segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Votos de Ano Ano


Um pároco, muito irónico e brincalhão, proferiu nestes termos a sua homilia de ano novo:

“Caríssimos irmãos, estes são os meus votos de Ano Novo para todos os meus paroquianos e para quem mais precisar. Eu desejo:
- Um sino bem grande para despertar os dorminhocos que chegam atrasados à missa.
- Um guarda-sol para os que ficam à porta da igreja ou à porta durante a celebração.
- Uns bons metros de fita-cola ou algumas dúzias de cadeados para quem  costuma conversar  ou bilhardar na igreja.
- Um chicote para flagelar os vícios e as injustiças.
- Uma balança de maior precisão para pesar as palavras.
- Um bom número de espelhos para vermos a nossa própria cara quando tomamos uns copos a mais.
- Melhor iluminação nos cantos da rua para que o casais de namorados possam enxergar-se melhor.
- Uma grande fornalha para incinerar certas revistas.
- Ventoinhas para arejar as cabeças quentes.
- Calculadoras bem exatas para quem salários a pagar.
- Lentes de aumento para os que têm dificuldade em ver como podem ajudar os que precisam.
- Finalmente um mar de amor e compreensão para todos.
Só assim não teremos apenas um novo novo, teremos também um coração novo.
(Cf. Clóvis Bovo)

domingo, 30 de dezembro de 2012

Na Gruta de Belém



Institutos Religiosos na Gruta de Belém

Crónica fiel e original encontrada nas grutas de Qumran, no Mar Morto, pelo teólogo pastoralista João Manso. Trata do modo como se comportam alguns religiosos quando foram visitar Jesus em Belém, nos dias seguintes ao seu nascimento.

“Pois… o primeiro a chegar foi um CARMELITA. Veio de perto, do Monte Carmelo. Viu uma estrela rara que passava por cima da gruta de Elias. Aproximou-se, entrou, mas resolveu não dizer nada a ninguém. De fato, sendo ele discípulo do grande profeta Elias, não percebia a razão por que não fora convidado. Dirigiu-se então ao burro e disse-lhe:
- Sai daí. Esse lugar é meu!
O segundo a chegar foi um BENEDITINO. Chegou, viu, observou, escutou e, abanando a cabeça, exclamou:
- Fraca liturgia e pior gregoriano…
E lá se foi embora, pensando que São José não tinha lido a Constituição sobre a Sagrada Liturgia e que deviam ter-lhe confiado a ele a orientação litúrgica do acontecimento.
Chegaram dois FRANCISCANOS. Ao verem o Menino, disse o mais novo ao Superior:
- Podíamos convidá-lo a entrar na Ordem Terceira, pois parece gente boa e pobre.
- Não – Atalhou logo o superior – porque o Filho é muito capaz de passar à Primeira Ordem, reformar a nossa Regra e então estamos todos tramados!
Mal saíram, entrou um DOMINICANO. Deitou uma olhadela e começou a proferir um discurso sobre o Mistério da Encarnação do Verbo, com citações de São Tomás, Congar e Schillebeekx. Então, o Menino perguntou à Mãe:
- Ó Mãe, o que é que ele disse? Não percebi nada.
- Tem paciência, meu filho. Eu também fico a pensar mais uma vez no que seria aquilo.
Pouco depois, chegou um CAPUCHINHO. Esteve bastante tempo pensativo, aproximou-se de São José e disse-lhe ao ouvido:
- Olhe, se nos conceder uma reportagem exclusiva para a Difusora Bíblica, oferecemos-lhe um carro. Pense bem, pois vai precisar dele para ir ao Egito.
O burro, zurrando, protestou logo. Aquilo denotava ignorância a respeito da Bíblia que diz: Deus salvará os homens e os jumentos.
Chegaram dois JESUITAS. Ficaram muito admirados ao ver que a Maior Glória de Deus Se tinha feito tão pequena e disse o mais novo:
- Padre, dê-lhe a direção do nosso colégio, para que o Menino possa entrar nele quando tiver idade.
- Cala-te. São pobres. Vão para as Oficinas de São José.
E chegou a vez dos SALESIANOS. Disse o mais jovem ao superior:
- Diga aos pais que, quando o Menino crescer, O levem ao nosso colégio.
- Não convém. É capaz de ter ideias subversivas e o Governo pode tirar-nos o subsídio estatal.
Chegou um CORDIMARIANO. Meditou profundamente no mistério e, ao despedir-se, disse:
- Minha Senhor, permita-me que lhe dê um conselho: Era bom que consagrasse o Menino ao Coração de Maria.
- Mas…
- Desculpe, mas nós é que sabemos.
Entra um padre ESPIRITANO. Mal viu o acontecimento, propõe a Maria fazer sociedade com o Espírito Santo. Ela olhou para São José, a pedir conselho.
- Cuidado. Não Te fies, pois esses foram fundados por um judeu…
Por estarem unidos no Coração de Jesus, uns como sacerdotes, outros como filhos, apareceram juntos um COMBONIANO e um DEHONIANO. Mal entraram, começaram logo a fazer propaganda vocacional e disseram à Mãe:
- Dá-nos a impressão de que é capaz de ter vocação missionária.
- Isso já Eu sabia antes de Ele nascer!
- E minha Senhora, ouvimos dizer que tinham vindo por cá uns magos e que tinham trazido uns presentes; pois, com uma parte desse ouro, a Senhora poderia dar-nos uma bolsa de estudos a cada um de nós. Em paga, celebraríamos todos os meses uma missa pelas Suas intenções e pelos Seus defuntos…
Entretanto, tinham chegado um MARIANO, um VERBITA, um Padre da CONSOLATA e outro do PRECIOSÍSSIMO SANGUE que, ao presenciarem o diálogo anterior, disseram uns para os outros:
- Aqui já não há nada a fazer. Vamos embora!
E retiraram-se sem entrar na gruta.
Já bastante atrasados, pois estavam na pregação de uma Missão Popular em Nínive, chegaram dois REDENTORISTAS. Falou o mais novo:
- Minha Senhora, desejávamos propô-los para Sócios do Centro de Caridade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, uma obra de amor ao serviço dos pobres. Para já, o Menino podia ir para o nosso Infantário e, mais tarde, se for bem comportado e tiver bom aproveitamento nos estudos, para o Seminário de Cristo-Rei. Ou muito nos enganamos ou Ele vai dar um grande Missionário, pois parece ter boa pinta. Entretanto, a Senhora podia encarregar-se do Jardim Infantil e o Seu marido da carpintaria do Centro de Caridade.
Maria, José e o Menino sorriram, nada responderam pois aguardavam ainda a visita dos VICENTINOS, dos IRMÃOS DE SÃO JOÃO DE DEUS, OPUS DEI, COMUNHÃO E LIBERTAÇÂO etc. etc.
O Menino adormeceu, São José foi à rua tomar ar fresco enquanto Maria guardava no seu coração tudo o que via e ouvia.”

