quarta-feira, 31 de março de 2010

Beato Carlos Imperador d'Áustria


Faz 88 anos, a 1 de Abril, que faleceu no Monte (Ilha da Madeira) o Beato Carlos de Áustria.
A 21 de Novembro de 1916 tinha sido coroado Imperador da Áustria e no mês seguinte coroado também Rei da Hungria.
A 3 de Abril de 1919 foi deposto e exilado.
Chegou deportado à Madeira a 19 de Novembro de 1921.

Certidão de óbito

“… Faleceu hoje pelas 12 horas e 18 minutos de ‘dupla pneumonia gripal’ Sua Majestade Imperial e Real Carlos I d’Áustria e IV da Hungria, de 34 anos, casado, natural de Persenbeug (Áustria) filho do Arquiduque Otto e da Arquiduquesa Maria Josefa e residente acidentalmente na Quinta do Monte (Ilha da Madeira), freguesia de Nossa Senhora do Monte, Concelho do Funchal.

Funchal, 1 de Abril de 1922

Os médicos assistentes
Carlos Leite Monteiro
Nuno Queriol de Vasconcelos Porto
Carlos José Machado dos Santos

O seu cadáver foi logo embalsamado pelos médicos assistentes.”


(Foi vestido com a farda de Marechal. Velaram o cadáver a Imperatriz viúva e pessoas da comitiva real. O seu funeral realizou-se na terça-feira seguinte a 4 de Abril de 1922, pelas 16 horas. O seu jazigo encontra-se em capela própria na Igreja Paroquial do Monte).

A 3 de Outubro de 2004 foi proclamado BEATO Carlos de Áustria, pelo Papa João Paulo II, na Praça de São Pedro em Roma, na presença do seu filho primogénito Otto de Habsburgo, então com 92 anos, e outros familiares.
O dia escolhido para a sua memória litúrgico foi 21 de Outubro, pois nessa data contraiu matrimónio em 1911 com Zita de Bourbon, Princesa de Parma. Tiveram 8 filhos, tendo nascido a última filha 2 meses depois da morte do pai.
Foi apresentado pelo Papa como padroeiro dos esposos cristãos e inspirador da espiritualidade conjugal, pois no dia do seu casamento Carlos confidenciou à sua esposa: ‘Agora devemos conduzir-nos um ao outro para o céu.’ O processo de beatificação da Imperatriz Zita, falecida a 14 de Março de 1989, está a decorrer nas instâncias romanas.

Para assinalar esta data, transcrevemos um artigo publicado um ano depois do falecimento do Beato Carlos de Áustria: C. H., Imperador Carlos d’Áustria e rei da Hungria, in Almanaque da Madeira1924, 1º Ano de Publicação, Funchal 1923:
Imperador Carlos de Áustria
e Rei da Hungria

