espanto que os pais e as mães e todos os que se preocupam com as almas contemplam este estranho espetáculo: duas ou três centenas de crianças, no momento em que os sentidos despertam e as paixões fervem, atiradas para esta atmosfera incandescente, e os mestres a pairar numa indiferença tranquila acima destas tempestades dando-se por satisfeitos se conseguirem manter nesta loucura ardente uma ordem de conveniência e uma disciplina imposta. Sem dúvida que a filosofia sabe ensinar à criança, que submeter a carne ao espírito é o primeiro dever do homem e que a pureza é a honra da juventude, mas conhece-se o poder desta vaga moral sobre as paixões ardentes.
               A educação cristã possui luzes penetrantes, forças dominadoras e influências vitoriosas que a filosofia desconhece.
               A educação cristã dá à alma da criança cintilações sublimes que dão à pureza que lha pede uma coroa celeste e lhe dá uma atração divina. É ela que ensina à criança que o seu corpo é um templo, a sua alma um santuário, o seu coração um sacrário, onde JESUS CRISTO vivo vem morar. É ela que revela à criança, no tesouro da sua inocência, o preço do sangue de um Deus. É ela por fim que faz aparecer, mas alturas do céu, o ideal da pureza, irradiando do rosto de CRISTO e da Virgem Imaculada sobre a humanidade cristã.
               Com a luz que mostra a pureza, é necessária na vontade uma força que a natureza sozinha não pode dar.
               Esta força vem do banho fortificante e regenerador em que a Igreja nos mergulha com todos os seus sacramentos; encontra-se nas águas da penitência e no caudal do sangue de JESUS CRISTO; encontra-se na confissão e na comunhão, e nesta pura atmosfera formada em torno da criança por todas as práticas santas.
               Ah! Sem dúvida, isto não quer dizer que nenhuma criança abusará da sua liberdade e não se sentirá pobre no meio de toda esta riqueza; mas o que é verdade, é que a maior parte, num meio onde se distribui a educação cristã, conservará até aos dezoito anos a sua pureza ainda intacta ou gloriosamente reparada depois das feridas do combate.
               Recorro novamente às nossas testemunhas.
               Uma criança de dezasseis anos escrevia no seu caderno orações como esta: “Virgem Maria, sei que vos devo tudo; é a vós que dou graças por tudo, mas em particular pela pureza que me conservastes até este dia e que me conservareis durante toda a vida, não é?, ó Virgem Imaculada! Tomo o céu e a terra como testemunhas do meu juramento, sim, mais de mil vezes a mais cruel morte do que um só pecado contra a santa virtude!
               Outro “teve de travar grandes lutas contra as suas paixões, porque tinha um temperamento muito ardente, mas ao mesmo tempo dotado da energia que normalmente acompanha estes caracteres, sabia reprimir os impulsos da sua natureza”.
               Um terceiro ia completar dezassete anos, e no entanto “a serenidade do olhar, a franqueza expressiva do sorriso, a simplicidade da linguagem, a modéstia das suas maneiras, não sei que aspeto encantador de reserva virginal e de abandono infantil, tudo nele deixava transparecer a inocência do coração”.
               Para outro: “eu conheci, diz uma testemunha, este excelente jovem e fui depositário das suas confidências. Não vos direi nada da admirável pureza da sua alma, da delicadeza da sua consciência. A virtude que tínheis admirado na criança encontrava-se ainda no jovem mais madura, fortalecida, embelezada pela luta e pelas vitórias. Tudo o que tinha aspeto de mal inspirava-lhe ou horror ou desprezo”.
               Aqui, recolho o juízo dos colegas: “nunca ouvi sair da sua boca qualquer palavra ainda que fosse pouco leviana”. – “A sua qualidade dominante era, a meu ver, a modéstia”.
               Ali, é um mestre que envia um aluno ao responsável superior: “Quanto aos seus costumes e à sua piedade, não se preocupe: é uma criança perfeita. Para mim que o acompanhei durante quatro anos, nunca o surpreendi, não só uma palavra, mas nem sequer um olhar, um sorriso, um gesto, uma atitude, que fosse indício de uma virtude diminuída”.
               São alguns extratos; eu poderia completar um volume. Apresento apenas mais um que põe frente a frente os dois sistemas da educação e respetivos. Uma criança tinha sido enviada primeiro para uma casa pouco cristã. “Lá, diz a sua biografia, a imoralidade reinava por entre os seus colegas; ela era quase geral: se não o atingiu, se ele se conservou puro, só se o pode atribuir à piedade que a sua mãe lhe tinha incutido, à sua prudência na escolha dos amigos e à forma como se aplicava ao trabalho em todo o curso dos seus estudos. Estas felizes qualidades atraíram sobre ela o ódio e a inveja dos seus rivais; estes moveram-lhe pirraças e perseguições secretas.
               Os desgostos que sofreu nesta casa e sobretudo os perigos que corria a sua inocência levaram os pais a tirá-lo de lá para o meter numa casa eclesiástica. A sua piedade já sólida, pareceu então encontrar-se no seu ambiente natural e cresceu consideravelmente no meio de bons exemplos que tinha sob os seus olhos”.
               Nós sabíamos e agora vemos de maneira palpável esta verdade de facto: a mais bela das virtudes da infância reina principalmente nas casas da educação cristã.
               Quero terminar com um contraste. Copio o retrato do colegial dos nossos dias, traçado por um escritor que tem um dos primeiros lugares na Revista dos Dois Mundos e que é, nesta circunstância, apenas o eco da opinião comum (Georges Sand).
               “O adolescente, diz ele, ou é educado de uma maneira excecional ou então deixa de existir. O que nós vemos todos os dias é um colegial mal educado, infetado por algum vício grosseiro que já destruiu no seu ser a santidade do primeiro ideal; ou, se, por milagre, a pobre criança escapou a esta peste das escolas, é impossível que tenha conservado a castidade da imaginação ou a santa ignorância da sua idade… É feio, mesmo quando a natureza o dotou de beleza… tem o aspeto envergonhado e nunca vos olha nos olhos.
               As carícias da sua mãe fazem-no corar; dir-se-á que se reconhece indigno… Ser-lhe-ão necessários anos para perder o fruto desta detestável educação, para perder esta marca de fealdade que uma infância desgraçada e o embrutecimento da escravidão imprimiram na sua fronte, para olhar com serenidade e erguer a cabeça… Mas já as paixões se apoderaram dele; nunca terá conhecido os afetos puros de que acabo de falar”.
               É este, segundo parece, o retrato do adolescente de hoje, quando não é educado de maneira excecional. Se assim é, pais e mães de família, procurai para os vossos filhos essa educação excecional, e estou convencido de que a encontrareis nas casas de educação cristã. Mostrei-o nestes traços que recolhi de cem biografias diversas. Queria mostrá-lo nos vossos filhos, mas não se louva os vivos e além do mais, para a maior parte deles, a sua tenra idade desculpa-lhes a falta ainda de alguma virtude.
               Não posso ainda no nosso caso louvar os defuntos. Nascemos há pouco tempo. Todavia o céu enviou-nos já a mais amável das nossas crianças e arrebatou-a o ano passado. A sua vida poderia ser objeto de uma notícia não menos interessante do que qualquer outra. Julgai por algumas linhas extraídas da alocução proferida no seu funeral: “Saúdo, dizia o seu venerável pároco, saúdo os restos mortais desta criança de catorze anos com o mesmo respeito com que saudaria o ancião vergado pela vida e de virtude consumada. Oiço, com efeito, o livro da sabedoria que nos diz: O que torna venerável a velhice, não é a longevidade da vida, mas a prudência do homem ainda que jovem que substitui os cabelos brancos, e a vida sem mancha, ainda que curta, é uma feliz e gloriosa velhice. Vós que conhecestes o Eugénio, dizei-me, esta singela pincelada dada pelo próprio espírito de DEUS, não traz até aos nossos olhos a figura pura e radiante do nosso querido menino? Quem não trocou com encanto algumas palavras com ele? Quem não se sentiu atraído por ele? Quem não se achou melhor ao separar-se dele? A piedade era a base desta natureza essencialmente cristã. A piedade foi porventura entrave para o cultivo da inteligência? Vede: no confronto com espíritos de elite, qual é o seu lugar? O primeiro invariavelmente. Ele tem no quadro de honra um lugar garantido, e quando os seus mestres queriam citar um modelo para o trabalho, para a obediência, para a educação e as boas maneiras, eles diziam: Vede o Eugénio” (Eugénio Savard, d’Origny-Saint-Benoît. – Discurso pronunciado no seu funeral por M. Abade Jardinier).
               Este quadro condiz com o que nos ofereceu há pouco o escritor que se assina por Georges Sand.
               Voltemos a ler agora a objeção que ressoou este ano na imprensa e na tribuna: “A educação cristã não é capaz de produzir a virtude.” Ela espanta-vos, não é? E o seu atrevimento faz-vos sorrir.
               A vossa confiança está reanimada; era esse o meu objetivo. Entrego-vos agora, pais e mães, os vossos filhos. Eles vão receber as recompensas do seu trabalho, esperando triunfos mais brilhantes num cenário mais elevado, em que hão de imitar, assim o espero, os mais velhos que conseguiram este ano cinco diplomas de bacharelato.
               De seguida Monsenhor se dignar-se-á dar-lhes a sua bênção, depois partirão fortes e alegres para praticar durante as férias as virtudes que são as amáveis companheiras da educação cristã: a piedade, a pureza, a energia e o afeto.