Espelho da Família

Hoje, festa da Sagrada Família de Nazaré, podemos ver-nos e rever-nos em 3 tipos de espelhos:
 
1. Cada família é o reflexo e a imagem da Santíssima Trindade. Deus fez o Homem à sua imagem e semelhança, isto é, com vocação para viver em família, em comunidade e em comunhão como a Santíssima Trindade que é família ou comunhão. Cada família vê-se assim nesse espelho original.
 
2. Na oração inicial da missa lembramo-nos de que a Família de Nazaré, Jesus Maria e José, é o nosso modelo de vida para que copiemos as suas virtudes familiares. Então a Sagrada Família pode ser o nosso espelho com todas as suas virtudes: respeito, obediêcia, santidade, comunhão com Deus, oração, liberdade, diálogo, amor.
 
3. Cada membro de uma família é o espelho de cada um e vice-versa. Cada um é espelho de nós e nós somos os espelhos dos outros:
 
IGUAIS E DIFERENTES
Conta-se que há muito tempo, no centro de uma cidade, havia uma velha casa abandonada. Certo dia, um cachorrinho, procurando refúgio do sol, atreveu-se a entrar nessa misteriosa habitação. Subiu lentamente escadas poeirentas, empurrou a porta entreaberta e chegou, curioso, a uma sala espaçosa. Com surpresa, deu-se conta da presença de mil cachorrinhos que o observavam com a mesma curiosidade. Começou então a abanar a cauda e a levantar as orelhas. Os outros mil cachorrinhos fizeram precisamente o mesmo. Depois sorriu e todos ladraram festivamente com ele. Ao deixar aquele lugar, pensou consigo mesmo:
- Que casa tão acolhedora! Voltarei aqui mais vezes...
Tempos depois, outro cachorrinho entrou também no mesmo sítio e ao ver os mil cachorrinhos, sentiu-se ameaçado, pois todos o olhavam de maneira agressiva. Começou então a ladrar ferozmente e os outros cachorrinhos também lhe ladraram da mesma maneira. Ao abandonar a casa, pensou:
- Que lugar mais violento! Nunca mais voltarei aqui...
E ao olhar para trás, em jeito de despedida, reparou no letreiro que dizia: CASA DOS MIL ESPELHOS.
Assim é o nosso mundo. Todos os rostos são espelhos... O rosto que eu mostrar será o rosto que encontrarei.
E Jesus repetirá: o que desejares que te façam, faz tu ao teu próximo.
E no mundo haverá mais paz... e maior união em cada família.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Há 100 anos


Pe. Cláudio (Barnabé) Charcosset, SCJ

 
Nasceu a 20/07/1848 em Chissey-les-Macon  (S & L, França)
Foi ordenado Sacerdote a 07/12/1874 em Autun (S & L)
Professou em São Quintino a 26/12/1885
Foi capelão dos operários em Val-des-Bois de 6/07/1887 até 1912
Fez a profissão Perpétua a 06/09/1890
Foi Conselheiro Geral em 1886-1888; 1893-1896 e 1902-1912. 
Morreu em Nice a 29/12/1912

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A vida de um sacerdote vítima