Prendeu-o a Providência com os mais belos dotes de corpo e os mais elevados primores do espírito, a ponto de na sua meninice os vienenses, atendendo à sua meiga beleza lhe chamarem o ANJO DE VIENA e na pujança da vida, o circunspecto yankee, que se chamou Teodoro Roosevelt, o apelidar O MAIS PERFEITO HOMEM PÚBLICO DA EUROPA ACTUAL – Er ist der interessentesl Manu deu Europa gegenewartig besitz.
E à inspirada poetiza austríaca, Enrica von Hendel-Massetti – Wir habendiesen edlen besen Kaiser – nicht verdient! Nós temos um nobre e óptimo imperador que não merecemos!
Poucas vezes se encontram conjugadas qualidades que habitualmente se excluem.
Ele possuía a maior bravura ao lado da mais insinuante e meiga doçura; a mais imponente majestade junta à mais cativante afabilidade, a maior fraqueza a par da mais discreta circunspecção.
Adoptava a arte de não dizer nem demais nem de menos.
Se alguém ousava arriscar uma pergunta menos discreta ele respondia com outra pergunta como muito bem observou Roosevelt. Tinha a ciência das perguntas.
Era o mais perfeito entre os homens do seu tempo, mas devia servir de vítima propiciatória pelos desvarios do seu povo. Ele assim o compreendeu e praticou no momento solene da Sua morte:
- Senhor! Seja feita a tua divina vontade! Nas tuas mãos entrego a minha vidam a da minha mulher e dos meus filhos. Aceita-a como holocausto pelos meus povos.
E tinha razão – A Hungria bolchevizada. A Boémia revolucionada renegando a Fé. A Áustria indisciplinada. A Croácia, a Styria e o Tirol separadas, e afinal todos os seus diversos estados nas mãos da judiaria e do maçonismo, bem precisavam de uma vítima propiciatória – Meu Deus seja feita a tua divina vontade. Nas tuas mãos encomendo o meu espírito. Ofereço a minha vida pelos meus povos.
Só foi imperador para defender os direitos do seu império, procurar a paz das suas nações, defender os fracos, amparar os pequenos, fazer justiça aos povos, representar a Arca da União dos Estados, dos partidos desde Liechtenstein até a Berkovina, desde a Galicia até a Dalmácia.
Nobre entre os mais nobres da terra, em suas veias corria o sangue azul das mais antigas casas da Europa; nas tradições da sua família as acções mais heróicas que a história regista.
O conjunto das vogais, devisa da Casa d’Áustria – A. E. I. O. U. – Austria est imperare Orbi Universo ou Austriae erit in orbe ultima povoa-lhe de esperanças o seu espírito embriagado no amor da pátria.
A coroa de Santo Estêvão que pusera na cabeça por ocasião da sua sagração na Igreja de Budapeste animava constantemente a sua fé no futuro dos seus povos com cuja lealdade contava em absoluto.
A sua bravura militar atingindo as raias de audaz temeridade comprovam tal asserção.
Por várias vezes se arriscou de tal maneira que chegou a ser envolvido pelo fogo inimigo e de uma das vezes, em Asiago, correu tal risco que o Estado Maior, vendo que os Italianos o tinham forcado, o mandou para a frente oriental.
A sua carreira militar foi uma odisseia de proezas.
Aos 16 anos, no dia 10 de Novembro de 1903, alistou-se no exército como alferes de Ulanos nº 1. Desde o começo da carreira militar procurou ser soldado de alma e coração. Dormia no Quartel, sujeitava-se a todos os serviços até os mais humildes como o da remonta, e em cada camarada granjeou um amigo. Nenhum género de serviços lhe foi alheio.
Em Setembro de 1905 foi promovido a tenente e transferido para o regimento de Dragões nº 7 na Boémia. Pela morte de seu pai, em Novembro de 1900, ficando herdeiro presuntivo das coroas austro-húngaras, em vista do casamento marganativo de seu tio Arquiduque Francisco Fernando, obteve licenciamento para estudar direito e economia política, na Universidade de Praga, sob a sábia direcção dos afamados professores Drs. Ulbrich, Pfaff, Braf e Otto. Não havia aluno mais atento nem mais diligente.
Em Maio de 1907, foi obrigado a suspender os estudos para tomar parte nas grandes manobras da sua divisão, indo incorporar-se o seu regimento.
Acabados os estudos de jurisprudência, por indicação do imperador Francisco José, foi mandado por seu tio o arquiduque Francisco Fernando estudar arte militar sob a direcção dos generais von Diett e Barãi Zeidler, conservando-se entretanto ao serviço do 7º Regimento de Dragões.
Nomeado generalíssimo o arquiduque Francisco Fernando, chamou o sobrinho, a dar as suas provas das manobras imperiais, encontrando invulgar clareza de vista no comando dos corpos que lhe eram confiados, merecendo repetidos elogios tanto na corte como nas reuniões do Estado Maior a sua elevadíssima competência para comandar não só unidades como corpos do exército.
Desde então o seu tio e instrutor, o generalíssimo Francisco Fernando conservou-o no comando superior dos corpos.
Foi sempre modelo de pontualidade militar – Soldado de alma e coração.
Procurava conhecer todos os seus camaradas e chamá-los pelos seus nomes, granjeando assim a simpatia de todos, que o chamavam com doce ternura – ‘Baesi’ – Tio.
Em 31 de Maio de 1911, casou com essa violeta de Parma, que se chama Imperatriz Zita, que à Áustria veio para ser – A Imperatriz da bondade e Princeza da Caridade. ‘Zita! Kaiserin der Gule. Furstin der Barmherzigkeit’
Se o casamento lhe trouxe um período de repouso foi para depois mais activamente se entregar aos trabalhos. Passados apenas três meses teve de acompanhar o seu regimento à Kolomea, Galicia.
Até aí entretanto o acompanhou a esposa dedicada.
Aí fizeram marchas através de Truban, Littan, Tesben, Biala, Jasla, Zamor, Elayvord, Canot, Stryi, etc. voltando a Kolomea. No 1º de Novembro de 1912, foi promovido a Major para o regimento de Infantaria nº 39.
A catástrofe de Serajevo a 28 de Junho de 1914, veio feri-lo no mais íntimo do coração roubando-lhe um amigo tão paternal e o mais leal dos conselheiros.
O desaparecimento do arquiduque Francisco Fernando fê-lo generalíssimo, lugar de tremenda responsabilidade para tão tenra idade.
Com a guerra começaram as suas proezas: pela vitória de Presburgo obteve a cruz do mérito militar e pela defesa de Lemberg, seu baptismo de fogo, a gran-cruz de Santo Estêvão.
Fez nesse inverno a campanha dos Karpatos e aí o foi entrevistar o infatigável investigador americano Roosevelt, que dele escreveu. O herdeiro do trono tem um perfeito e atraente charme, que eu nunca encontrei em homens públicos. Possui além disso, o que em bem poucos se encontra, o magnetismo pessoal. Um homem pode ter talento, génio, habilidade, opulência, mas se não possui o raro dom do magnetismo pessoal ser-lhe-á muito difícil conquistar a alta popularidade.
… …
Todas as classes do povo o veneram porque o seu magnetismo pessoal se transmite até aos que se não acham em contacto com ele. É o homem público mais acabado que a Europa actual possui.
Ao magnetismo pessoal que Rossevelt admirava no Imperador Carlos, chamaríamos nós o encanto empolgante e atractivo irresistível da virtude.
Como representante do velho imperador devem correr todas as linhas a observar o estado das tropas e agradecer-lhes em nome da Áustria o sacrifício pela Pátria.
Informava-se dos heróis, e quando encontrava um, embora fosse um obscuro soldado, abraçava-o, porque ele representava incarnado o verdadeiro amor da pátria.
A estas saudações e agradecimentos atribuem os historiadores da guerra, em grande parte, as vitórias de Jamosca, Lunanowa, Dumaiec, Biala, etc.
As saudações aos soldados em língua polaca e o agradecimento em nome do velho imperador fez rebentar as lágrimas aos batalhadores mais rudes e proromper em aclamações a todo o exército.
A 12 de Maio de 1916 foi comandar o exército do sul como Marechal de Campo e Vice-Almirante. A sua chegada levantou o moral das tropas tendo como real companheiro de armas o herdeiro do trono.
Ali se deram as brilhantes acções de Laverme, Valbona, Toravo, Astico, que lhe mereceram a condecoração da coroa de Ferro de 1ª classe, assim como a ordem de Mérito Militar concedida pelo Imperador Guilherme da Alemanha.
Numa chuvosa tarde de Junho o arquiduque Eugénio entra no Quartel General do arquiduque Carlos portador duma ordem dos dois imperadores para que ele parta imediatamente para a frente nordeste – Galicia.
A despedida dói enternecedora e falou aos oficiais e soldados como se os abraçasse a todos, rememorando as bravuras que fizeram pela Pátria e entregando-os à guarda do Omnipotente Deus dos Exércitos.
Era necessário mobilizar a cavalaria húngara contra as esmagadoras massas de russos que caiam sobre Lemberg. Indispensável se tornava o prestigioso magnetismo do Arquiduque Carlos para animar a coragem daqueles bravos soldados. Assim o entenderam os imperadores: Assim sucedeu!
Na tarde de 31 de Novembro de 1916, entregou o Imperador Francisco José a Deus a sua alma amargurada, deixando ao estremecido sobrinho Carlos não só coroas e ceptros mas espadas desembainhadas, tintas de sangue! Funesta herança.
Os diversos povos da grande nação choraram ao lado do moço Imperador a perda irreparável do velho monarca, o decano dos governantes da Europa. E com o coração amargurado e a alma alanceada pela perda do ente querido e pela desolação do seu país o jovem imperador tomou posse da herança fatal.
Alguns meses antes da sua morte o velho imperador tinha dito: o meu sucessor é realmente um excelente príncipe: o meu povo pode depositar nela toda a confiança.
A proclamação do imperador Carlos aos seus povos, é um modelo de sentimento pela morte do falecido Imperador, de dedicação pelos seus povos, e de confiança no futuro da Pátria.
Lamenta que a guerra esteja longe do seu termo, suspira por uma paz honrosa e suplica do Céu as graças e as bênçãos sobre si, sua casa, seus amados povos e que o Omnipotente o ajude a conservar intacta a herança que seus antepassados lhe legaram.
Ao aceitar o pesado encargo de reinar, Carlos 2º encontrava um país não só extenuado por uma já longa guerra em que entrara com toda a energia despendendo todos os recursos, mas ainda desapontado nas suas aspirações, impondo-se por isso a necessidade da Paz.
Daí essa série de passos tendentes a uma paz honrosa.
A Imperatriz Zita era o anjo da Paz. Bethmann Hollweg queixa-se em 1917, disso a Czernin.
Lamunnech faz-se o instrumento do Imperador na propaganda pacifista.
São aceites por este os 14 pontos de Wilson.
Quando o armistício da Itália são fracassadas todas as suas tentativas de paz apesar de o imperador ter encarregado dessa importante missão seu cunhado o Príncipe Xisto.
Era porém já tarde; após o esfacelamento do campo germânico desaparece a monarquia dualista: São proclamadas as repúblicas de Viena, Praga, Lagabria, Budapeste e o imperador Carlos retira-se para a Suíça, seguindo de perto o desenrolar dos acontecimentos, apesar das instâncias do Arquiduque José para que volte à Áustria. Não quer mais derramamento de sangue. Prefere que os homens lhe façam justiça.
Assim sucedia. Após a hecatombe judaico-maçónica de Bella Kunn na Hungria, passado o delírio bolchevista, aquele povo honesto e bom restaurou as instituições tradicionais e chamou o seu rei.
Foi um triunfo a entrada do Imperador Carlos 2º - agora rei Carlos 8º - em toda a Hungria. Mas, muitas vezes desfazem os homens o que Deus fez! E com uma violência única na história é arrebatado um rei ao seu povo, que por ele chora, por ele suspira, e quando dele se vê privado põe luto oficialmente à sua saída! E, suprema irrisão! Quando se proclama, justamente, que os pequenos povos são livres para escolherem a forma de governo e os governantes que lhes aprouver.
Da sua viagem tormentosa de Budapeste à Madeira, a caminho do exílio, dos respeitos de que foi alvo a bordo do cruzador Cardiff, das demonstrações de carinho e afecto nesta terra hospitaleira, nem falarei: está ainda na mente de todos.
E ainda com os olhos amarados de lágrimas e alma alanceada de saudade que traço estas linhas consagradas à memória do ente mais extraordinariamente infortunado com quem tenho tratado na minha já longa existência!
Heroísmo na virtude, majestade na desgraça, grandeza no infortúnio e a coroar todas estas prerrogativas uma fé inalterável e uma paz de consciência contínua esperando na Divina Providência a execução dos seus insondáveis decretos.
Após cinco meses de exílio, adoçado pelo mais dedicado afecto de uma população inteira, foi receber a recompensa de suas excelsas virtudes esse herói que parecia um santo a quem o mundo inteiro pranteou e os próprios adversários políticos prestaram o mais solene preito de admiração pelas suas elevadas qualidade de espírito e de carácter.
Digna de seu heróico marido é a não menos heróica imperatriz Zita, que em terras de Espanha, na dedicada povoação de Lequitio, sofre as agruras do exílio, com toda a resignação cristã e dedicação maternal.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Abraçar a Cruz