               

Quando Deus visita


3ª feira - XXIV semana comum


Quando Deus visita o seu povo

- não há silêncio que Ele não entenda;
- nem tristeza que Ele não conheça;
- nem amor que Ele ignore;
- nem lágrimas que não valorize;
- nem pecados que não perdoe;
- nem bem que não partilhe;
- nem milagre que não realize.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Martírio de Nossa Senhora

Ao comemorar a memória de Nossa Senhora das Dores não posso deixar de rezar por todos os cristãos perseguidos e martirizados nestes dias no Iraque, na Síria e demais países do Médio Oriente.
O martírio de Maria continua na perseguição feroz aos cristãos nos nossos dias. 
E dizem que há mais martírios hoje do que no tempo das perseguições romanas nos primeiros séculos do cristianismo, mas quase ninguém se importa.
Este ano, esta memória dolorosa tem um sentido mais profundo.
E que tenho eu de especial para ser poupado a esse martírio?
Rezo por nós, por quem é perseguido e por quem vive aqui acomodado.

Manda as rubricas litúrgicas que as vestes da celebração sejam brancas na memória de Nossa Senhora das Dores.
Se fosse eu a mandar determinava que fossem de cor vermelha em atenção ao martírio de Nossa Senhora.
De facto rezamos na antífona do Aleluia:
Bendita seja a Virgem Maria que, sem passar pela morte, mereceu a palma do martírio, ao pé da cruz.
Esta é a memória do martírio de Maria de Nazaré.
E, à imagem de todos os martírios a quem ela se associa, devíamos revestir-nos com as vestes vermelhas.

Então onde está a cruz de Maria?
A cruz de Maria está onde está a cruz do seu filho, pois junto à cruz encontrava-se Maria...
A cruz de Maria é a cruz de Jesus porque ela está junto à cruz.
Ainda hoje ela mantém-se junto da cruz dos seus filhos.
Queres identificar a cruz de Nossa Senhora?
Olha à tua volta e repara nas cruzes dos teus irmãos e aí identificarás a presença de Maria, nossa mãe.