O Pe. Charcosset, que durante dez anos devia ocupar as altas funções de Assistente Geral do nosso Instituto, nasceu a 20 de julho de 1848 em Chissey-les-Macon (Saône-et-Loire). Os seus pais, ambos professores de escolas públicas, eram dos que, apesar das leis escolares supostamente neutras, mantiveram a oração na lista do seu programa. O seu filho Cláudio teve que esperar até aos 14 anos para poder receber as suas primeiras lições de latim dadas por um padre vizinho. Assim quis o Bom Mestre testar a sua vocação. Depois desta escola presbiteral vieram os anos de seminário menor. Em 1868 encontramo-lo já no seminário maior de Autun.
A 2 de julho de 1874 Cláudio Charcosset foi ordenado sacerdote e logo o seu bispo o nomeou segundo vigário de Charolles, uma das maiores paróquias da diocese de Autun. Dois anos depois, o Pe. Charcosset, sendo o braço direito do pároco como seu primeiro vigário, socorria o seu venerável pastor de idade avançada; só a morte os separaria após onze anos de colaboração.
Exteriormente, as memórias que se guardaram do Pe. Charcosset mostram-no muito zeloso no púlpito, no confessionário e à cabeceira dos doentes. No que diz respeito à vida interior, o Pe. Charcosset foi singularmente orientado pelas circunstâncias até à devoção ao Coração de Jesus: Charolles, de fato, não está longe de Vérosvre onde ainda se pode ver a casa de Santa Margarida Maria. Paray-le-Monial e as suas deliciosas atrações abriram lhe a alma ao conhecimento, aos afetos, aos desejos, às aspirações do Coração de Jesus. 
O Pe. Charcosset, apesar de tão feliz no seu ministério, inquietava-se... Deus não lhe pedia para aspirar à vida religiosa mais íntima e para morrer para o mundo? Consultado desde 1876, o seu bispo não quis que acedesse a estes desejos. Teria de esperar pela hora da Providência, entregando-se com novo ardor às obras que melhor correspondiam às suas aspirações íntimas. 
Uma religiosa piedosa, a Irmã Maria do Sagrado Coração, da Visitação de Bourg, impressionada com esta palavra de Nosso Senhor a Santa Margarida Maria: "Eu quero formar ao redor do meu coração uma coroa de doze estrelas, composta pelos meus mais queridos e fiéis servos” tinha proposto às suas irmãs, na festa das Cinco Chagas, a 13 de Março de 1863, que partilhassem as horas do dia, somando assim, vez por vez, um tempo de guarda a Jesus na Eucaristia, para o confortar dos ultrajes com que é ofendido. 
"Cada associado escolhe uma hora do dia, durante a qual, em união com um dos nove coros de anjos ou a Virgem Maria e os Santos, sem alterar a sua ocupação normal, se esforça para honrar e consolar o Coração de Jesus, através da uma lembrança constante deste Coração, de muitas orações, jaculatórias e oferta dos seus pensamentos, palavras, ações e sofrimentos ao Coração de Jesus presente no tabernáculo. Os nomes dos associados são escritos numa espécie de quadro, com a hora indicada por cada um. ("Reino do Sagrado Coração de Jesus..." Volume II, p. 555. Paris-Montmartre). 
Extraordinários foram os resultados alcançados por esta nova Associação de modo que Bourg tornou-se um centro tão vivo desta nova forma de devoção, que depressa sonharam assentar o seu projeto sobre bases mais sólidas: no seu plano constava erguer um santuário ao Coração de Jesus e associar sacerdotes para perpetuar esta devoção. Enquanto se aguardava a realização destes sonhos futuros, quis a Providência que o Pe. Charcosset contatasse com outra Fundadora contemporânea, que perseguia o mesmo objetivo. E assim aconteceu…
O Pe. Charcosset relata ele mesmo numa carta de 15 de janeiro de 1912, as origens da sua relação com a Madre Maria Verónica: 
“A primeira vez que ouvi falar da Madre Verónica, estava no meu segundo ano de pároco, tanto quanto me lembro. Eu tinha então uma inclinação para a perfeição, mas a minha vida era tão ativa que isso não passava de um desejo. Um dia, recebi a visita de uma comerciante de flores de Bourg en Bresse, nada lhe comprei, mas ela deu-me muito. Basicamente, esta pessoa era uma apóstola do ideal da Madre Veronica. Eu tinha o desejo de ver a fundadora das Vítimas. Em 1876 fui a Avenières. Foi aí também que vi pela primeira vez o Pe. Prévot. Conversamos muito e repetidas vezes com a Madre. Conversamos sobre a obra dos padres-vítimas, e eu dei o meu nome, determinado a deixar Autun, logo tivesse permissão.”
Em 1884, por força das circunstâncias, o Pe. Charcosset obteve do Bispo de Autun dispensa para entrar na Vida Religiosa. “Eu pensava da Companhia de Jesus, diz numa carta de 15 de janeiro de 1912, mas não conseguia encontrar a paz nesta decisão… Então fui a Lourdes com o Pe. Picard, onde rezámos à Virgem, mas mesmo assim não se fez luz.” 
Regressando a Charolles, onde era Vigário, encontrou uma carta da Madre Maria José, que contava como o Pe. Galley (primeiro discípulo da Madre Verónica e que se juntou aos Oblatos do Coração de Jesus) ficara satisfeito por ter finalmente entrado no noviciado de São Quintino e onde dizia que o aguardava. Sem hesitar, partiu para lá e chegou a São Quintino a 8 dezembro de 1884. No Natal, o Pe. Charcosset foi recebido noviço pelo Pe. Dehon. 
Fez os primeiros votos a 26 de dezembro de 1885 tomando o nome de Barnabé. Nos dois anos seguintes o Pe. Charcosset esteve na vida ativa pregando missões e retiros nas paróquias e comunidades de São Quintino. 
Finalmente, na Festa do Coração de Jesus, em 1887, foi enviado como capelão, para as fábricas de Leão Harmel em Val-des-Bois. Custou-lhe muito sair de São Quintino, mas obedeceu com devoção.
Sacerdote de intensa vida interior, com onze anos de experiência paroquial, tendo fundado e dirigido várias obras sociais, estava bem preparado para esta nova missão. Apesar disso começou por estudar as questões sociais e a escrever vários artigos para envolver outros sacerdotes nessa causa.
Em 1902 o Pe. Charcosset foi escolhido para Assistente Geral do Pe. Dehon. Alegremente aceitou esse serviço como expressão da sua vida da vítima, fazendo a vontade de Deus. Durante uma visita a Sittard, em 1908, sentiu-se gravemente doente. Imediatamente pensou preparar-se para a morte. Recebeu a santa Unção “com uma calma que até se surpreendeu a si mesmo.” Foi só um aviso. Ele nunca mais recuperou totalmente. 
No final de 1912 foi em peregrinação a Roma. No regresso parou em Nice, na companhia de Leão Harmel. Foi aí, a 29 de dezembro de 1912, que entregou a sua alma a Deus depois de oferecer a sua vida "pela Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus e pelos operários de Val-des-Bois que tinham sido as suas grandes paixões.” (Cf."O Pe. Dehon e a sua obra, Pe. Ducamp)

