terça-feira, 29 de julho de 2008

Dar-se

Ano A - XVIII Domingo Comum
Ao proclamar a frase de Jesus no Evangelho: Dai-lhes vós de comer - sempre tive a sensação de que Jesus pedia aos seus discípulos que se dessem às pessoas. O que elas precisavam não era só de pão para comer mas sobretudo de alguém que lhes falasse, lhes desse atenção, que as escutasse e acolhesse. Por isso os discípulos deviam oferecer-se às pessoas, antes de lhes servir o pão.
Ainda hoje nós teimamos em dar coisas às pessoas em vez de nos darmos. Isto vai contra aquilo que Jesus fez e continua a fazer. Sempre que celebramos a Eucaristia, no ofertório apresentamos no altar de Deus coisas: pão e vinho, frutos da terra e do nosso trabalho. Em troca recebemos não coisas mas o próprio Jesus, o Seu Corpo e Sangue. Ele não dá coisas, dá-se a si próprio.
Recordo um episódio ocorrido num grande Centro Comercial. Mãe e filho passeavam por entre a multidão. O miúdo vinha carregado de prendas. A mãe oferecera-lhe um livro, uma cassete, um jogo, um gelado etc. A certa altura mostrou-se insatisfeito, nevoso até. A mãe perguntou-lhe:
- E agora o que é que queres que eu te dê?
- Eu quero que me dês a tua mão.
E assim de mãos dadas, foram passeando felizes, indiferentes a tantas prendas e a tantas maravilhas.
Quando as pessoas se dão a si próprias, nada faltará a ninguém, porque tudo o mais virá por acréscimo.

Criancices (13)


Na Festa do Coração de Jesus, criou-se a tradição de festejar com um bolo ao lanche em vez do habitual pão. Ao receber o seu bolo, um miúdo perguntou ao colega porque motivo havia bolo naquele dia.
- É porque a gente reza Doce Coração de Jesus que tanto nos amais... como é doce a gente come um bolo.

Vida de Capelão (13)

- Ó Capelão, é meia-noite. Você já devia estar a dormir há muito tempo.
- Eu nunca me deito de véspera. Quero sempre acordar no dia em que me deitar.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Criancices (12)

Por vezes, ao terminar a assistência ao refeitório, oferecia um rebuçado àqueles que acabavam de comer primeiro. No tempo da Quaresma deixei de levar rebuçados. Alguns alunos pediam:
- Senhor Padre, eu já acabei. Dê-me o rebuçado.
- Não, é Quaresma e não há doces para mais ninguém.
Durante o recreio seguinte, vieram perguntar-me:
- A menina Quaresma é de que turma?
- Quem?
- A Quaresma que tem ganho todos os rebuçados.

Vida de Capelão (12)

Um Capitão, extremamente religioso, estava escandalizado:
- Ó Sr. Capelão, já não há respeito como antigamente. Então o Sr. Permite que os senhores Alferes o tratem por tu?
- Nunca reparei nisso. Só sei que quando o Sr. Capitão reza a Deus com certeza O trata por tu também. Então porque não hão-de tratar o padre por tu, quando ele não é mais do que Deus.

Coração Sábio, Santo, Simples

Ano A - XVII Domingo Comum

Três perguntas podemos formular nesta liturgia dominical:


Também Deus me diz: Pede-me o que quiseres!
O que é que vou pedir a Deus, a exemplo de Salomão?
De que é que eu preciso eu?
O que é que posso pedir para que Deus me dê e Ele fique satisfeito comigo e eu com Ele?


Qual é esse tesouro mais precioso?
Qual é essa Pérola mias valiosa que vale tanto quanto temos e somos?
O Pe. Dehon dizia no seu testamento espiritual:
Deixo-vos o mais maravilhoso de todos os tesouros: O Coração de Jesus.
O melhor tesouro e o nosso coração,
a melhor pérola é o nosso coração.
Salomão pediu a Deus o bem mais precioso - um coração...