Dizem que a casa de Maria veio de Éfeso para a cidade do Loreto, na Itália.
Eu nunca vi, nem sei nada disso.
Apenas reparo no Evangelho de hoje:
A partir daquela hora o discípulo recebeu Maria em sua casa.
Então onde é a casa de Maria?
A casa de Maria é a casa do discípulo.
Queres visitar a casa de Maria, ou Maria na sua casa?
Então vai visitar um discípulo e aí encontrarás Maria.


Educação cristã e virtudes da infância (III)



               O respeito é irmão do afeto.
               Há também entre a religião e o respeito uma afinidade profunda. A religião dá à alma a impressão do respeito.
               Só DEUS de resto é a razão do respeito que se dedica aos homens e às coisas. É o profundo trabalho da educação religiosa que incute o respeito na alma da criança descobrindo-lhe, onde quer que se coloquem diante dela, estas representações e estas imagens de Deus as únicas capazes de governar os nossos respeitos.
               A educação católica mostra à criança, na hierarquia da Igreja, uma majestade que desce de DEUS e que se eleva até Ele por CRISTO. Ela mostra-lhe na família a dignidade paterna e a dignidade materna que são para elas representações da dignidade divina. Quando o pai e a mãe delegam num educador todos os seus direitos de ensinar e de educar um filho, transmitem-lhe ao mesmo tempo algo da sua dignidade, e se este educador pertence ao mesmo tempo à hierarquia da Igreja, tem aos olhos das crianças um duplo carácter de autoridade e como que um duplo reflexo da majestade divina.
               Assim, o catolicismo justifica o elogio que lhe foi feito pela sinceridade de um ilustre protestante: é a maior escola de respeito que há sobre a terra.
               Será preciso acrescentar que o respeito gera a obediência e com ela a confiança e a docilidade, e que leva assim às outras virtudes da infância, ao hábito do trabalho, à seriedade e à força de carácter?
               Estas nobres energias não se impõem acaso à vontade quando o espírito concebeu o respeito por DEUS, pelo dever e por si mesmo?
               Recorramos novamente ao testemunho do nosso livro de ouro e vejamos se o respeito e a coragem aparecem aí em destaque tal como a piedade e o afeto. Leio que um passou por altura da sua primeira comunhão por uma transformação maravilhosa: “Pôde-se deste então, diz-se, notar no comportamento desta criança um progresso sensível, o seu trabalho foi mais consciencioso, os seus esforços para dominar a sua natureza foram mais enérgicos, mais constantes, o seu esforço de agradar aos pais e professores mais perfeito e mais consistente”.
               Vejo que outro levava a sério a virtude. “No que se refere à grande coisa, escreve ele a seu irmão, está melhor. O céu seja bendito por ajudar os meus esforços e a minha boa vontade. Sinto-me mais forte contra a tentação e, quando me apercebo de alguma fraqueza, levanto-me de imediato. Que mais te direi? A nossa vida de colégio tem algo de monótono; nada de novo nisso. Mas não quero queixar-me, aprende-se a vencer-se, domina-se a sua vontade, exerce-se a virtude e o sacrifício; afinal, isto é o essencial, é tudo, e vale o mundo inteiro”.
               Outro começou os seus estudos num internato eclesiástico. Distinguiu-se pela exatidão no cumprimento de todos os seus deveres, pela sua aplicação, pela sua docilidade. Soube merecer o afeto dos mestres e dos colegas. Razões que não vale a pena explicar, levaram os pais a mudá-lo para um colégio de outro género. Aí teve de travar duras lutas para não trair a sua fé. Encontrou-se, apesar das boas intenções dos responsáveis, à mercê de uma multidão de colegas perversos e sem religião que inutilmente tentaram arrastá-lo. A esta guerra de sedução, sucedeu-se outra de mentira, de sarcasmos e de maus-tratos; nada o pôde vencer. Furiosos com a sua resistência, aqueles jovens ímpios tornaram-se carrascos; chegaram até à barbárie de submeter o seu virtuoso condiscípulo a uma espécie de crucifixão, fazendo-lhe com suas navalhas incisões nas mãos em forma de cruz. Ele sofreu esta cruel brutalidade com uma coragem heroica: sem mostrar ressentimento nem rancor, continuou a viver como cristão fervoroso e intrépido sob os seus olhares; o que os impressionou de tal maneira que muitos deles, encantados, não só pela firmeza do seu carácter, como também pela doçura e suavidade das suas maneiras, acabaram por colocar-se do seu lado considerando uma honra protegê-lo de novas perseguições.
               O contraste não prejudica a nossa demonstração. Estas imagens vivas de energia e de respeito não vos encantam? Não pensais que estas flores e estes frutos mostram bem o valor dos terrenos onde foram cultivados?



sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A trave e o argueiro


6ª feira - XXIII semana comum

Comentário dialogado:

1ª cena
- Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista?...
- Então, Deus não nos manda vigiar?
- Sim, sim, manda vigiar cada um a sua vida e não a vida dos outros.

2ª cena
- Então amigo, já reparaste que o nosso vizinho tem um defeito na vista?
- Eu não. Aliás estou muito ocupado tentando tirar a viga da minha vista. Por isso não tenho tempo para olhar para o cisco que está na vista dos meus vizinhos.