Nesse dia o Pe. Dehon escreveu no seu diário:
“O meu bom Assistente, o Pe. Bernabé Charcosset morreu em Nice. É uma grande perda para a Congregação. Ele deixa-nos a reputação de um muito bom Padre, um homem de Deus. Ele era um discípulo da Madre Verónica. Durante 25 anos foi capelão dos operários em Val-des-Bois com um ministério muito frutuoso.”
Mais tarde o mesmo Pe. Dehon propõe-no como exemplo a seguir:
“Meu querido Pe. Alberto Bodin. Sê muito fiel… Eu desejo que se possa mais tarde dizer de ti como se diz do P. Charcosset: Ele era um padre muito bom e um religioso devoto, fez um bem enorme.” Os mais velhos partem. Apressai-vos, vós os mais jovens, para serdes capazes de assumir a tarefa de fazer mais e melhor do que nós. Mas acreditai que só a humildade assegura e prepara as graças.  Que todos sejam ferverosos. Eu vos abençoo paternalmente João do coração de Jesus” (página 568 NQ5 nota 64).
O seu nome aparece no Testamento Espiritual do Pe. Dehon escrito nos sombrios dias da I Guerra Mundial:
“Enquanto eu fundava a Congregação em São Quintino... as Irmãs Vítimas de Namur preparavam alguns santos sacerdotes que vieram depois juntar-se a nós, como o Rev. Pe. André, de santa memória, e o Pe. Charcosset, meu fiel assistente.” (CF 31.12.1914 (?) Année 1914: Testament spirituel. Inventaire: 7.04 AD: B3/12 Cf. Lettres Circulaires n. 407-421)

Santos Inocentes


Instituída pelo Papa São Pio V, a festa dos Santos Inocentes ajuda-nos a viver com profundidade esta quadra de Natal. Tem o seu fundamento nas Sagradas Escrituras. Quando os Magos se retiraram, a Sagrada Família partiu para o Egipto… Então Herodes mandou eliminar todas crianças de Belém numa tentativa de acabar com o Menino Jesus. Quanto ao número das vítimas os Gregos diziam ter sido 14.000; os Sírios 64.000; o martirológio de Haguenau (Baixo Reno) 144.000. Calcula-se hoje que terão sido cerca de vinte ao todo, mas nem que tivesse sido uma só, teríamos motivo para reparar a dor.

É aqui que começa o mistério da paixão… começa e não há maneira de acabar…

Sempre que uma criança é maltratada ou eliminada, a paixão de Cristo continua.

É por isso que podemos ouvir hoje o lamento de Herodes:

- Antes de me acusarem pela matança dos inocentes, lembrem-se do que estão a fazer com os que estão para nascer… abortos, fome, violência, abusos, negligências!

É por isso que esta festa passou a ser o dia da bênção das crianças para reparar o mal que lhes fazem.

Na Idade Média, nos bispados que possuíam escola de meninos de coro, a festa dos Inocentes passou a ser a festa destes. Começava nas vésperas de 27 de dezembro e acabava no dia seguinte. Tendo escolhido entre si um "bispo", estes pequenos cantores apoderavam-se das estolas dos cónegos e cantavam em vez deles. A este bispo improvisado competia presidir aos ofícios, entoar o Invitatório e o Te Deum que a liturgia reserva aos prelados maiores. Só lhes era retirado o báculo pastoral ao entoar-se o versículo do Magnificat: Derrubou os poderosos do trono, no fim das segundas vésperas. Depois, o "derrubado" oferecia um banquete aos colegas, a expensas do cabido, e voltava com eles para os seus bancos.

Esta extravagante cerimónia também esteve em uso em Portugal, principalmente nas comunidades religiosas.