Que fazer?
A parábola diz que é precs procurar, encontrar, vender (desprender-se) e comprar (adquirir).
Para termos um tesouro ou uma péroa assim tão preciosos, isto é, um coração precioso, é preciso escrever-lo com 3 esses: ter um coração Sábio, Santo, Simples.
Salomão assim quis ter um coração Santo (inteligente), Santo (íntegro) e Simples (humilde).
Também o nosso coração, qual tesouro, pode ter 3 esses de SANTO, SÁBIO e SIMPLES.

A Melhor Jóia

Ano A - XVII Domingo Comum

Ao tomar a praça de Winsberg, Conrado III, duque de Franconia, permitiu às mulheres que saíssem, levando o que tivessem de mais precioso. Elas então pegaram nos maridos às costas, e o triunfador, comovido por este acto de amor conjugal, perdoou aos vencidos. Onde estiver o teu coração aí se encontrará o vosso tesouro, disse Jesus. É bom dizer que Deus é o nosso melhor tesouro, mas é melhor saber que nós somos o único tesouro de Deus. Ele bem sabe o que escolheu.
Conta-se que Pandita Nerhu, ao tratar com representantes da Igreja, a fim de conhecer os seus pontos de vista em assuntos de controvérsia, disse uma vez com perspicácia e respeito:
- Há uma coisa que de facto notei nestes cristãos, sabem o que querem.
Um cristão é uma pessoa que sabe o que quer. O homem vai-se construindo por meio de decisões. Elas formam a sua personalidade, definem o seu carácter e integram a sua vida. As ideias, estudos, leituras, inclinações, também influenciam e exprimem aquilo que cada um é, mas a base da pessoa são as suas decisões, as suas determinações, aquilo que faz diariamente ao escolher o seu caminho. Escolher é viver, e decidir-se é definir-se. Eu sou o que forem as minhas decisões.
A Parábola do Tesouro Escondido lembra-nos que afinal Deus é o nosso tesouro porque nós somos a sua melhor jóia. Para decidir-se é preciso saber o que se quer.

Ver Mais Longe

Ano A - XVI Domingo Comum

Já todos conhecem a história daquele judeu que depois de tanto combater o cristianismo, foi viver, durante algum tempo, no anonimato, numa comunidade cristã. Queria ver a vida real dos cristãos. Lá foi acompanhando as celebrações, ouvindo as pregações, seguindo o quotidiano daquela gente. Quanto mais reparava na falta de coerência, mais ficava pensativo. Anotou tantos aspectos negativos pois o trigo perdia-se no meio de tanto joio. Por fim tomou posição:
- Vivi com os cristãos e vi tanta miséria, muito fingimento. Mas se o cristianismo continua vivo, apesar de tudo isto, quer dizer que é uma obra de Deus. Agora acredito no seu valor.
Tal como num estabelecimento, há que distinguir o que está na montra e o que há no interior. A montra pode ter uma fraca apresentação: poeirenta, antiquada, desprezível ou descuidada. Só as pessoas muito decididas é que não se deixam desencorajar pelo que vêem na montra e ousam entrar para pedir, no interior, o que não viram exposto. E encontram sempre, numa gaveta, no fundo de um armário, num sótão cheio de pó.
A nossa vida cristã nem sempre é o que se pretende, ou o que se mostra, ou o que até aqui se tem vivido. Há muito joio. Se alguém ver apenas a mostra, isto é, ver-nos sair de uma missa dominical, ver-nos rezar, ver-nos viver em comum, fica logo desanimado. É preciso ter a coragem de pedir no interior o que não viu na montra.

sábado, 12 de julho de 2008

Criancices (11)

- Senhor Padre, esta menina estava ali a beijar a boca do namorado.
- É verdade? Como é que foste capaz? Não sabias que esse teu amigo tem a boca suja, pois há pico disse um palavrão bem feio.
A miúda retirou-se toda humilhada, limpando disfarçadamente a boca com as costa da mão...