Educação cristã e virtudes da infância (II)


               O que disse da fé e da piedade, quero dizê-lo do afeto e das qualidades do coração; a educação cristã é a mais apropriada para os fazer florir, sobretudo quando é dada por homens consagrados a DEUS. A criança chega ao colégio com um coração largamente aberto. A família e sobretudo a mãe desenvolveram nela esta capacidade de amar. Só deseja poder expandir-se. Toda a arte da educação cristã consistirá em não propor a esta atividade servir objetos legítimos e santos. Quão belo é o coração que só abraça na terra a virtude e a ciência, a Igreja e a pátria, a família e as santas amizades!
               Mas o afeto só se deixa guiar pelo afeto, e para que um mestre possa dirigir o coração da criança, é preciso primeiro que conquiste este coração amando-o como o fazem um pai e uma mãe. Esse afeto, paternal e maternal ao mesmo tempo, onde encontrá-lo, fora da família, mais seguramente a não ser no coração daqueles que bebem diariamente da fonte onde se alimentou um são João apóstolo, um santo Agostinho e um são Francisco de Sales, um são Vicente de Paulo? Quem poderá substituir este fogo sagrado? Será o sentimento do dever que obriga todo o educador a amar? Mas o dever é austero e frio, e as suas obrigações abstratas não podem substituir o calor da caridade. Será o interesse bem entendido que manda o mestre educar bem, isto é educar com afeto as crianças que lhe são confiadas? A criança não saberá distinguir este afeto interessado da inimitável caridade? Será a bondade natural? Será A criança é naturalmente amável. Sim, até à hora do capricho ou da paixão nascente. Pais e mães, encontrareis só nos corações unidos estreitamente ao coração do Redentor alguma coisa que imita e reproduz, diante dos vossos filhos, a paixão da dedicação e do sacrifício que consome os vossos.
               Abramos o nosso livro de ouro e tomemos, a este respeito, esta afeição enobrecida pela fé.
               Estes corações são ardentes, têm afeto suficiente para expandir por sua vez sobre os seus pais, mestres, colegas, sobre os pobres.
               Um, depois do regresso às aulas, escreve à mãe: “Como te peço perdão pelos incómodos que te causei durante as férias! Como me arrependo! Vou esforçar-me por ter boas notas, a fim de te fazer cada vez mais feliz e fazer-te esquecer as minhas faltas. Quando penso nisto, o coração sangra-me. Não podes imaginar como o meu coração se desfaz só ao pensar que te desgostei. Como quereria penitenciar-me por esta loucura momentânea! Como lamento! Lamento sobretudo a tristeza!” – E tratava-se somente de uma ligeira desobediência.
               Outro tinha adquirido o comovedor hábito de nunca ir para a cama sem antes ter recebido a bênção dos seus pais. “Uma noite, conta ele, como a minha mãe, descontente comigo durante o dia, tinha recusado abençoar-me e se tinha furtado às minhas impertinências retirando-se para o quarto, ajoelhei-me à sua porta chorando lágrimas quentes e suplicando que voltasse. Perto das duas horas da manhã, vendo que eu soluçava em vão e sentindo que a minha glândula lacrimal ameaçava secar, recorri, para conseguir que se abrisse a nova Sésamo, a um procedimento pouco vulgar: juntei todas as cadeiras da sala de jantar e, depois de as ter disposto como obstáculos de pista de corrida, entreguei-me a um exercício de ginástica tão barulhento que depois de um quarto de hora de exercício a minha mãe apareceu cheia dum medo que logo se transformou num riso irreprimível. Quem ri, diz o provérbio, já perdoou; pude assim deitar-me às três horas da manhã, com a sua bênção que consegui com o suor do meu rosto, e mudando a sentença: “Mais vale tarde do que nunca”, noutro da minha lavra: “mais vale de madrugada do que nunca.” É um facto, original sem dúvida, mas que revela bem um coração, não é verdade?
               Outro escrevia à irmã mais velha: “Eu esforço-me, sou muito ajuizado, mesmo assim tive notas baixas que bem mereci, mas somente por causa de pequenas misérias. Se isto não causasse tanta pena aos meus pais, eu facilmente me consolaria, mas quando penso que vão sofrer e sentir-se infelizes, não posso deixar de sentir uma profunda aflição. Isto não passou de um descuido, de pouco de distração. Ah! Se eu pudesse receber outro castigo, não importa qual, para evitar este desgosto aos nossos bons pais!... Se eles vão pensar que sou ingrato… Tudo isto me acabrunha, já não aguento mais… Tu vais talvez dizer-me que fico demasiado triste por tão pouco. Sem dúvida que é pouco, e no entanto é tudo, pois causa desgosto aos meus queridos pais”.
               De um outro, leio este simples pormenor: “Nunca deixou sem responder nenhuma das cartas vindas da família durante os sete anos dos seus estudos”.
               Estes são os factos que dizem o que valem os corações. Devo acrescentar, todavia, que estes corações, tão ardentes de amor filial, me pareceriam cristãmente imperfeitos, se não os visse transbordar de um afeto análogo pelos seus mestres.
               Prossigamos a nossa investigação. Cá está um bilhete escrito depois de um dia de mau humor: “Caro professor, como deve ter sofrido hoje! Como fui ingrato para consigo, não é? Desgostei a Nosso Senhor ao mostrar-me tão pouco ajuizado. Mas o divino Mestre é tão bom! Ele já me perdoou, estou certo, as minhas negligências, e ouso dizer… o meu orgulho. Mas depois do perdão do Senhor falta o do professor. Este ser-me-á também concedido, assim espero. Cheio de confiança, atrevo-me a escrever-lhe estas palavras para lhe mostrar que se o desgostei, estou arrependido. Não voltará a repetir-se outro dia, não é?, em que esta má cabeça torne a fazer das suas. Reze por mim, para que o orgulho saia do meu coração e eu seja doravante mais digno do seu afeto”.
               O segredo destes laços, vê-se numa carta de um aluno novato à sua mãe: “Dou graças ao Bom Deus por me ter colocado em tão excelente casa. Os professores não são duros como nos outros colégios: longe de desprezar os alunos, mostram-nos afeto, e até se juntam aos nossos jogos… Asseguro-vos, minha mãe, que me encontro bem, que só tenho pena de estar longe de si”.
               Mas aqui está o que é mais característico; a carta de um estudante de direito em excursão de férias: “Adivinhai, minha mãe, estou quase louco de alegria no momento em que lhe escrevo. Porquê? Dou-lhe cem por cento de tudo o que quiser. Adivinhe? – Não? – Estou muito longe de si, e todavia salto de satisfação. Para não a fazer esperar mais tempo a revelação do enigma, digo-lhe que vou rever o colégio onde fui educado. Esta querida casa que deixei, há já tanto tempo, vou tornar a vê-la daqui a algumas horas. Poderei voltar a passear pelas suas alamedas que foram tantas vezes testemunhas das minhas brincadeiras! Com o coração a palpitar vou ver a sala de estudo onde trabalhei, as salas de aula onde triunfei, a capela onde gozei instantes de uma alegria tão doce e tão pura!”. No dia seguinte, depois de ter aberto o seu coração numa alegre narração, acrescentava: “Fiquei satisfeito não só pelos meus colegas como também pelos meus antigos mestres; todos aqueles que ainda me conheceram mostraram-me o apego mais terno. Ao despedir-me derramei lágrimas. Como gostaria de voltar a fazer esta viagem de tempos a tempos! Parece-me que isto retemperaria a minha alma.”
               Da caridade para com os pobres, direi apenas uma palavra. Só as casas de educação cristã conhecem as associações de caridade com a visita às famílias e os pequenos sacrifícios feitos diariamente em seu favor.
               Pais e mães de família, dizei-me, não gostaríeis de ver os corações dos vossos filhos numa semelhante lista?