Ao iniciar a Semana Santa, estando dispostos a acompanhar Jesus no caminho do Calvário, podemos tomar a nossa cruz e ir em frente.
O Pe. Dehon dá-nos algumas dicas de como tomar a cruz para seguir Jesus. São frases retiradas dos seus escritos e ensinamentos.

Carregar a cruz exteriormente e por necessidade não basta.
É preciso abraçá-la com amor,
carregá-la com alegria e coragem,
desejá-la com ardor.
(DE, 117)

A cruz, a humildade, a mortificação são os melhores auxiliares da caridade, do puro amor. Sem elas, a caridade não tem base sólida e não permanece. (NQ, 10 de Janeiro de1888, 148)

A cruz adorável do Salvador afasta-nos de todos os vícios e leva-nos a todas as virtudes. (NHV, volume III, Outubro 1865 – Outubro 1869, 137)

A cruz, diz a Imitação, é a salvação, é a vida, é a fonte das alegrias celestes. (ACJ 1, 230)

A cruz é a nossa vida. (Carta ao Pe. Paris, 15/05/1913, Inv. 300.03, AD: B20/7)

A cruz é a paciência, o sacrifício, a penitência. (RNN, 19)

A cruz é leve quando a levamos por amor ao Coração de Jesus. Quando sofrermos, digamos: É por Jesus, é pelo Coração de Jesus, é pela Congregação. A nossa cruz tornar-se-á leve. (Carta ao noviço Heiserholt, 20/08/1909, Inv. 228.03, AD: B18/14.3)

A cruz é também ela um sacramento do amor. (CA, 431)

A cruz é tão necessária que Deus fez dela a medida da nossa glória. (ACJ 1, 359)

A cruz é uma cátedra donde Jesus prega a caridade, a paciência, a obediência, o sacrifício. (ACJ 1, 361)

A cruz resume toda a virtude; a cruz é a salvação. (DE, 54)

As almas com ternura levam a sua cruz com mais amor do que as outras. É por que o Coração de Jesus tem mais ternura do que todos que o sacrifício da cruz foi o mais generoso de todos os sacrifícios. (ACJ 1, 665)

As cruzes são uma invenção do amor de Jesus. (CA, 265)

Bebamos o amor e as cruzes de madeira ou de ferro tornar-se-ão como se fossem de palha. (CA, 194)

Carregar a cruz, é a essência da vida cristã. O cristão é marcado com a cruz no baptismo e recebe a capacidade de a carregar. (ACJ 2, 208)

Devemos olhar para o nosso crucifixo: basta um olhar sério sobre Ele para nos animarmos a levar a nossa cruz. (CF, 23 de Maio de 1881)

É a cruz de todos os dias. Leva-a bem. A cruz é a salvação. (Carta ao Pe. Falleur, 13/06/1884, Inv. 326.18, AD: B20/12)

É a cruz que prepara as graças. (Carta à Madre Maria Inácia, 14/04/1919, Inv. 231.20, AD: B19/2.1)

É a cruz que vence o mundo. As obras são fecundadas pela mortificação e pelo sacrifício. (NHV, volume IV, Outubro 1869 – Julho 1870, 199)

Eu fazia a via-sacra todos os dias; era o meu recreio da tarde. O meu crucifixo era o meu confidente e o meu companheiro, no meu quartinho. (NHV, volume III, Outubro 1865 – Outubro 1869, 90)

Não há pequenas nem grandes cruzes, mas apenas um pequeno e um grande amor. (CA, 338)

O Coração de Jesus vê na cruz o trono do seu amor, o instrumento das suas misericórdias, o troféu das suas vitórias. (CA, 264)

O preceito obriga-nos a levar a cruz com paciência… o conselho convida-nos a levá-la com amor, com alegria, a exemplo de Nosso Senhor. (RNN, 20)

O Santo Sacrifício da Missa não é outro sacrifício senão o da cruz; é a sua renovação mística e continuação. (CA, 374)

O seu amor por nós tornou leve a cruz de Cristo. (ACJ 1, 248)

Os primeiros anos de uma obra são sempre difíceis. As cruzes nunca faltam nos inícios. (Carta ao Pe. Goebels, Espanha, 03/07/1924, Inv. 241.61/, AD: B19/3.1)

Os que levam a cruz por amor encontram a cruz suave. (VA, 156)

Quanto mais celestes formos, menos nos pesará a cruz. (CA, 338)

Todo o julgamento reportará sobre este aspecto: Carregaste a tua cruz? (ACJ 2, 209)