Vida de Capelão (11)

- Quem me dera ser Capelão. Isso não é uma vida santa, é uma santa vida... Você não marcha, não faz oficial de dia, você não faz nada!
- Trabalhar para quê? Aqui pagam-me apenas por andar fardado...

A Semente é a Palavra


Ano A – XV Domingo Comum

A reflexão que partilho hoje é o resumo do grande sermão da Sexagésima do Pe. António Vieira, pregado na Capela Real, Lisboa, 1655.

O Semeador saiu para semear

Jesus salienta não só o facto de SEMEAR, mas também o acto de SAIR.
No dia da colheita hão-de ser contados não só os resultados da semeadura, mas também os passos dados para executá-la.
Para quem trabalha com Deus até o SAIR já é semear porque na obra de Deus até dos passos se colhe fruto.


Semeou, mas com pouca sorte, pois todos os tipos de criaturas se levantaram e se levantam ainda hoje contra a palavra de Deus:
- As criaturas racionais (os homens pisaram a semente do caminho)
- As criaturas instintivas (os animais, as aves comeram a semente)
- As criaturas vegetativas (as plantas, os espinhos sufocaram-na)
- As criaturas insensíveis (as pedras duras secaram-na)

A palavra é poderosa, mas porque vemos tantas pregações e tão poucas conversões?
A Palavra nos diz que cada semente lançada produziu cem.
Ah, se assim fosse…
Ficaríamos satisfeitos se a cada cem pregações se convertesse um coração…

Porque é que a Palavra pregada hoje não produz efeitos ou frutos?

Em quem está o defeito?
- No pregador?
- No Ouvinte?
- Em Deus?
Qual deles está a falhar?

1. A falha não pode ser de Deus.
Deus nunca falha. A parábola não diz que faltou sol ou chuva. A palavra não frutifica não por factores celestiais – a culpa é sempre nossa e não de Deus. Ele está sempre pronto a ajudar. Se a culpa não é de Deus, será então dos ouvintes?

2. Serão os ouvintes os culpados?
Não será muito provável, pois a palavra de Deus caindo na terra, ainda que não produza frutos produz efeitos (cresceu mas foi sufocada pelos espinhos ou secou nas pedras…)
Há ouvintes pedras – vontades endurecidas.
Há ouvintes espinhos – só ouvem para criticar, para ferir.
A falta de fruto não é da responsabilidade do ouvinte porque apesar de tudo a semente nasce…

3. Será por culpa do pregador?
O que pode falhar no pregador?
A sua pessoa, o seu conhecimento, o assunto que prega, o estilo, a voz com que fala?
A culpa não é da pessoa que prega, nem do estilo que usa nem do assunto que trata, nem do conhecimento grande nem da voz:
Moisés não tinha voz,
Amós era grosseiro,
Salomão falava de muitos assuntos,
Balaão dava mau exemplo,
a mula de Balaão não tinha nenhum conhecimento
e todos eles falando persuadiram e convenceram, pregaram a Palavra e produziram efeitos e frutos.

Então qual será a causa de que a palavra semeada hoje não produz fruto?
O problema é que nós não pregamos a Palavra de Deus.
Pregamos hoje palavras de Deus e não a Palavra de Deus.
Usar palavras de Deus até o diabo sabe usar, como nas tentações de Jesus no deserto.
As nossas pregações não produzem fruto nem efeitos porque não pregamos a Palavra de Deus, estamos sim usando palavras de Deus para pregar uma mensagem nossa, do nosso interesse e do nosso orgulho.

A pregação que aproveita não é aquela que dá prazer ao ouvinte mas a que o acorda para a vida da graça.
O que espero não é ficar contente com o sermão, mas ouvir e ficar triste comigo mesmo e sentir necessidade de converter-me.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ora et Labora

11 de Julho
Festa de SÃO BENTO, Padroeiro da Europa

- O Arado e a Cruz são os distintivos de São Bento
e, por inerência do seu patrocínio,
de todos os seus devotos ou protegidos.

- Orar e trabalhar,
Contemplar e agir.