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Educação cristã e virtudes da infância (I)

QUARTO DISCURSO
ACERCA DA EDUCAÇÃO CRISTà
E DAS VIRTUDES DA INFÂNCIA

Discurso pronunciado na distribuição de prémios do Instituto São João, a 4 de Agosto de 1880. V. “A Semana Religiosa da Diocese de Soissons e Laon”, 7º Ano, 1880, p. 556, Distribuição de prémios e pp. 588-589, Instituto São João, de São Quintino. 4º Discurso “Acerca da Educação Cristã e das virtudes da Infância”, in “A Educação e o Ensino Segundo o Ideal Cristão”, pp. 321-335 do IV Volume das Obras Sociais do Pe. Leão Dehon, Edizione CEDAS (Centro Dehoniano Apostolato Stampa) – Andria, 1985.

               Monsenhor,
               Pais e mães de família,
               Meus filhos,

               Todos os anos por esta altura, encontramo-nos reunidos. Se auscultarmos as palpitações do nosso coração, é sempre com uma doce e alegre emoção. A natureza e a graça conspiram harmoniosamente para criar misteriosos laços entre o bispo, os pastores, os pais, os mestres e os alunos. Mais ou menos conscientemente, formamos um todo. Há entre nós atractivos divinos: de um lado a confiança e o amor filial, e do outro ternura, solicitude e bênçãos, doce conjunto em que o afeto é o nó, em que o respeito marca a ordem, e em que a fé, ajudada pelo sentimento da arte, se compraz em contemplar a beleza ideal.
               Nos anos anteriores V. Excia. Revma. estava ausente de corpo, mas presente em espírito e de coração, como se dignou escrever-nos. Este ano, está no meio de nós, por isso a festa não é sem tristeza e a alegria sem reserva.
               Mas, este encontro anual, que objetivos tem? Encontrar-se, faz bem; sentir o bater dos corações em união com os nossos, consola e fortifica; unir as mãos dos pais espirituais com as dos pais segundo a natureza para coroar estas crianças bem-amadas, é bom; mas não é tudo.
               No espaço dum ano, mais do que um golpe foi desferido contra o laço que nos une. O erro e a ignorância tentaram rompê-lo. Este laço encontra toda a sua força, pais e mães, na confiança que depositais no ensino cristão. Quantas vozes em cada ano tendam abalar em vós este sentimento! O ataque é constante na sua energia e variado na sua forma. Nós aproveitamos a ocasião destas festas anuais para dispersar as nuvens que os inimigos ergueram; proclamamos juntos a nossa fé e reanimamos o nosso entusiasmo.
               Há dois anos, a palavra de ordem era: A religião é o obscurantismo. Nós arregaçámos as mangas e dissemos: A religião é a luz das letras, das ciências e das artes.
               O ano passado, a hipocrisia ousava dizer-nos: Vós não sois patriotas. Nós abrimos as páginas da nossa história e dissemos: Vede, a religião na França chama-se Genoveva de Paris, Joana d’Arc, Carlos Martel, Bayard, Duguesclin, Condé; e nestes últimos tempos, os soldados saídos das nossas escolas religiosas não salvaram a honra derramando o seu sangue mais abundantemente que os demais, a quem não negamos, no entanto, o pleno direito de se dizerem patriotas?
               Este ano, não vos parece que uma imprensa nas garras da mentira tentou privar a moral do cristianismo da sua auréola celeste? O logro é grosseiro, sem dúvida, só pode enganar os cegos. Todavia é CRISTO e a Igreja nossa mãe que foram atacados. A título de reparação, exaltemos sob qualquer um destes seus aspetos a santidade cristã. Disse-se até nas altas esferas: A moral cristã é imperfeita e a Educação cristã não forma para a virtude. A provocação não nos apanha desprevenidos, estamos prontos para responder a isso.