Uma cruz que nunca nos falta é a tentação… (ACJ 1, 332)

Uma cruz vale 500 rosários. (Carta ao Pe. Paris, 15/05/1913, Inv. 300.03, AD: B20/7)

Vós tereis a palma do martírio pelo vosso voto de vítima e por todas as cruzes levadas por amor de Coração de Jesus. (Carta à Madre Maria Inácia, 23/12/1924, Inv. 231.65, AD: B19/2.1)


sexta-feira, 26 de março de 2010

Ele pagou por nós


Ano C - Domingo de Ramos e/ou Domingo da Paixão

Ao reflectir sobre a Paixão do Senhor, alguém referia que afinal éramos nós que estávamos lá a aclamar e logo depois a condenar Jesus. Eu hoje recordo essa aplicação e concluo que afinal nós é que devíamos estar, não no lugar da multidão mas no lugar de Jesus. Porque Ele pagou por todos nós.
A redenção de Cristo assemelha-se à pedagogia de uma certa avozinha. O seu neto tinha a fama e o proveito de recolher aquilo que não era seu. A pobre senhora chamava a atenção ao neto mas nada servia de correcção. Então um dia, alguém foi uma vez mais fazer-lhe queixa da falta de respeito do rapaz pelo alheio. A avó chamou o acusado, levou-o até junto à lareira. Tirou uma brasa incandescente, segurou na mão do neto e prometeu-lhe:
- Esta brasa vai fazer aquilo que as minhas recomendações nunca conseguiram. Vai recordar-te para sempre que não podes usar as tuas mãos para roubar.
O miúdo já tremia a pensar como ficariam as suas mãos queimadas. Então a senhora, cheia de determinação, pôs o carvão na sua própria mão, dizendo:
- Faço isto porque te amo.
E diz a história que aquele rapaz, chorando, beijou as mãos da avô e nunca mais roubou nada a ninguém.
O episódio é dramático tal como dramática é a paixão de Jesus cujo mistério celebramos nesta semana. Ele também sofreu por nós porque nos ama.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Baptismo de Leão dehon


Assinalamos neste dia o aniversário do baptismo do Pe. Leão Dehon.
Transcrevemos o que ele mesmo escreveu sobre esta efeméride nas suas próprias memórias.

Primeiro Escrito:
Fui baptizado a 24 de Março, na pobre igreja de La Capelle, pelo digno e venerável P. Hécart, que devia continuar ainda a ser seu pároco por mais doze anos e que me preparou à primeira comunhão.
O dia 24 de Março era a festa do menino mártir, S. Simeão. Mas eram sobretudo as primeiras vésperas da festa da Anunciação. Senti-me feliz, mais tarde, em unir a recordação do meu baptismo com a do Ecce Venio de Nosso Senhor.
Ganhei uma grande confiança com esta aproximação. O Ecce Venio do Coração de Jesus protegeu e abençoou a minha entrada na vida cristã. O Senhor não ficará ofendido por eu ver nisso uma atenção da sua Providência em vista da minha vocação actual de Sacerdote-Hóstia do Coração de Jesus.
Eu tive sempre veneração pela lembrança do meu Baptismo. No colégio gostava de renovar as promessas baptismais. Em Roma caiu-me nas mãos o belo livro de Exercícios de Santa Gertrudes e fez-me um grande bem. Gostava de me servir dele para renovar em mim as graças do meu baptismo. Em cada uma das minhas férias, ia fazer uma devota peregrinação às fontes sagradas do meu baptismo, e senti um aperto de
coração quando a velha pia foi enterrada num altar, e depois desapareceu
completamente. (NHV, I).
O padrinho do baptismo foi o tio Eduardo Gustavo Dehon e a madrinha a tia materna Julieta Augustina Vandelet. A celebração ocorreu, ao décimo dia do nascimento, isto é, numa Sexta-feira.

Escrito do Meio:
Celebro hoje o 44º Aniversário do meu Baptismo. É um dia de renovação. Releio e medito o piedoso exercício de Santa Gertrudes sobre o baptismo. Redijo o meu Ecce Venio. Quero viver e morrer pela Obra do Coração de Jesus. Entrego-me inteiramente a ela. (NQ 1887-97/3).

Último escrito:
No dia 24 de Março eu relembro com Santa Gertrudes as recordações do meu baptismo, para alcançar assim as graças: os exorcismos, a profissão de fé , a oblação, a unção, a vida nova simbolizada pela veste branca e o círio. Eu saúdo e invoco os meus patronos do baptismo, São Leão e Santo Agostinho. Peço humildemente perdão a Deus por todas as faltas às minhas promessas baptismais. (NQ 1925-52/45)

terça-feira, 23 de março de 2010

Do amor à cruz, à cruz do amor

Em tempo de quaresma, podemos contemplar a cruz de Cristo, com o mesmo olhar com que o Pe. Dehon a contemplava: uma cruz com um coração ou um coração com uma cruz.
Plasticamente podemos contemplar essa cruz dehoniana seguindo as palavras do próprio Pe. Dehon:
“Amemos a cruz e carreguemo-la com paciência… Ela tem quatro braços e um centro:
O braço superior representa as humilhações e as cruzes do espírito…
O representa a cruz da carne, os combates pela castidade, as doenças, a mortificação, os trabalhos, a agonia e a morte.
O braço direito representa a pobreza e todas as cruzes que têm a ver com os bens: as privações, as perdas, as dificuldades…
O braço esquerdo indica as cruzes da vontade: a obediência, a submissão aos superiores, as contrariedades e as contradições… (RNN, pag 20)
O lugar da união ou centro é o Coração de Jesus. (RNN, Pág. 24)”


...................... ....Cruzes do
..................... .... .espírito
..
....Cruzes da...... Coração........ Cruzes da
.... pobreza.........de Jesus........ vontade
.
...................... ....Cruzes da
.................... ... ... ..carne
.
.
.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Deus salva

2ª Feira - V Semana Quaresma

Da Primeira Leitura:
E assim foi salva naquele dia uma vida inocente.

Do trecho do Evangelho:
Também eu não te condeno.
(E assim foi salva uma pecadora).

Deus salva sempre…
Deus salva todos…
Deus salva santos e pecadores…
Deus salva-nos…

sábado, 20 de março de 2010

Ser Padre é isto

Apontar o caminho a quem procura
Chegar a casa, ao fim de cada dia;
Pregar o bem a toda a criatura;
Abrir na terra fontes de alegria.

Erguer ao céu, nas mãos, a Hóstia Pura
E o Cálix da Divina Eucaristia;
Subir com Cristo a rua da amargura;
Junto da cruz fazer-lhe companhia:

Ser Padre é isto! É ser o Bom Pastor,
De montanha em montanha, dor em dor,
Dar rosas de ouro às almas entre abrolhos.

Quem no Padre não vê Jesus que passa,
Passa longe dos Anjos e da Graça,
Como cego que a Deus refeche os olhos.