- Faz da tua oração um trabalho, uma tarefa,
isto é, reza como um homem que trabalha.

- Faz do teu trabalho uma oração,
isto é, trabalha como um homem que reza.

- A oração não dispensa a acção
e a acção não dispensa a oração.

- Trabalha enquanto rezas
e reza enquanto trabalhas.

- Reza e trabalha:
ocupa o teu dia com estas duas ocupações.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Criancices (10)


Eu estava a dar uma aula sobre as invenções modernas:
- Algum de vocês é capaz de mencionar alguma coisa importante que não existia há cinquenta anos?
Um garoto vivo, sentado à frente, levantou imediatamente a mão e respondeu:
- Eu, senhor Padre.
- Não. Eu pedi coisas e não pessoas.
- Ah! Eu pensava que o senhor padre ia dizer que eu não era importante.

Vida de Capelão (10)

- Ó Capelão. Estava eu num Domingo de manhã cedo, na maior com a minha mulher quando umas visitantes de uma Seita Religiosa N. bateram à minha porta. Fiquei fulo e disse-lhes que em vez de andarem a interromper tal serviço que fossem fazer o mesmo para casa: que fossem fazer amor com os maridos. A partir daí nunca mais me vieram chatear. Explique-me lá: acha que elas ficaram escandalizadas comigo?
- Não. Pelos vistos elas até gostaram. Ainda devem estar ocupadas a fazer aquilo que lhes pediste.

Não levar duas túnicas

5ª Feira - XIV Comum

Do Evangelho de hoje saliento uma única expressão:


NÃO LEVEIS DUAS TÚNICAS

porque é

1- Sinal de pobreza, desprendimento

2- Sinal de simplicidade e modéstia

3- Sinal de prontidão, sem perder tempo para fazer as malas ou mudar de roupa

4- Sinal de perseverança, sempre igual a si mesmo

5- Sinal de cuidado e limpeza; nem é preciso mudar pois não se suja

6- Sinal de abandono; nem é preciso outra protecção contra o frio ou calor

7- Sinal de reserva para poder escolher a Cristo.
Não escolhe a roupa porque escolheu Cristo.

Semeador

Ano A - XV Domingo Comum

- O semeador:

- É cumpridor: faz o seu trabalho, semeia.
- É generoso: semeia ao desbarato, com generosidade.
- É justo: dá as mesmas oportunidades a todos.
- É acessível: vai ao encontro de todos.


- A semente:

- É igual para todos.
- É sempre útil para alguém mais não seja para os pardais.
- É sempre eficaz.


- Os terrenos:

- São todos diferentes, isto é, iguais a si próprio.
- São todos receptivos.
- Uns não estão preparados.
- Só produz quem é capaz de guardar a semente em si.
- Não interessa a quantidade do fruto:
só não pode desperdiçar a semente.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Semear ventos

3ª Feira - XIV Comum
Ontem ao ouvir o Profeta Oseias a dizer que Deus quer levar-nos até ao deserto e aí fala ao nosso coração, pensei que Deus falava com mimos, com ternura, com palavras doces... pois falava ao nosso coração.
Na continuação da leitura, hoje, Deus diz:
"Considero-te abominável... Contra ti se inflamou a minha ira..."
Mas afinal Deus fala ao coração, mas com toda a verdade e dureza. Ele chama atenção, quer corrigir.
Deus fala-nos ao coração, mas com palavras duras e exigentes.
Segundo o grande pregador Pe. António Vieira, a melhor pregação não é aquela que me faz ficar contente com o pregador, mas aquela que me faz ficar triste comigo mesmo porque me faz ver a realidade que eu sou e a necessidade de me converter.
É por isso que as palavras de Deus são tão duras e exigentes apesar de serem ditas ao coração.
Também não sabia que há muita gente a citar o Profeta Oseias sem saber. Hoje o trecho da 1ª leitura apresenta a frase: "Quem semeia ventos, colhe tempestades..."
Tanta gente repete estas palavras sem saber queem a pronunciou primeiro e há quanto tempo.
Nós colhemos aquilo que semeamos.
Então não nos queixemos.
Quem semeia ventos, colhe tempestades.
Quem semeia boas boas, recolhe flores...