I

               A nossa tese é esta: As virtudes da infância encontram na fé e na educação cristã uma base sólida e um crescimento maravilhoso.
               Formulada desta maneira, esta afirmação entra no plano da grande apologia cristã; é como que a primeira página e a mais graciosa. É a verificação na infância e na educação cristã do grande ato da restauração universal por CRISTO. CRISTO engrandeceu tudo: Letras, ciências, artes, pátria, família. Ficaria apenas a infância fora desta exaltação? Não. Contemplai os sublimes quadros que desenvolveram através dos séculos, os mestres do pensamento cristão; chamam-se essas obras capitais “Cidade de DEUS”, “Génio do Cristianismo”, “Defesa da Igreja católica”, “Progresso por CRISTO”, nelas encontrareis sempre aquela cena sedutora que é a infância cristã revestida de amabilidade, pureza, doçura, força, modéstia. É para este retrato que eu quero atrair os vossos olhares. Ele é duplamente atraente, porque é o ideal sob o qual gostais de contemplar estes entes queridos pelos quais os vossos corações de pais e de mães palpitam hoje com tanta emoção.
               Sejamos consequentes para alcançar as convicções. Diremos primeiro aquilo que nos parece ser a perfeição na infância. Veremos depois se os princípios da educação cristã são adequados para a realizar. Procuraremos saber por fim se os factos bem conseguidos são apropriados para provar que esses princípios produziram aquilo que deles se podia esperar.
               Quais são os traços mais acentuados deste ideal de beleza? É bela, não é verdade, a criança prostrada diante de Deus, semelhante ao anjo da oração! É bela perto da sua mãe ou daqueles que partilham com ela o privilégio da ternura e da dedicação, quando o afeto brilha no seu rosto, quando os seus lábios o expressam, quando o seu olhar o pinta e ele transborda do seu coração! É bela a criança que se inclina diante de tudo o que representar DEUS: pai, mãe, educador ou ministro do altar: o respeito na criança, é a ordem, e a ordem é um raio da beleza. É belo o adolescente quando, diante do livro, que contém a ciência que ele ambiciona, a sua cabeça ligeiramente enrugada anuncia o esforço vitorioso do obstáculo! É belo o jovem que traz nos seus traços já viris a marca da energia consciente da sua força! A todos estes traços, acrescentai o da pureza, quer se trate da candura da infância inocente ou do encanto da frescura mantida apesar das lutas até chegar à maturidade.
               Tais são, não é verdade, as principais características desse ideal que procuramos. A piedade, o amor, o respeito, o trabalho, a energia e a pureza são como reflexos ou perfumes desta flor celeste que é a juventude virtuosa preservada do contacto das corrupções da terra.
               São os princípios da educação cristã capazes de realizar este ideal? Para o primeiro traço que descrevemos, a resposta é fácil. Gostamos de ver a criança inclinada diante do seu Criador, oferecer-Lhe, com as suas filiais adorações, as ternas efusões da sua confiante oração e do seu puro afeto. Quem a conduzia melhor do que a educação católica? Ela desenvolve a sua fé ao mesmo tempo que a sua razão. Ela inicia-a bem cedo no seu culto, integra-a nas suas festas, prepara-a para o angélico festim da Eucaristia, e ao mesmo tempo revela-lhe progressivamente os motivos e a razão da sua fé. Ela possui desde o princípio, e sem disso ter consciência, as riquezas da razão e da fé postas ao seu alcance pela educação cristã. A sua razão, desenvolvendo-se, ilumina o ensino que recebeu e justifica a autoridade que lho deu. A sua inteligência coloca novamente, e desta vez com plena liberdade, a sua alma aos pés do seu Deus. A sua fé sente-se apoiada na fé deste mundo de almas que começaram pelo grupo dos Apóstolos e que abarca hoje os dois hemisférios. Ouve atrás de si o testemunho de quinze milhões de mártires; verifica que a afirmação da sua mãe e dos seus mestres está em conformidade com a afirmação da ciência e do génio, com a afirmação dos Agostinhos, dos Jerónimos, dos Anselmos, dos Tomás de Aquino, dos Bossuet e dos Fénelon que se sucedem desde há vinte séculos. Remonta até à afirmação divina dada pelo Verbo de DEUS confirmada pelas suas obras e que desce novamente do Verbo de Deus aos seus mestres e à sua mãe pela sucessão dos pontífices e pela hierarquia da Igreja. Nunca duvidou, não duvidará jamais, e a sua fé é eminentemente razoável. E o seu amor vive desta fé, e a sua vida é uma comunhão sublime com o seu Deus.
               Correspondem os factos aos princípios? Encontramos de facto nas casas de educação francamente cristãs estes anjos da terra cuja piedade sincera é um traço desta beleza ideal que nos encanta? É preciso descer da teoria à história. Temos nós dados que nos forneçam argumentos sérios? Seja-me permitido antes de mais nada observar que um princípio de conduta proposto a inteligências livres e a corações apaixonados, nunca será posto em prática em toda a sua plenitude nem por todos aqueles a quem foi revelado. A Igreja, para justificar a santidade e a fecundidade da sua moral, apenas precisa de provar que o seu ensino só produz santos, mas apenas que os produz sempre, e que cada época pode mostrar aqueles que, souberam elevar-se a um grau heroico se as virtudes que a maioria pratica menos perfeitamente e que alguns até desconhecem. Não provou a sua santidade, quando nos apresentou por exemplo os seus Francisco Xavier, levando aos reinos de um outro continente a civilização cristã; as suas Teresas e as suas Joanas de Chantal, fazendo transbordar a virtude dos seus claustros até à sociedade mundana, à nobreza e à corte; e os Vicente de Paulo, levando ajuda a todas as misérias e a todas as indigências? A Igreja tem esta honra e não a partilha com nenhuma outra doutrina. Nem as igrejas separadas, nem o livre-pensamento escreveram a vida dos seus santos, o que nos leva a crer que não contam com um grande número deles.
               Temos nós algum testemunho análogo para provar a influência da educação cristã nas virtudes próprias da infância? Eu creio e quero que julgueis.
               Não há nenhuma das nossas casas de ensino, eclesiásticas ou religiosas, que não tenha o que se poderia chamar o seu livro de ouro onde estão registados esses gloriosos testemunhos de virtude, e eis como. – Todas as casas de educação têm por vezes a dor de perder alguma das suas crianças, prematuramente apanhada pela morte, desde logo o segredo destas vidas colhidas em flor pertence por assim dizer à história. Se essa vida foi semeada de virtudes mais que ordinárias, e se os mestres dessa casa prezam a edificação dos seus discípulos, vem-lhes à ideia recolher estas recordações amáveis que imortalizam assim essas vidas que a morte quis truncar. Quis colecionar aquilo que chamarei as flores de gracioso canteiro da infância. Contam-se por centenas as variedades, não só esparsas em curtas biografias, como também reunidas em volumes. Pois bem! Devo confessar que não as encontrei fora das casas cristãs, tal como também não encontrei vidas de santos fora da Igreja católica. Para mim, este testemunho está acima de qualquer contestação. E se encontro nestas informações o perfume destas virtudes que procuro, sinto-me autorizado a concluir que estas virtudes reinam nestas casas, e que é só lá, ou lá principalmente, que se deve procurá-las. Façamos uma aplicação imediata. Eu disse que os princípios da educação cristã são capazes de produzir nas crianças esta primeira manifestação da virtude que é a piedade para com Deus e pergunto se a prática corresponde à teoria. Bem! As notícias a que me refiro estão cheias de testemunhos como este (Estas passagens são extraídas das notícias publicadas pelos colégios eclesiásticos ou de Congregações de Besançon, Nîmes, Toulouse, St.-Acheul, Poitiers, etc.): “Admirei muito a sua piedade, e penso nunca ter encontrado uma criança que soubesse rezar melhor; a sua atitude era já uma oração”. – “A sua piedade era sincera, sem sombra de afetação; mais de uma vez, aqueles que tinham cada dia debaixo dos olhos este espetáculo, foram surpreendidos pelo seu porte modesto, e pela sua atitude recolhida”. – “Observei muito este jovem na capela: tínhamos lá um santo”. – “Ele era piedoso, mas sem ostentação, nem sombra de respeito humano. Eu vejo-o ainda de braços em cruz, os olhos docemente baixos, respondendo às orações com sua voz nítida e pausada”. – “Muitos asseguraram que junto dele na igreja, nunca deixaram de ser tocados pelo seu recolhimento e pelo seu fervor.”
               Vós pensais que só descrevi uma destas crianças de elite; é um erro. Nestas poucas linhas, fiz passar diante dos vossos olhos cinco, e se fosse necessário uma centena, encontrá-la-ia. Mas este assunto, penso eu, é menos contestado; Vamos em frente.