Soneto de Monsenhor Moreira das Neves

sexta-feira, 19 de março de 2010

Saber perdoar


Ano C - V Domingo Quaresma

Um dia o Zeca regressou da escola cheio de raiva. Antes que o pai lhe perguntasse alguma coisa, gritou irritado:
- O Pedro não devia ter feito aquilo para comigo. Humilhou-me à vista de todos. Quero que ele sofra como eu. Quem me dera que ele parta uma perna...
O pai escutou tudo calado enquanto caminhou para o fundo do jardim onde guardava um saco cheio de carvão. O Zeca viu o saco aberto e o pai a propor-lhe:
- Filho, faz de conta que aquela camisa branca a secar no varal é o amigo que te ofendeu e cada pedaço de carvão é uma acusação que tens contra ele. Atira-lhe este carvão todo.
O miúdo achou a brincadeira divertida e descarregou assim a sua fúria mas a camisa estava longe demais e poucos pedaços acertaram o alvo. No final sentiu-se cansado mas satisfeito por ter conseguido alguma coisa. O pai levou-o então até ao espelho do quarto onde pôde ver a sua figura toda suja de carvão. Só enxergava os dentes e os olhos. O pai concluiu ternamente:
- Filho, viste que aquela camisa quase que nem se sujou mas, olha para ti. O mal que desejamos aos outros é aquilo que nos desfigura. Por mais que possamos atrapalhar a vida de alguém com as nossas acusações, a borra, os resíduos e a fuligem ficam sempre em nós mesmos.
Jesus ensinou o mesmo: quem não tiver pecado que atire a primeira pedra!

terça-feira, 16 de março de 2010

Curar o corpo e a alma

3ª Feira - IV Semana Quaresma

Do Evangelho de hoje:
- Toma a tua enxerga e anda... Vai e não tornes a pecar...

Comentário do Pe. Dehon, in A Renovação Social Cristã, Conferências Romanas 1897-1900:
- O Evangelho ensina-nos que Jesus curava os corpos para chegar às mentes e multiplicou os pães para santificar as almas. (Pág. 208)
- Nosso Senhor, para conquistar as almas, não curou ele os corpos, alimentou os famintos no deserto e encheu a rede dos pescadores? (Pág. 341)

Via-sacra (8)


A Via-Sacra das Cores
E as Cores da Via-Sacra

1ª Estação – Jesus é condenado à morte
COR DE PÚRPURA
Ao amanhecer daquele dia, com o céu em cor de púrpura, Jesus é manietado, açoitado e coroado de espinhos. Aos ombros põem-lhe um manto de púrpura e ridicularizam-no. É assim que condenam um inocente.
A cor púrpura representa a maldade, a ironia e o ódio dos que condenam Jesus.
É assim que começa o caminho do calvário, com vermelho de púrpura como sinal proibido.
Ao iniciarmos esta via-sacra das cores, saibamos discernir as cores de todos os sinais de trânsito desta via dolorosa para podermos, tal como o arco-íris ligar a terra ao céu.

2ª Estação – Jesus carrega a sua cruz
CINZENTO O dia começa cinzento, triste. O dia chega juntamente com uma cruz, mas para chegar à luz gloriosa da ressurreição é preciso passar pelo cinzento da cruz. Depois dos dias cinzentos e das nuvens mais sombrias, surge sempre o sol brilhante.
Jesus, ao carregar a sua cruz, lembra-nos assim que quem não abraçar a cruz nunca chegará à Páscoa da Ressurreição. Lembra-nos também que é preciso passar pela cruz para transformar os dias cinzentos em dias luminosos.

3ª Estação – Jesus cai pela primeira vez
CASTANHO
Jesus, com a cruz aos ombros, cai por terra. O corpo prostrado fica da cor da terra. Caído no chão Jesus lembra-nos duas realidades:
Primeiro lembra aos homens que são pó e ao pó hão-de voltar.
Em segundo lugar lembra-nos que Ele assim caído é pó, mas em Homem Novo ressuscitado se há de tornar.
Apesar de sermos pó, somos chamados a aspirar aos dons do alto. Apesar de às vezes cairmos e nos sujarmos na lama, Jesus dá-nos a força para nos levantarmos e prosseguirmos o caminho na sua companhia.

4ª Estação – O Encontro de Jesus com sua Mãe
AZUL
Na caminhada dolorosa surge um rasgo do céu. Jesus encontra Maria, sua mãe, e o ambiente sombrio se veste de azul. A Virgem Imaculada foi sempre conotada com a cor azul. É a cor do céu limpo, é a cor do mar infinito.
Nos caminhos da nossa vida haverá sempre ocasião para contemplar o mesmo azul celeste. A Virgem Maria protege-nos sempre, como abóbada celeste.

5ª Estação – Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz
AMARELOE no azul fica sempre bem o ouro. Depois do encontro com a Sua mãe, Jesus foi ajudado por Simão de Cirene. Isso foi ouro sobre azul.
O amarelo do ouro brilha mais quando a generosidade é genuína, quando o ouro é provado no crisol.
Quem ajuda um necessitado só pode ter um coração de ouro. Pintemos assim desta cor o nosso coração.

6ª Estação – Verónica limpa o rosto de Jesus
COR-DE-ROSAUma mulher, cheia de coragem, mas com toda a sensibilidade, aproxima-se de Jesus e limpa-lhe o rosto. Jesus reconhece esse toque sentimental, essa tonalidade feminina e no tecido fica estampado o perfil do seu rosto.
Por entre espinhos e agraços surge assim uma tonalidade rosa.
A cor-de-rosa deixou apenas de ser uma cor sentimental ou feminina, mas passa a ser sinal de coragem e de generosidade.
E Jesus faz com que este gesto fique perpetuado como memória e como estímulo para que a ninguém falte esse toque de atenção.

7ª Estação – Jesus cai pela segunda vez
BORDÔ
Jesus cai pela segunda vez. A perda de sangue, o cansaço, o peso da cruz, a fraqueza e as imprecações atiram-no por terra. E eis que o sangue, o pó e o suor formam uma mistura de cor bordô ou encarnado escuro. É sangue coagulado.
Jesus vai perdendo sangue e em cada queda deixa uma marca da sua passagem.
Lembra-nos assim que também nós podemos deixar marcas do nosso viver. Sempre que nos doamos a Deus e aos outros, pintamos o mundo de cor de sangue derramado por amor.

8ª Estação – As mulheres de Jerusalém choram por Jesus
TRANSPARENTE
Um grupo de mulheres de Jerusalém aproxima-se de Jesus e chora. São lágrimas silenciosas, lágrimas transparentes, não têm cor pois são de todos e para todos.
Jesus pede-lhes que continuem assim, que nunca se esqueçam de manifestar também esses mesmos sentimentos aos seus filhos, quando maltratado pelos caminhos da vida.
Este episódio lembra-nos que devem ser sinceros e transparentes os nossos sentimentos para com Deus e para com os nossos irmãos.