É que nem sempre os santos são inocentes e nem sempre os inocentes são santos.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Predileto


 Do Sermão de São João Evangelista, pregado na Capela Real, em 1644 pelo Pe. António Vieira:

O valor de São João aos olhos de Jesus

“Ao pé da cruz, foi São João Evangelista deixado em herança, e, a meu ver, este é um dos grandes louvores do discípulo amado: ser amigo de quem pode deixar em herança. Um dos grandes escândalos que tenho do mundo é por que se não há de deixar em testamento os amigos? Na morte os homens deixam em herança todos os bens, e por essa mesma razão parece que haviam de deixar em testamento os próprios amigos em primeiro lugar porque, entre todos os bens, nenhum bem há maior que os amigos, e entre todas as coisas nossas, nenhuma é mais nossa que os amigos. Pois, de os amigos são os nossos maiores bens e os bens mais nossos por que não os deixamos por testamento? A razão é esta: porque os bens que deixamos em herança e podem ser herdados são aqueles que permanecem depois da morte, e os amigos ainda que sejam os nossos maiores bens, são bens que se acabam com a vida. O maior amigo permanece até à morte: depois da morte ninguém é amigo…

E como as amizades humanas são bens que não permanecem depois da morte, por isso os homens não deixam em testamento estes bens, por isso se não deixam os amigos em testamento. Só São João Evangelista foi exceção desta regra.  Fez Cristo o seu testamento na hora da morte, e a principal herança de que deixou foi São João… Sabia que o amor do seu discípulo predileto não havia de acabar com a vida: por isso foi a herança principal do seu testamento… e deixou-o à sua mãe.

Quando Cristo fez o seu testamento na cruz teve duas coisas para legar: deixou como testamento o reino e São João. E a quem deixou estes dois legados? O reino ou o paraíso deixou-o a Dimas, o bom ladrão. São João foi deixado à sua mãe. Pois, como assim, Senhor, parece que se haviam de trocar os testamentos: o discípulo bastava deixá-lo a um amigo; o paraíso convinha deixá-lo, à Mãe. Pois, por que deixa o discípulo à Mãe, e o paraíso a Dimas? Porque a quem Cristo amava mais era bem que deixasse João; e a Dimas a quem amava menos, deixou o paraíso, porque muito menor herança era o paraíso do que João…

À Mãe, a quem amava mais, deu João; a Dimas, a quem amava menos deu o reino, porque, pondo em fiel balança, de uma parte o paraíso do céu, de outra parte a João, entendeu Cristo que dava mais a sua Mãe em lhe dar João, do que a Dimas em lhe dar o paraíso.

E o maior elogio que se pode fazer a um protegido de Jesus: João fez muitas coisas grandes sem Cristo visivelmente presente, enquanto Cristo não fez as maiores coisas sem João…

São João sem Cristo venceu os tormentos de Roma; sem Cristo bebeu os venenos de Éfeso; sem Cristo padeceu os desterros de Patmos; sem Cristo converteu e reduziu a Cristo a Ásia; sem Cristo ensinou todo o mundo e propagou a lei do amor de Cristo. Grandes coisas fez São João sem Cristo. Pelo contrário, Cristo com João apenas fez coisa grande. Fez Cristo o primeiro milagre nas bodas e aí estava São João; ressuscitou Cristo a filha do chefe da sinagoga e levou consigo São João; instituiu Cristo a Eucaristia, que foi a maior das suas maravilhas e tinha São João sobre o seu peito; transfigurou-se Cristo no Tabor e São João assistiu àquela glória; derramou sangue Cristo no Horto e São João acompanhou-o naquela pena; enfim, remiu Cristo o mundo morrendo na cruz e não teve outrem a seu lado, senão São João…”

Também nós somos os discípulos prediletos de Jesus. A seus olhos nós valemos muito, tanto como valia São João.

Também nós podemos fazer maravilhas, ou melhor, Deus pode fazer maravilhas agindo em nós.

 

 

Natal (32)


Duas Festas

 
No início, o nascimento de Jesus era festejado a 6 de janeiro, especialmente no Oriente, com o nome de Epifania, ou seja, manifestação. Os cristãos começaram por comemorar o natal de Jesus juntamente com a chegada dos reis magos, mas sabiam que nessa data Cristo já havia nascido havia alguns dias. Isso porque a data exata é um dado que não existe no Evangelho.

Entretanto, antes de Cristo, em Roma, a partir do imperador Júlio César, o 25 de dezembro era destinado aos pagãos para as comemorações do solstício de inverno, o "dia do sol invencível". Era uma festa tradicional para celebrar o nascimento do Sol após a noite mais longa do ano no hemisfério Norte. Para eles, o sol era o deus do tempo e o seu nascimento nesse dia significava ter vencido a deusa das trevas, que era a noite.

Era, também, um dia de descanso para os escravos, quando os senhores se sentavam às mesas com eles e lhes davam presentes. Tudo para agradar o deus sol.

No século IV da era cristã, com a conversão do imperador Constantino, a celebração da vitória do sol sobre as trevas não fazia sentido. O único acontecimento importante que merecia ser recordado como a maior festividade era o nascimento do Filho de Deus. Mas os cristãos já vinham, ao longo dos anos, aproveitando o dia da festa do "sol invencível" para celebrar o nascimento do único e verdadeiro sol dos cristãos: Jesus Cristo. De tal modo que, em 354, o papa Libério decretou, por lei eclesiástica, a data de 25 de dezembro como o Natal de Jesus Cristo.

A transferência da celebração motivou duas festas distintas para o povo cristão, a do nascimento de Jesus e a da Epifania.

 
Hoje temos um caminho inverso: Se o dia de Natal foi ocupar e substituir uma festa pagã, hoje há a tentação de paganizar esta celebração cristã. Basta ver as expressões festivas que nada têm a ver com o espírito cristã… onde há lugar para tudo e para todos exceto para o Deus Menino.

É uma maneira de tomarmos consciência de que Cristo precisa de nascer no nosso mundo, ou o nosso mundo precisa cada vez mais da presença de Cristo.