transbordar o amor

5ª feira – XXIII semana comum

A explicação do evangelho de hoje é feita por duas santas homónimas, ambas carmelitas, ambas místicas, ambas doutoras da Igreja: Teresa de Ávila e Teresinha do Menino Jesus.

a) Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam…
Citando Chersterton, Teresinha do Menino Jesus lembra que Deus nos manda amar o nosso próximo e o nosso inimigo porque, na maior parte das vezes, são uma e a mesma pessoa.
Também Teresa de Ávila dava graças a Deus a ter livrado de si mesma… pois achava-se a pior inimiga de si mesma.

b) Se amais aqueles que vos amam, que agradecimento mereceis?...
Explica Teresinha do Menino Jesus: E não basta amar, é preciso prova-lo.
Não há alegria comparável à que saboreia o verdadeiro pobre de espírito.
Deixai também a capa àquele que vos quiser ficar com a túnica.
Deixar a capa é, parece-me, renunciar aos seus últimos direitos, é considerar-se como a serva, como a escrava dos outros. Quando se deixa a capa é mais fácil andar, correr; por isso Jesus acrescenta: se alguém vos obrigar a andar mil passos andai com ele mais dois mil.
Assim, não basta dar a todo aquele que me pede, é preciso ir ao encontro dos desejos, mostrar-se muito reconhecida e muito honrada por prestar um serviço; e, se levam uma coisa do meu uso, não devo mostrar que o lamento, mas pelo contrário, parecer contente por me ver livre dela.

c) A medida que usardes com os outros será usada também convosco: deitar-vos-ão uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar.
Eu reparo apenas que a medida de amor tem 4 atributos:
É uma boa medida, isto é, cheia de bondade
Medida calcada, isto é, completa e bem preparada
Medida sacudida, isto é, generosa e gratuita
Medida a transbordar, isto é, inesgotável e eficaz


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Erguendo os olhos



4ª feira – XXIII semana comum

Naquele tempo, Jesus, erguendo os olhos para os discípulos, disse: Bem-aventurados vós…

Não é por acaso que o evangelista diz que Jesus ergueu os olhos para os discípulos quando proclamou as bem-aventuranças. Jesus fez isso não apenas por, segundo a tradição, estar sentado e os discípulos à sua volta…

Então que quer isto dizer?

- Quer dizer que Jesus olha para quem fala. Ele dirige a sua palavra a pessoas concretas, a quem fixa o seu olhar. Ele não fala para gente anónima, sem rosto… Fala sim para gente concreta. A sua palavra é direcionada às pessoas que .
- Jesus ergue os olhos para os seus discípulos… Ele primeiro olha e depois fala. Fala porque viu antes. A primeira pregação é através do olhar. Jesus prende a si primeiro através do olhar.
- Jesus olha os seus discípulos nos olhos, pois os olhos são as janelas da alma. Ao olhar está a abrir a sua alma ao outro e está a abrir para si as almas dos outros.
- Jesus olha os seus discípulos porque conhece-os bem. Ele fala de uma realidade íntima, de algo profundo, pessoal. Ele olha porque confia, porque abandona-se ao outro, olhos nos olhos com toda a franqueza.
- Finalmente Ele olha porque quer ver as duas imagens que cada um ostenta: a imagem da sua situação (bem-aventurado os pobres, os que choram…) e também o futuro ou aquilo que Deus quer que sejam (porque terão o reino dos céus, porque alegrar-se-ão…). São as duas imagens: uma do desígnio de Deus ou da sua vontade e a outra a da realidade concreta e existencial de cada um.