9ª Estação – Jesus cai pela terceira vez
VERDE
Renascer, brotar como novo rebento a surgir do chão.
Se o grão de trigo não cair por terra não pode florescer. É por isso que Jesus cai pela terceira vez como grão lançado à terra para florescer.
É o verde dos rebentos novos, da nova esperança.
Jesus cai, passa por tudo isto para encher de vida, para pintar de verde de esperança o nosso mundo.
Ele ensina-nos a identificar os rebentos novos da nossa vida de conversão depois das nossas quedas.

10ª Estação – Jesus é despido das suas vestes
BEGE ou CREMEÉ a cor da carne despida. Para ser crucificado Jesus é despojado das suas vestes. Lembra-nos assim que Ele veio assumir a nossa carne, a nossa natureza humana. A cor bege ou creme sugere-nos a nossa própria carne mortal. Por fora podemos ter a aparência de várias raças ou cores, mas por dentro somos todos iguais, pertencemos à mesma família, com a mesma dignidade de filhos de Deus.
Jesus ao ser despido lembra-nos que Ele nasceu com uma carne igual à nossa para nós vivermos com uma dignidade igual à d'Ele.

11ª Estação – Jesus é crucificado
NEGRO Por volta do meio-dia Jesus é crucificado. A partir daí toda a terra cobre-se de trevas.
A cor preta é entre nós a cor de luto e de tristeza ou a cor da noite.
Jesus é-nos tirado e a sua ausência gera em nós trevas ou ausência de luz.
Nós recusamos a luz e por isso sofremos as trevas.
Nesta estação Jesus lembra-nos que no meio deste mundo de trevas Ele é a Luz que a todos quer iluminar. Que a cruz de Cristo seja o farol que nos guia pelos caminhos desta vida.

12ª Estação – Jesus morre na cruz
VERMELHO
Às três horas da tarde Jesus entrega o seu espírito ao Pai. Um dos soldados ao aproximar-se, vendo-o já morto, trespassa-lhe o lado com uma lança. Do seu lado aberto jorra sangue e água.
Contemplamos essa fonte, o Coração de Jesus. Coração de fogo vermelho de onde sai sangue vermelho vivo.
Jesus ensina-nos assim a nos doarmos por inteiro, até à última gota de nós mesmos.
Que o nosso coração possa arder no mesmo fogo palpitante do seu amor.

13ª Estação – Jesus é descido da Cruz
ROXO
Eis a Senhora da Piedade, vestida de roxo, com o seu Filho nos braços.
Nós também nos vestimos de roxo para manifestar os mesmos sentimentos que a Senhora das Dores.
Para além disso a cor roxa é para nós sinal de arrependimento e de conversão interior ao convite de Jesus: Arrependei-vos e acreditai no Evangelho, pois o Reino de Deus está próximo.
Se a cor roxa for sinal sincero da nossa contrição e arrependimento, então não teremos o corpo de Jesus nos nossos braços, mas estaremos nós nos braços de Deus Pai.

14ª Estação – Jesus é Sepultado
BRANCOJesus é envolto num lençol branco e deposto num sepulcro novo.
Ele tinha chamado a atenção para o fingimento dos sepulcros caiados de branco, por fora limpos, mas cheios de podridão por dentro. Agora Ele prova que o contrário é possível: eis o verdadeiro sepulcro, por dentro um lençol branco e a pureza de alguém sem pecado nem mácula e por fora a podridão dos que o entregaram à morte.
Jesus é o cordeiro sem mancha que tira o pecado do mundo. A cor branca é o sinal dessa vida da graça, da alegria e do brilho interior.
Deixemo-nos iluminar por essa luz resplandecente.

15ª Estação – Jesus ressuscita
ARCO-IRIS
É a Páscoa florida ou o Arco-íris de todas as cores, como sinal da nova e eterna aliança. Assim como depois do dilúvio, um arco-íris anunciou uma aliança entre Deus e o homem assim também com Cristo ressuscitado uma aliança, agora definitiva e eterna surge no nosso horizonte.
Esta Páscoa florida tem todas as cores, satisfaz todos os anseios, não esquece nenhuma dimensão da nossa vida.
Saibamos então colorir a nossa vida com as cores da ressurreição do Senhor Jesus que se fez tudo para todos e a nossa vida terá outra cor.



segunda-feira, 15 de março de 2010

Novos céus

2ª Feira - IV Semana Quaresma

Da primeira Leitura, Profecia de Isaías:
- Eu vou criar os novos céus e a nova terra e não mais se recordará o passado, nem voltará de novo ao pensamento.

Deus quer céus novos e terra nova.
Ele não diz céus e terra renovados ou melhorados,
mas simplesmente NOVOS.
Deus também nos quer novos e não apenas melhorados,
ele espera que sejamos novos e não apenas remendados.
Deus quer-nos completamente diferentes,
sem algum rasto do homem velho.

domingo, 14 de março de 2010

Aniversário


O Pe. Dehon

faz hoje 167 anos

Parabéns!


Ele lembra este dia:
“Nasci no dia 14 de Março de 1843. Era a terça-feira da segunda semana da Quaresma, pois a Páscoa caía nesse ano a 14 de Abril. O dia 14 de Março é a festa de S. Matilde, rainha da Alemanha (NHV, I,)”

Apesar de ter nascido em 1843 continua sempre jovem… porque os santos nunca envelhecem (Conferência aos Jovens, inventário 38.09, AD: B6/5.9).

Mesmo quando completou os 80 anos de vida, alguém dizia dele:
- O P. Dehon tem conservado dos seus 20 anos a curiosidade da inteligência, o vigor do espírito e o calor da alma.

Mais tarde, quando aos 82 anos faleceu o Pe. Dehon, o então bispo de Soissons, futuro cardeal Binet, no discurso das exéquias deu o seguinte testemunho:
- Foi-se o grande ancião, de coração sempre jovem, confiante, sempre optimista, para a eterna juventude de Cristo, a cujo coração se consagrou. O Pe. Dehon foi alguém muito grande, sobretudo de coração.

Era de facto um grande homem e um homem grande: tinha 1,92 metros de altura.

A propósito das conferências sociais proferidas pelo Pe. Dehon em Roma e em Milão, o cronista apresenta-o com brevidade:
“O Pe. Dehon é um homem alto (1, 92 m.) de aspecto nobre, de rosto inteligente, fala com singular exactidão e medida e revela-se extremamente conhecedor dos assuntos mais interessantes da vida moderna” (L’Osservatore Cattolico, 11 de Maio de 1897).

O Pe. Jacquin dizia que o Pe. Dehon era de tão grande estatura que todos pareciam pequenos ao pé dele. (RCJ Lovaina, 1936, 170).

Foi um grande homem, não por ter feito obras grandiosas, mas fez obras grandiosas por ser um grande homem.


Aniversário do Pe. Dehon

segundo ele mesmo.