 

 

Natal (31)


Paz na terra

 
O cantor Roberto Carlos lançou em 1980 uma canção onde canta o sonho em que uma luz em forma de menino lhe apareceu e lhe ensinou uma canção de paz para ser entoada pelas crianças de todo o mundo.
Neste Natal, eu acho que sei quem é esse Menino que quer ensinar essa canção de paz.

 A guerra dos meninos

 Hoje eu tive um sonho que foi o mais bonito
Que eu sonhei em toda a minha vida
Sonhei que todo mundo vivia preocupado
Tentando encontrar uma saída
Quando em minha porta alguém tocou
Sem que ela se abrisse ele entrou
E era algo tão divino, luz em forma de menino
Que uma canção me ensinou

Lá lá rá lá rá lá…(coro)

Tinha na inocência a sabedoria
Da simplicidade e me dizia
Que tudo é mais forte quando todos cantam
A mesma canção e que eu devia
Ensinar a todos por ali
E quantos mais houvessem para ouvir
E a fé em cada coração, na força daquela canção
Seria ouvida lá no céu por Deus

Lá lá rá lá rá lá…(coro)

E saí cantando meu pequeno hino
Quando vi que alguém também cantava
Vi minha esperança na voz de um menino
Que sorrindo me acompanhava
Outros que brincavam mais além
Deixavam de brincar pra vir também
E cada vez crescia mais aquele batalhão de paz
Onde já marchavam mais de cem

Lá lá rá lá rá lá…(coro)

De todos os lugares vinham aos milhares
E em pouco tempo eram milhões
Invadindo ruas, campos e cidades
Espalhando amor aos corações
Em resposta o céu se iluminou
Uma luz imensa apareceu
Tocaram fortes os sinos, os sons eram divinos
A paz tão esperada aconteceu
Inimigos se abraçaram e juntos festejaram
O bem maior, a paz, o amor e Deus

Lá lá rá lá rá lá…(coro)


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Santo Estêvão


 
Porque esta festa neste dia?

 
- Para nos lembrar que Jesus nasceu como nós para que nós pudéssemos viver e morrer como Ele.

 
- Para nos lembrar que o Natal não é apenas um ponto de chegada, mas sobretudo um ponto de partida. A partir daí todos podem começar uma nova caminhada. Estêvão foi o primeiro a terminar o seu percurso… Ele é o proto mártir (o primeiro). O seu nome em hebraico e em grego quer dizer Coroa ou Coroado. Ele foi o primeiro a receber a coroa de glória, o primeiro atleta a atingir a meta e a alcançar o prémio do combate.

 
- Para nos lembrar que no estilo de vida que Jesus veio inaugurar não há apenas frutos, graça, glória, mas também sofrimentos, contrariedades, dor, cruz. Aliás, as árvores que não dão fruto, não levam pedradas.

Natal (30)


Ecos do Natal

 

1. Na noite de Natal, Maria tem o seu filho nos braços. Olha-o com ternura, afaga-o e diz-lhe ao ouvido:

- Como podem chamar-te ‘Dogma de fé’? Não é, amor?!

 

2. Nos campos os anjos aproximam-se dos pastores e dizem-lhes:

- Não temais!

Eles ficam admirados… Que raio de mensagem é aquela – Não temais?!

Só depois é que os anjos completam:

- Não temais porque nasceu-vos um Salvador, Jesus Cristo Senhor!

De fato a primeira mensagem do Natal é “Não temais”.

Também será a última expressão de Jesus, depois da sua Ressurreição “Não temais, sou eu”.

Jesus, desde o seu nascimento até ao fim dos tempos continua a repetir “não temais”.

Foi para isso que Ele nasceu, para nos livrar do medo.

Nas Escrituras, de fato aparece 365 vezes esta mesma expressão, porque nós precisamos de nos lembrarmos cada dia do ano que Ele nasceu para nos tirar do temor ou do medo.

Há que ter confiança.

 

3. Deus fez-se pequenino para que o homem se tornasse grande. Deus fez-se pequenino para crescer connosco. E só nos tornaremos grandes vivendo como Ele, na dignidade de Filhos de Deus.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal (29)


 Tão pequeno e tão grande

 
O menino perguntou ao pai:

- Pai, qual é o tamanho de Deus?

Nessa altura, ao olhar ara o céu, o pai avistou um avião e perguntou ao filho:

- Que tamanho tem aquele avião?

E o menino respondeu:

- É tão pequeno, quase não dá para ver.

Então o pai levou-o ao aeroporto. Ao chegar perto de um avião, perguntou:

- E agora qual é o tamanho deste avião?

E o garoto respondeu:

- Pai, este é enorme…

Então, disse-lhe o pai:

- Assim é Deus. O tamanho vai depender da distância que tu estiveres dele. Quanto mais perto estiveres dele, tanto maior ele será na tua vida.
 
Assim é o Deus Menino.
Só aparece pequeno quando estamos longe dele.
Junto dele, nós é que parecemos pequeninos.


 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Natal (28)


 Corrida para Belém
 
Todos os anos na Judeia havia uma corrida de animais para a Gruta de Belém.
Cada um preparava-se para a longa caminhada para chegar em primeiro lugar.
A partida é dada no Primeiro Domingo do Advento.
O cavalo galopa, a lebre saltita, o lagarto rasteja, a águia plana nas alturas, o galo esvoaça…
Praticamente aproximam-se quase todos ao mesmo tempo… vai ser difícil apurar o vencedor.
Na linha da meta, mas que surpresa! Já lá estava a tartaruga.
- Mas como? Em vez de tartaruga vieste de tratoruga, isto é, em trator próprio?
- Nada disso. É que este ano nunca me afastei daqui… Respondeu a tartaruga.
Pois é. A melhor maneira de chegar primeiro, a melhor forma de se encontrar com alguém é nunca se afastar.
 