Não nos esqueçamos que Jesus também olha para nós:
- porque nos fala como pessoas concretas
- porque aprendemos melhor com os olhos
- porque através dos olhos entramos na alma
- porque somos seus amigos íntimos
- porque quer que façamos coincidir as duas imagens: da sua vontade e da nossa situação concreta.


terça-feira, 9 de setembro de 2014

Sou porque somos


3ª feira - XXIII semana comum

Jesus escolhe 12 apóstolos: todos iguais, todos diferentes.
Uns casados, outros solteiros.
Um pronto para trair, outro para negar.
Uns pescadores, outro cobrador de impostos ou médico letrado.
Um impetuoso, outro passivo.
Uns eram irmãos, outros primos.
Uns bruscos como filhos de trovão, outro carinhoso.
Uns fugiram, outros esqueceram.
Um zelota, outro guerreiro...
Mas todos com vontade de colaborar.
Ninguém mais importante do que ninguém.

Ainda hoje é assim:
Deus escolhe cada peça!
O importante não é o que cada um é individualmente, mas o que todos juntos compõem .

Comentário da Venerável Irmã Wilson:
"Olhai para a vossa mãe: nenhum dedo é igual, mas todos têm a sua utilidade; o do meio parece maior, mas não se vangloria de o ser; outro parece ter mais honra, porque recebe o anel ou a aliança, mas não é por isso mais útil. Só todos juntos fazem a mão perfeita. Assim devemos ser todos juntos sem nos gloriarmos de sermos maiores, porque sem o auxílio dos outros nada podemos fazer."

Jesus chamou os seus apóstolos para quê?
Para darem a sua vida pela sua causa.
Eis o martírio de cada um dos 12 apóstolos, segundo a tradição:
1. Mateus - morto à espada na Etiópia.
2. Marcos - arrastado pelas ruas de Alexandria até morrer.
3. Lucas - enforcado numa oliveira na Grécia.
4. Tiago, o maior - foi degolado em Jerusalém.
5. Tiago, o menor - foi lançado do pináculo do templo abaixo.
6. Filipe - foi enforcado num pilar em Hierópolis, na Frígia.
7. Bartolomeu - foi esfolado vivo por ordem de um rei bárbaro.
8. André - crucificado em forma de X na Escítia.
9. Pedro - morreu crucificado de cabeça para baixo, em Roma.
10. Judas Tadeu - foi crucificado e atravessado por lanças.
11. Judas Iscariotes - enforcou-se e Matias que o substituiu, morreu apedrejado.
12. João - o único que teve morte natural, morrendo de velhice, o que não deixa de ser uma maneira eloquente de dar a vida por Cristo Jesus.



segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Hoje há festa na terra e no céu


Hoje é o aniversário do nascimento de Maria de Nazaré.

Duas mensagens:

A)
Quando Maria de Nazaré nasceu, ninguém disse que ela era parecida nem com os seus pais, mas sim com o seu Filho.
De facto, quando nós nascemos somos parecidos com os nossos pais. Maria de Nazaré imaculada e isenta de toda a mácula, isto é, nasceu parecida com o Filho que dela um dia iria nascer.
Ela nasceu parecido com o seu filho para que nós vivamos parecidos com ela.

B)
Dizia o Cardeal Fulton Sheen (1895-1978) que Deus tem duas imagens de cada pessoa: A imagem que sonhou para elas e a imagem do que elas são na realidade.
Sim, Deus tem duas imagens de cada pessoa exceto de Maria de Nazaré.
Dela Deus tem apenas uma imagem porque as duas figuras coincidem plenamente.
Toda a sua vida foi fazer coincidir a sua vontade com a de Deus, de modo que o desígnio de Deus sobrepõe-se perfeitamente numa mesma imagem.
Faça-se em mim segundo a tua palavra! Disse ela.
Ela ofereceu a sua vontade a Deus para que nós aprendamos a aceitar a vontade de Deus na nossa vida.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Dia internacional da caridade


Memória da Madre Teresa de Calcutá

Na recordação do aniversário da morte da Irmã Teresa de Calcutá, a Assembleia Geral das Nações Unidas escolheu 5 de setembro como o Dia Internacional da Caridade.

Ela é um ícone da CARIDADE: viveu, rezou, exerceu, contagiou, ensinou e pregou a caridade.

Dizia:
A falta de amor é a maior de todas as pobrezas... e é tão fácil resolver isso porque o amor é uma fruta de todas as estações

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Declaração de fé

Quem é Jesus?

Jesus veio para salvar e não para acusar ou condenar ninguém.
Ele coloca na boca de cada um aquilo que ele próprio poderia declarar e assim atribui-nos o mérito e o fruto.
Pedro faz a sua profissão de fé perante Jesus.
Para mim esta declaração é mais bonita do que a anterior em que dizia: Tu és o Cristo!...
Agora Pedro diz muito simplesmente: Afasta-te de mim que sou um homem pecador!...
Com isto ele quer dizer que Cristo é alguém diante de quem todos se sentem pecadores, pobres, pequenos.
Jesus é de facto alguém diante de quem nós nos sentimos impuros, limitados… e com vontade de nos purificarmos e de nos tornarmos melhores.

E eu olho para mim mesmo: será que também quando me aproximo de Jesus reconheço o quanto pecador, pequeno e limitado sou?
Será que também junto dele sinto vontade de me tornar melhor e a ser como ele?

Obrigado, Pedro, por esta proclamação de fé!