Em 1865
"No Canal de Suez, no Egipto: 14 de Março 1865. El Guisr. Lago Ballah. É o meu 22º aniversário natalício. O dia começa alegremente. O sr. De Galard almoça connosco; mas a tarde traz-nos fortes dissabores. Queremos seguir o dique do novo canal através do lago Ballah, mas este dique tinha rebentado de manhã; temos de refazer o caminho e contornar o lago. Íamos em zig-zag, obrigados muitas vezes a recuar diante dos baixios. A noite surpreendeu-nos, tivemos de acampar no deserto (NHV, I)” .

Em 1909
"No dia 14 de Março faço 67 anos. Quantas graças perdidas! Pudesse eu recuperar o tempo perdido! Lembro o início da obra. Quanto o diabo tentou., sobretudo entre 1881 e 1884" (NQ XXIV 68).

Em 1913
"O meu 70º aniversário. O Santo Padre manda-me felicitações e a sua bênção. É muita honra para um pobre diabo como eu. Tudo isso encaminha o fim que está próximo. Na Congregação vão rezar por mim, é o melhor que podem fazer. Os conselheiros mandaram para todas as comunidades uma carta circular pedindo que todos façam deste dia 14 um dia de oração de acção de graças. Convidaram os padres a celebrar uma Missa em minha intenção, os outros farão a comunhão nesta intenção. Deo gratias! Preciso tanto da misericórdia de Deus!”

Em 1915
"Eis o 72º aniversário do meu nascimento. Como me impressiona esta data! Quantas faltas cometi!... Senhor, na vossa infinita misericórdia, apagai todas as minhas faltas e enchei-me de toda a vossa amizade." (1915-11/37)

Em 1917
"Entro hoje no meu 74º ano da minha vida, ‘longum aevi spatium’. Releio os salmos penitenciais. Eles exprimem bem os meus sentimentos. Não posso esquecer da acção de graças…" (1916-14/40)

Em 1923
"No dia 14 faço 80 anos. Recebo cartas de toda parte., cartas dos cardeais Gasparri e Laurent e do bispo de Soissons, até um bilhete do Papa. É muito mais do que mereço.
A minha carreira está no fim. Deixo muita coisa encaminhada. A coisa mais difícil será ter uma igreja em Roma, por causa da crise económica que assola o mundo. Entretanto, o Coração de Jesus vai dar um jeito como deu em Montemartre" (NQ XLIV, 73).

Por fim em 1925
"Eis que chego aos 82 anos. Graças à minha boa Mãe do Céu e aos santos Anjos escapei a tantos perigos e males. Obrigado, minha boa Mãezinha, meus Anjos!
O que é que eu fiz nestes 82 anos? Pouca coisa boa. Redobro a minha reparação, reafirmo o meu arrependimento e a minha confiança na misericórdia do Senhor!
Viajei um pouco nestes anos todos! Talvez até demais, muito embora sempre visasse o conhecimento geográfico, estético, histórico e a afirmação da minha fé…" (NQ XLV 44f.).

sexta-feira, 12 de março de 2010

O nosso valor


Ano C - IV Domingo Quaresma

Um orador começou a sua palestra segurando uma nota de Cinco Mil Escudos. Perguntou aos duzentos ouvintes:
- Quem gostaria de ter esta nota de Cinco Mil Escudos?
Claro que aquilo fazia jeito a qualquer pessoa de modo que todas as mãos se ergueram.
De seguida com as mãos amarrotou a nota e perguntou de novo:
- Quem quer ainda esta nota assim mal tratada?
As mesmas mãos continuaram levantadas.
Deixou cair a nota no chão e começou a pisá-la e a esfregá-la com a sola dos sapatos. Depois pegou nela, suja e amarfanhada, e fez a mesma pergunta:
- E agora? Ainda há alguém que queira esta nota?
Todas as mãos permaneceram erguidas.
- Meus amigos, não importa o que eu faça com esta nota, vocês vão querer na mesma, porque ela não perde o seu valor. Estimada ou mal tratada, ela continuará a valer Cinco Mil Escudos. Assim é a nossa vida. Muitas vezes somos amassados, pisados e ficamos imundos, por decisões que tomamos, por experiências que fazemos ou por situações que enfrentamos. E assim ficamos, à primeira vista, desvalorizados ou aniquilados. Quer estejamos sujos ou limpos, machucados ou inteiros, nada disso altera a importância que temos. O preço da nossa vida não vem do que fazemos, temos ou sabemos mas do que somos.

O Filho Pródigo continuou a ter o mesmo valor aos olhos do Pai.
Estas duas histórias têm a ver connosco.

O Filho Convertido


Ano C - IV Domingo Quaresma

A parábola do Filho Pródigo mostra, por um lado, a degradação de uma ilusão e, por outro, o processo de conversão de uma pessoa.
A primeira experiência deste jovem filho revela os três grandes pês com que o mundo tanto sonha e deseja: POSSE, PODER, PRAZER. Ele pensava que a felicidade estava na herança que exigiu, na liberdade que experimentou longe da família ou no prazer que o esgotou. No entanto, toda a felicidade baseada nestes três pês foi passageira demais e acabou num chiqueiro. A partir daí começou o seu processo de conversão em três fases correspondentes a três frases:
- “Caiu em si...”
- “Há pão em abundância na casa do meu pai...”
- “Vou ter com meu pai...”

Em primeiro lugar, cair em si e reflectir significa situar-se, olhar-se. É tomar consciência da realidade e tirar as máscaras. Reflectir é a qualidade do espelho em que as pessoas se vêem. Muitas vezes tentamos evitar esse olhar para dentro de nós mesmos, porque pode revelar-nos o que tentamos esconder. Mas este é o primeiro passo para a libertação. É preciso ter a coragem de tomar a vida nas mãos.
Mas isto não basta. Não adianta constatar apenas o problema. É preciso ter um motivo para sair da situação. O Filho Pródigo recordou-se de um grande motivo: na casa do pai havia tanto pão e carinho. Foi a certeza do amor do pai que o fez pensar no novo destino. Para sair dum buraco é preciso ter um ideal, um objectivo a alcançar: a casa do pai. A lembrança do amor paterno foi o que sobrou, quando tudo tinha acabado. Até lá, esse amor tinha estado apenas encoberto pelas ilusões, mas não apagado ou esquecido. O mal nunca é, nunca foi e nunca será maior que o bem. E o amor nunca é perdido. Mesmo que os outros venham a cair no erro, se o amor recebido foi verdadeiro, um dia irá prevalecer.
Esta certeza do amor levou o jovem filho ao terceiro e fundamental passo da sua conversão: “Vou partir, vou ter com meu pai...” Só quem toma a decisão de levantar-se, de olhar para a frente, consegue chegar novamente ao amor. Enquanto estava a olhar para baixo, para os erros, para os defeitos, não conseguiu avançar, mas quando resolveu levantar-se deu, o último passo de regresso. O problema não estava ainda resolvido, pois teria de fazer uma longa caminhada, mas, no momento em que decidiu voltar, de alguma forma, já estava com o pai.
E a reconciliação ficou consumada.
Os três pês (posse, poder, prazer) deram lugar aos três erres (reflectir, recordar e regressar). Isto chama-se conversão.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Povo de Deus / Deus do Povo

5ª Feira - III Semana Quaresma

Da 1ª Leitura – Livro de Jeremias:
- Escutai a minha voz, e Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo.