Natal (27)


 

Do Presépio ao Calvário a caminho do Paraíso

 
Diz-nos uma antiga lenda que a Sagrada Família, quando fugia de Belém para o Egipto, foi surpreendida pela noite junto de uma espelunca de salteadores do deserto. Foi acolhida com hospitalidade pela mulher do chefe da quadrilha.

Essa mulher vivia torturada. Seu único filho, a única réstia de inocência daquela espelunca, estava atacado da lepra.

Nossa Senhora, antes de se deitar, pediu um pouco de água para lavar o Menino Jesus do pó do caminho.

De manhã, muito cedo, recomeçou a Sagrada Família a viagem. A mulher do bandido notou naquela família qualquer coisa de misterioso. Tomou, então, o seu filho leproso, Dimas, e banhou-o na água que lavara Jesus Menino. E a carne da criança ficou pura como a mãe suspirava.

Passaram-se anos e Dimas, que seguira a vida do pai, praticou também numerosos crimes. Preso, foi condenado a morrer na cruz no cimo do Gólgota, ao lado de Cristo. Outro ladrão foi condenado com ele também. Mas Dimas, que fora lavado já pela água de Jesus em pequeno, ia sê-lo agora pela Sua misericórdia. Vendo que Jesus estava inocente e reconhecendo a sua culpa, arrependeu-se e pediu a Jesus que se lembrasse dele no Paraíso. E o Filho de Maria e o filho da mulher do ladrão encontraram-se ambos no Paraíso.

 

 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Natal (26)


Lições do Menino Jesus

 
Segundo a obra de D. Leonor de Noronha: “Este livro é do começo da história da nossa redenção, que se fez para consolação dos que não sabem latim” Lisboa 1552.

1. São José olhava para a Virgem Maria, cheio de angústia. Se desejava entregá-la de novo à família, não era por mal, mas sim por se julgar indigno de viver portas adentro com Nossa Senhora, a virgem prometida pelos profetas. O certo é que ambos sofriam. E Nossa Senhora, vendo andar José coidoso, suplicava a Deus que lhe valesse naquela aflição. Deus permitiu que ela sofresse muito.
Por conseguinte também nós havemos aqui de semear lágrimas, para sacar no céu alegrias.

2. Grande foi o conforto da Virgem Maria, quando José lhe contou a aparição do anjo, a explicar-lhe o mistério que tanto o embaraçava: ela era a Mãe de Deus.
Agora sim, que deleitação dos amantes falar nos amados.

3. Uma vez ordenado o recenseamento de todo o império, José e Nossa Senhora meteram-se a caminho de Belém pois dali era a tribo a que pertenciam.
Somos nós tão soberbos e mal ensinados que não queremos obedecer aos senhores e justiças temporais… sem murmurarmos.

4. A Virgem Maria chegou a Belém, desejosa de achar onde se metesse. Os forasteiros eram muitos e pagavam bem as pousadas. Todos respondiam que Nossa Senhora estava para dar à luz e certamente desejaria uma casa toda. E desta forma andaram de porta em porta, como os mendigos.
Quanto a nós, tiremos daqui uma lição: Não queiramos ter pousada no mundo, porque esta vida é caminho! Nele nascemos e nele andamos para a pátria celeste.

5. À meia-noite São José acordou com um grande lume que alumiava a casa. Então viu Nossa Senhora de joelhos e mãos erguidas, e nisto nasceu o Senhor: abaixou-se a Senhora Nossa e tomou-o nas mãos, alevantando-o do chão, e adorou aquele pequenino menino e grande Deus, grande Deus segundo a divindade, pequeno segundo a humanidade, em que era seu filho.
Para ver o grande Deus já não é preciso olhar para o alto, basta olhar em frente.

7. A Virgem Maria envolveu a criança em panos porque fazia muito frio.
Vestido de paninhos baratos e pobres, veio mostrar aos homens que melhor é pobreza que riqueza.

8. Qual é o coração que não se derrete em lágrimas ao ver Deus feito menino e lançado em manjedouras de bestas?
Assim o reclinou Nossa Senhora, porque não achou outro melhor lugar entre os homens.

9. Os anjos foram dar a boa nova aos pastores: nasceu-vos hoje o vosso Salvador.
Grande mistério ter Deus revelado tão altos segredos a tão rudes pastores! E eles conheceram que toava no céu o que viram chorar no presépio.

10. O sinal dos anjos aos pastores para reconhecerem o Menino Jesus foi este: Deitado numa manjedoira! Assim não se enganariam.
Por isso, grande vergonha devem ter os pastores da igreja de terem grandes paços e bem aparamentados pois o sinal que o anjo deu do bom pastor foi que estava posto no presépio embrulhadinho em paninhos.

11. Gaspar, Belchior e Baltasar ofereceram oiro, incenso e mirra. Onde parava São José nessa altura? Talvez tivesse ido buscar cavacos, para aquecer o menino.
A Virgem contou-lhe como vieram ali os Magos e mostrou os dons e ofertas que lhe deixaram, alegrando-se de ter assim o que dar aos pobres.

12. No exílio do Egipto, São José, Nossa Senhora e o Menino Jesus viviam na cidade chamada Heliópolis talvez em casa alugada. E São José andaria a pedir esmola para pagar a renda, levando consigo a Virgem Maria com o filho ao colo.
Deste modo, aprendeu o Senhor a sofrer necessidades e a doer-se tanto dos pobres que dá o paraíso a quem lhes der um púcaro de água.

CF Mário Martins, in D. Leonor de Noronha e o Menino Jesus, Brotéria, Vol LXXIV, Janeiro de 1962, nº 1, página 57-67
D. Leonor de Noronha, é uma figura da cultura portuguesa do século XVI, tendo nascido, segundo parece em 1488 na cidade de Évora. Era filha de D. Fernando de Meneses e de D. Maria Freire de Andrade que foram os primeiros condes de Alcoutim. Dedicou toda a sua vida aos livros e nunca quis casar. Morreu aos setenta e cinco anos, em Évora a 17 de Fevereiro de 1563.

 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Natal (25)


Bem aparecido e bem parecido


Um professor do curso das Artes fez o retrato, a lápis de aguarela, do filho do meu amigo e colega de Direção da Escola.
Quando o garoto de 4 anos chegou à sala, o pai mostrou-lhe, cheio de orgulho, o lindo quadro, retrato fiel do rosto do seu menino. Este ficou a mirar o quadro sem proferir nenhuma palavra.
Como todos ficaram na expetativa de uma reação, antecipei-me para perguntar:
- Então, Mateus, sabes quem é este menino que está aqui no quadro?
Ele sorriu e respondeu com toda a naturalidade:
- É o Jesus!
- Bravo! Exclamaram todos os presentes.
Até mesmo o pintor se ali estivesse ficaria orgulhoso com esta resposta.
É que aquele miúdo achava que Jesus era parecido com ele.
 
De facto Jesus ao nascer em Belém quis ficar parecido connosco para que nós fôssemos cada vez mais parecidos com Ele.
Aos 4 anos, o Mateus já chegou a essa conclusão.

Obrigado Mateus, por esta revelação perfeita do mistério do Natal.
Eu estou seguro de que Jesus deve ser muito parecido contigo.
 
E mais uma vez, Deus revelou aos pequeninos os mistérios do Reino, ou seja, os pequeninos revelaram aos graúdos os mistérios divinos.
         
Que Jesus seja mais uma vez bem aparecido entre nós e que todos sejam sempre bem parecidos com Ele.

Bom Natal!

Ficar mudo

 
“Disse o anjo Gabriel a Zacarias:
- Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras.”
 
E eu fico a pensar:
 
- E se todos os sacerdotes ou então se todos os cristãos com pouca fé ficassem mudos como Zacarias? Ninguém escaparia, pois todos sofremos do mesmo mal e seríamos uma terra de mudos. Aliás, é isso mesmo que se passa, pois para as coisas de Deus todos nós somos muitas vezes cegos, surdos e mudos.
 
- Mas afinal o que aconteceu? Ele ficou mudo porque duvidou, ou duvidou porque ficou calado? A mudez é a consequência das suas dúvidas ou as suas dúvidas são consequências da sua mudez? De facto, quem não tem fé não fala, não apregoa, não professa publicamente a sua fé. Eu fico mudo não por duvidar, mas duvido porque fico calado… A fé se não for falada é uma fé falhada!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Genealogia de Jesus


O Evangelho de Mateus abre com um elenco genealógico de Jesus.
À primeira vista parece uma inutilidade e uma perca de tempo ou de paciência ler ou ouvir tantos nomes tão difíceis de pronunciar e que não nos dizem nada…
Mas pensando bem… este começo está repleto de mensagens:
 
1. É uma mensagem de unidade.
É uma forma de vincular a união entre o Antigo e o Novo Testamento.
 
2. É uma mensagem de eternidade.
Desde sempre Deus foi preparando a humanidade até chegar à plenitude dos tempos. Deus não só convida a preparar, como dá o seu exemplo, preparando-se desde toda a eternidade.
Deus sonhou, preparou, quis e realizou a encarnação do seu filho.
 
3. É uma mensagem de historicidade.
A encarnação de Jesus é histórica, faz parte da história da humanidade… não é uma ficção ou um mito, mas sim uma realidade. A história de personagens históricas entra na história divina. Não sabemos onde começa a história divina e acaba a história humana e vice-versa.
É um acontecimento situado historicamente na nossa terra.
 
4. É uma mensagem de amizade.
Deus é um ser pessoal e relaciona-se com cada um chamando-o pelo seu próprio nome. Deus conhece os homens pelo seu nome… É um sinal de intimidade, de relacionamento pessoal.
Deus veio partilhar a sua intimidade num mundo relacional e pessoal. Nós somos da família de Deus e Deus quis ser um dos nossos. Para Deus não há ninguém anónimo.
 
5. Finalmente é uma maneira de afirmar a dimensão universal e global da salvação.
De fato, ao longo da genealogia são nomeadas também algumas mulheres, mais exatamente quatro – Rute, Tamar, Raab e Batsabé. Duas destas são hebreias e as outras duas pagãs. As últimas três foram até pecadoras com grande notoriedade. Mateus quer passar assim a mensagem, desde o começo até ao fim do seu livro, que Jesus veio para salvar a todos, justos e pecadores, hebreus ou pagãos.