Falar ao Coração

2ª Feira - XIV Comum
O Profeta Oseias, na 1ª leitura, põe na boca de Deus:
"Hei-de conduzir-te ao deserto e falar-te ao coração".
Que Deus tão carinhoso que nos afasta da confusão e nos leva até à sua intimidade!
Que Deus tão bondoso que nos comove falando ao nosso coração!
Quando Deus fala quer atingir não os nossos ouvidos, mas o nosso coração.
Escutar é assim uma questão de coração e não de ouvidos.
"Se hoje ouvirdes a voz do Senhor
não fecheis o vosso coração!

Semeando

Ano A - XV Domingo Comum

Contou um Rabino que havia dois irmãos que sempre viveram na cidade e nunca tinham visto nem um campo nem uma pastagem. Um dia foram dar um passeio pelo campo. À medida que caminhavam viram um agricultor a arar.
- Que coisa mais estranha. Este sujeito passa o dia andando para cá e para lá rasgando a terra. Porque haveria de destruir este belo chão?
Mais tarde passaram de novo no mesmo lugar e viram-no a semear o terreno arado.
- Esta aldeia não é para mim, disse um dos irmãos. As pessoas aqui comportam-se de modo irracional. Vou para casa.
Mas o outro ficou e depois de algumas semanas viu uma maravilhosa diferença: a terra cobriu-se de plantinhas verdes. Escreveu ao irmão para que voltasse. Aquele veio e ficou admirado. Com o passar dos dias a terra transformou-se num campo dourado de trigo maduro. Compreenderam então o comportamento do agricultor....Ao semear um saco de trigo, ele tinha colhido um campo inteiro.
É assim que Deus trabalha, concluiu o rabino. Nós, mortais, só vemos o começo do seu plano. Não podemos entender o plano total e o fim último da sua criação. Temos que confiar na sua sabedoria.
Este semeador é Deus que cumpre a sua missão e semeia com generosidade. Ele dá as mesmas oportunidades a todos. A semente é igual para todos, sempre útil para alguém, mais não seja para os pardais. Tem sempre capacidade de germinar desde que lhe dêem essa oportunidade.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Rainha Santa Isabel

4 de Julho


Quem semeia boas obras,
recolhe flores...

O MILAGRE DA RAINHA SANTA ISABEL


E o bom rei Dinis, se bem que muito caridoso,
De uma esmola por vezes a censurava suavemente,
Vendo trazer para ela, sobre a mesa,
Legumes grosseiros sem condimento.

Ora, um dia em que o rei, nas florestas vizinhas,
Com todos os seus vassalos caçava o javali,
A princesa, levando pães da sua cozinha,
No seu vestido os meteu como num avental.

E tendo apenas a sua afável graça por companhia,
Atravessou sem rumor a cerca do castelo;
Alimentando com uma só mão os velhos da montanha,
E com a outra segurando o seu vestido e o seu manto.

Mas eis que o Rei regressando da caça
Com os seus escudeiros, a encontra de súbito,
Curvado sob o peso, por entre a populaça,
E os pajens desviavam a cabeça com desdém.

E o bom rei lhe diz, um pouco irado: Minha senhora!
Como estais longe; mete-nos dó ver-vos assim.
Isso que trazeis aí, assim fatigada e pálida
Sem vos incomodar demasiado, poderei eu saber o que é?

E do seu cavalo, para a Santa ele se inclina…
Um pouco confusa então, mas com um ar calmo e doce,
Ela deixou cair o seu longo manto branco
E lhe diz: “Meu senhor, são rosas para vós!”

De facto, das grandes pregas do seu manto, rosas
Caíram aos seus pés em ramalhete suave-florido.
Umas em botão, outras todas abertas
E o bom rei Dinis pegou numa chorando.

“Isabel, diz ele, a fé não tem obstáculo.
Destas rosas o próprio Deus misturou as cores
Para agradar aos seus eleitos, Ele pode fazer um milagre
Vós semeais boas obras, vós recolheis flores!”

E o bom rei Dinis com a castelã
De rosas nos braços, regressou à mansão
E os perfumes divinos espalhados sobre a planície
Vinham beijar a sua fronte com a brisa da tarde…



Este milagre das rosas é cantado por um gracioso poeta, M. Edward Moutier de Rouen, no seu belo livro: “A Ideal Juventude” e citado em “Para além dos Pirinéus”, Por L. Dehon, Superior dos Sacerdotes do Coração de Jesus, H. & L. Casterman, Éditeur Pontificaux, Paris, Rue Bonaparte, 66, Tournai (Belgique)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

São Tomé

3 de Junho

Celebra-se hoje a festa de São Tomé.
As festas dos santos populares já terminaram, mas vendo bem, São Tomé devia ser incluído entre os santos populares porque deve ser o santo com quem nós nos identificamos mais. É tão popular porque toda a gente tem a ver com ele nas suas dúvidas, pouca fé, erros etc.
Não sei se somos nós que nos parecemos com ele ou se é ele a parecer-se connosco. Somos tal e qual. Qual o apóstolo mais citado? Sem dúvida São Tomé! E qual a citação? Com certeza, a frase - Ver para crer.
Já que o citamos tanto nesta frase tão popular, que saibamos também citá-lo numa outra frase sua, mas mais positiva: a sua confissão de fé - Meu Senhor e Meu Deus!
Façamos outra reflexão: O distintivo de São Tomé é o ESQUADRO de construtor e a Lança. São dois sinais antagónicos: A lança que foi a sua destruição (martírio) e o Esquadro de construtor pois, segundo a tradição, ele constuiu por suas próprias mãos um templo ou igreja. Dois sinais, lado a lado, um de construção, outro de destruição, um para edificar, outro para derrubar, mas ambos mostram a maneira como São Tomé deu a sua vida na edificação da igreja ou da comunidade... Também nós somos construtores do mesmo reino, também temos o nosso próprio jeito para dar a nossa vida e o nosso contributo na construção desta comunhão...
Finalmente: São tomé ficou famoso pela sua falta de fé, mas soube tirar partido dessa falha.
Atrevo-me a dizer que São Tomé ensina-nos mais com a sua dúvida de fé do que muitos dos discípulos com a suas confissões de fé. É preciso aprender dos erros, tirar proveito das dúvidas, das desconfianças. São Tomé ensina-nos assim que ser grande não é nunca errar, é aprender com os erros.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Reagir

4ª Feira - XIII Comum
No trecho do Evangellho de hoje, os demónios reagem à presença e autoridade de Jesus:
- Que tens a ver connosco...
Esta reacção é uma constante nos evangelhos. Os espíritos impuros, os demónios, os adversários ou inimigos de Jesus reagem sempre à Sua presença.
Isto quer dizer que ninguém fica calado, indiferente, passivo diante de Jesus. Há que reagir, declarar-se, tomar posição.
Só os neutros, os medíocres, os que não têm personalidade, é que nada dizem, nada fazem, não reajem.
Hoje a lição vem dos demónios: diante de Jesus eles reagiam, não podiam ficar calados.
E nós? Não seremos melhor do que eles? Não podemos calar ou ficar parados...

terça-feira, 1 de julho de 2008

Bebidas de Verão

O tempo de veraneio chegou. Para evitar a sede ou a aridez da nossa vida, proponho o consumo destas sete bebidas. Fica ao critério de cada um, estabelecer a posologia, isto é, as quantidades, doses ou frequências de cada uma delas, consoante a sua sede.

1. A água da transparência
É a bebida por excelência. Cada vez mais, valorizamos as pessoas que manifestam exteriormente aquilo que de verdade são por dentro. É preciso beber copiosamente da água da transparência para que, todos os que nos rodeiam, possam aproximar-se de nós sem temor algum. Só os puros de coração verão a Deus no rosto de cada irmão.

2. Cocktail de cordialidade
Não interessam tanto os ingredientes deste cocktail, mas sim a maneira de o servir – serve-se com o coração. Saboreemos, neste tempo, o cocktail da cordialidade como o melhor contributo para que muitas pessoas se sintam melhor acolhidas. É pela cordialidade que se conquista o bem-estar da nossa sociedade.

3. O licor da doçura
O trabalho endurece-nos e a rotina de todos os dias envelhece-nos. É preciso encher o copo de licor da doçura. Qualquer boa acção, por mais pequena que seja, refresca o nosso sangue e permite sonhos novos.

4. O vinho de felicidade
A felicidade é algo que se contagia onde quer que uma pessoa se encontre. No trabalho, no descanso ou no caminho, a alegria que brota do interior anima tudo e todos.

5. O champanhe da amizade
Brindar com o champanhe da amizade é dar lugar ao diálogo, à harmonia e à festa. É estimular o respeito, a tolerância, o conhecimento e o interesse por quem, como eu, faz da vida uma festa.

6. O café da oração
Ao sair de casa ou depois das refeições, no intervalo do trabalho ou ao meio da tarde… o café da oração ajuda a digerir toda a jornada. É uma boa oportunidade para estar com o Amigo.

7. O sumo da paz
Quando se fala muito de paz quer dizer que precisamos muito dela. Pode fazer-se este sumo com toda a variedade de frutas: palavras sinceras, sentimentos verdadeiros, olhares bondosos, juízos respeitosos. Beber o sumo da paz é deixar-se invadir interiormente por aquilo que faz dilatar o nosso coração.

Vida de Capelão (9)

No meu dia de folga, na minha comunidade religiosa, faltei às orações da tarde. Ao começar pontualmente o jantar, o Superior adverte-me:
- Tu não sabes a hora das orações, mas não esqueces nunca a hora do jantar.
- Caramba - digo-lhe eu - uma pessoa também não pode ter todos os defeitos...

Criancices (9)

Sempre encontrei crianças que faziam constantemente queixinhas. Já farto de tanto ver apontar para os outros, perguntei:
- Porque é que estás a apontar com tantos dedos?
- Eu só aponto com um dedo. Como é que o Senhor Padre diz isso?
- É que quando apontas com um dedo para os teus colegas, os outros quatro dedos estão a apontar para ti. Já reparaste nisso?

Aprender a Ser

Ano A - XIV Domingo Comum

O filósofo Stanislaw Grygiel contou que uma vez o então Cardeal Wojtyla, mais tarde o Papa João Paulo II, foi a uma pequena paróquia fazer uma visita pastoral. Chegou um pouco antes da hora prevista. Entrou na igreja onde o Pároco estava a ensinar o Catecismo a um grupo de crianças. Saudou a Cristo no Sacrário e depois perguntou aos meninos:
- Quem é que quer dizer o que é que eu vim fazer aqui hoje?
Um pequerrucho, de uns sete ou oito anos, levantou o braço:
- Eu sei. Você veio para aprender alguma coisa como nós.
O Cardeal, humildemente confirmou, sentou-se ao seu lado e pediu ao Pároco que continuasse a sua lição.
E Jesus, lá no Sacrário deve ter exclamado uma vez mais:
- Eu Te bendigo, ó Pai, porque revelastes estas verdades aos pequeninos.
As crianças têm capacidade de acolher a verdade pois são maiores do que pensamos. Por outro lado, Deus é acessível. Ele faz-se pequeno para que todos possam crescer com Ele.
Só se aprende com humildade, com mansidão e com o Coração:
- Aprendei de mim... repete Jesus
Aprender a quê? Não a fazer milagres, a falar como Ele, a curar doentes, a andar sobre o mar...pois só Ele cura, só Ele é o Verbo. Aprender sim a ser manso, a ser humilde e a ser coração.