O Deus do Povo / O Povo de Deus
Critério para ser o Povo de Deus ou ser o Deus do Povo: escutar.

- Eu sou o Deus do Povo porque escuto a sua voz.
- Nós somos o povo de Deus porque escutamos a sua voz.
- Eu sou o Deus do Povo porque ele escuta a minha voz.
- Nós somos o Povo de Deus porque Ele escuta a nossa voz.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Bem perto de mim

4ª Feira - III Semana Quaresma

Da 1ª Leitura, Livro do Deuteronómio:
“Qual é, na verdade, a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos?”

Se na Antiga Aliança assim constatavam, mais motivo temos nós hoje para chegar à mesma conclusão: Deus está bem perto de nós através da sua Palavra, do sacramento da Eucaristia, do bem que fazemos, na pessoa dos nossos irmãos, na obra da sua criação.

Um peregrino, ao despedir-se do Santo Cura de Ars, disse-lhe:
- Sr. Cura, nunca vi a Deus assim tão perto.
- É verdade, respondeu o santo, Deus não está longe – e apontou para o tabernáculo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Setenta vezes sete

3ª Feira - III Semana Quaresma

- Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?
- Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.


Façamos as contas: 70 X 7 = 490.
24 – 8 = 16.
490 / 16 = 30,62
60 /30 = 2

Isto é: Devemos perdoar 490 vezes ao dia. O dia tem 24 horas. Dormimos cerca de 8 horas por dia, portanto ficam apenas 16 horas. Se dividirmos as 490 vezes por 16 horas dá 30,62 vezes por hora, o que equivale a perdoar de 2 em 2 minutos.

Perdoemos então 490 vezes, isto é, de 2 em 2 minutos.
Isto não é apenas uma opção, é um mandamento, é uma obrigação.

- Mas quem perdoa assim não vai cansar-se de tanto perdoar?
- Não. Quem pede perdão é que vai cansar-se de tanto pecar.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Santos de Casa

2ª Feira - III Semana Quaresma
Do Evangelho de hoje:
Nenhum profeta é bem recebido na sua terra.
Ou
Santos de casa não fazem milagres
ou então
Ninguém é bom juíz em causa própria.

Não sei o que será melhor:
dizer - Que vamos ser profetas, fazer milagres, ser juízes, pois esta não é a nossa terra, nem a nossa causa, nem a nossa causa.
Ou dizer - Esta é a nossa terra, a nossa casa ou a nossa causa, então deixemos que Cristo seja o Profeta na nossa terra, que seja Ele a fazer os milagres na nossa casa e que seja o juíz da nossa causa.

Dia da Mulher

O Credo das Mulheres

Creio em vós, ó Deus,
porque criastes o mundo,
porque criastes a mulher e o homem à vossa imagem,
e aos dois entregastes o cuidado pela terra.

Creio em Jesus,
Filho escolhido de Deus,
que nasceu da mulher Maria,
que ouviu as mulheres e as amou,
que se hospedou em suas casas,
que discutiu o Reino com elas,
que foi seguido e servido por mulheres discípulas.

Creio em Jesus
que num poço discutiu teologia com uma mulher,
confiando-lhe, primeiro, a sua messianidade,
enviando-a, depois, a anunciar
a sua boa nova à cidade.

Creio em Jesus
que olhou para a gravidez e o nascimento com respeito,
vendo-os não como castigo
ou como um facto violento,
mas como uma metáfora de transformação
fazendo que da angústia renascesse a alegria.

Creio em Jesus
que se comparou a uma galinha
querendo reunir os pintainhos sob as suas asas.

Creio em Jesus
que apareceu primeiro a Maria Madalena
e a enviou com a explosiva mensagem:
Vai e diz…

Creio em Jesus,
único Salvador,
para quem não existe judeu ou grego,
escravo ou livre, homem ou mulher,
pois todos somos um, num só Senhor.
Amen.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Florir de novo


Ano C - III Domingo Quaresma

Recordo que num dia de inverno acompanhei o meu pai na recolha de lenha. O trabalho era árduo de modo que eu já meio impaciente sugeri-lhe que cortasse uma árvore que se apresentava sem folhas, com a casca áspera, parecia já seca, própria para ser queimada. Apenas ela daria lenha para toda a necessidade, sem mais trabalho nem preocupações.
O meu pai abanou negativamente a cabeça e prometeu-me:
- Daqui a dois meses viremos aqui ver esta árvore e então compreenderás melhor.
Na Primavera lá fomos outra vez os dois e qual o meu espanto: daquela árvore brotavam folhas verdes, como se tivesse ressuscitado.
- Eu pensava que ela estava morta mas afinal...
Então o meu pai concluiu:
- Filho, não esqueças esta lição. Nunca cortes uma árvore durante o inverno. Nunca tomes uma decisão drástica no tempo da adversidade ou enquanto estiveres no teu pior estado de ânimo. Espera. Sê paciente. A tormenta passará. Lembra-te que a primavera vai e volta sempre.
Hoje associo estas recomendações à palavra do evangelho: ‘Deixa ficar esta árvore ainda este ano. Talvez venha a dar frutos.’
É preciso mais gente para melhorar o mundo porque já há muitos para o criticarem, mais gente para acender velas porque já há gente demais para apagá-las.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Senhora da Conceição
























Fixo agora o meu olhar na imagem da Senhora da Conceição, resgatada dos escombros da Capela das Babosas, no Monte, vítima da recente aluvião: é de madeira pintada e está inteira, íntegra e bonita como sempre. Ela é de facto a Imaculada.
E fico a pensar: ela não desapareceu porque sabe que ainda precisamos dela. Ela está aí; tomemos conta dela porque ela quer continuar a tomar conta de nós.
Ó Senhora da Conceição, continua a tomar conta de nós… e fazei que nunca nos esqueçamos de tomar conta uns dos outros.

Origem da FOTO:
http://www.diocesedofunchal.pt

terça-feira, 2 de março de 2010

Crucifixo
























Fixo o meu olhar no crucifixo de prata recuperado nos escombros da Capela da Conceição nas Babosas, no Monte, vítima da recente intempérie - uma cruz retorcida, machucada, magoada, maltratada…
Contemplo essa cruz de Cristo ou o Cristo dessa Cruz.
Mas quer um quer outro mantêm o seu valor, a sua dignidade.
E nesta imagem revejo todos os homens e mulheres da nossa terra: podem estar maltratados, magoados, machucados ou retorcidos, mas mantêm sempre o seu valor, a sua dignidade.
Ó Cruz bendita, até mesmo quando estás arrasada continuas a me ensinar.

Fonte da FOTO: